Capítulo Quarenta e Oito

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O capítulo a seguir descreve cenas de agressões contra mulheres e não é recomendado para todos os públicos

Jennie Kim

O som do relógio era perturbador. Eu queria arranca-lo da parede e joga-lo o mais longe que eu conseguisse.

Minha respiração estava terrivelmente controlável, e meus batimentos cardíacos estavam normais. Eu devia estar um poço de nervosismo, mas consegui manter a calma. Se eu demonstrasse medo, ou arrependimento, ele poderia usar isso contra mim.

Um copo de água estava sobre a mesa. Estava gelada. Eu não queria beber nada que viesse dele, então o deixei ali mesmo, sujando a toalha da mesa.

Meu pai estava calmo, mais calmo do que eu esperava. Sorria como um homem honesto e me olhava com um falso olhar de admiração.

Chitthip estava parada próxima à porta do banheiro, cutucando os dedos. Desde quando eu cheguei, ela não saiu dali, muito menos me dirigiu uma palavra sequer, a todo momento, me olhou com pena, exato, pena, e sempre dava um suspiro cansado. Suas roupas, assim como as de meu pai, não me pareciam nos melhores estados, o que me fez pensar se ele havia conseguido o dinheiro de volta, ou estava na miséria. E se ele estava, isso significa, que o tempo que Lisa esteve aqui, ela também estava passando pelas mesmas situações.

Desde o momento que passei por aquela porta, até me sentar nessa cadeira, eu não consegui dizer uma palavra sequer. Não em relação ao ocorrido. Ele me perguntou sobre a empresa, sobre Lisa, mas não tocou no assunto. No assunto que eu vim especificamente tratar, porém, não consigo encontrar a forma certa de colocá-lo contra a parede.

Eu dei minha cara a tapa e disse que ele iria pagar pelo que fez. Mas como? Além de uma memória de uma bêbada, as marcas não são o suficiente para colocá-lo nas grades.

Respirei normalmente e o encarei com meu pior olhar. Isso o causou algum efeito, já que o mesmo engoli a seco e endireitou a postura.

Estava na hora, Kim, você precisa, ser forte.

Ajeitei minha postura na cadeira, e comecei a retirar o pano em meu pescoço. Seu olhar, assim como de Chitthip, acompanhou meus movimentos. Ambos começaram a soar frio quando as primeiras marcas apareceram.

— Eu preciso tratar de um assunto especial com você, pai. — Eu nunca dei tanta ênfase em uma palavra como eu dei agora. Cruzei as pernas tentando parecer ainda mais poderosa, e coloquei lentamente o cachecol sobre a mesa, próximo a sua mão. Ele estava em puro choque. Suas mãos tremiam um pouco, mas ele tentava controlar, e o suor frio já começava a descer por sua face. Eu o farei molhar o carpete todo. — Está se sentindo bem, papai?

Cada vez que eu profetizava essa palavra, eu podia sentir o aperto em seu peito. O sentimento de culpa talvez, ou o de arrependimento por não ter me matado. Mas de toda forma, ele não conseguia mais olhar diretamente para mim.

— C-Chitthip por... por favor, querida, vá para o nosso quarto. — Sua voz falhou diversas vezes. Chitthip recusou balançando a cabeça, mas o olhar que ele mandava em sua direção, a fez começar a se movimentar.

Eu não seria trouxa. Não deixaria a única testemunha ir embora assim. Caso ele tente algo, obviamente, não será na frente dela. Minha é sua esposa, mas não é cruel o bastante para presenciar algo contra mim e não tentar intervir.

— Ela fica. — Disse entre os dentes, sem desviar o olhar do monstro em minha frente. Quando o mesmo tentou argumentar ou questionar, levantei minha mão o obrigando a ficar quieto. — Ela fica!

— Tudo bem, se deseja assim.

Como consegue ser tão falso? Como consegue ser tão hipócrita? Como consegue manter essa postura, mesmo depois de tudo que fez, e ainda tem a ousadia, de tentar tornar o clima amigável?

Yes, Mommy | JenlisaWhere stories live. Discover now