CAPÍTULO 6: SENTIMENTO

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DECKARD SHAW

— Tem certeza que isso aqui vai me segurar por muito tempo, Hobbs? — implico

— Tá esperando que alguém venha te buscar? — ele me olha, sorrindo debochado — O irmão tá preso e seu bichinho de estimação está com a verdadeira família, agora, então eu acho que você vai passar bastante tempo sozinho. Aproveite. — se retira

Eu não daria o gostinho para aqueles agentes, de me verem entediado, mas com o passar dos dias a coisa foi ficando inevitável. Pensava em minha mãe e no que ela estaria se metendo, agora que seus dois filhos estavam enjaulados. Pensei em Hattie e tentei entender como foi que ela chegou ao Toretto e na ideia de que Amélia era sua irmã morta. Quando Owen souber disso, teremos um longo caminho a percorrer. Owen sempre foi o mais passional de nós três e Amélia foi para ele, o que Hattie é para mim. Já perdi as contas de quantos namoradinhos da Amélia ele já amedrontou, quantas festinhas que ele invadiu só para ficar de olho nela. Por um momento, cheguei a me questionar de onde aquele sentimento todo saía, mas depois tudo foi só se confirmando. Eles dois são irmãos de alma, já Amélia e eu não somos assim.

Quando Amélia chegou na família, eu já era militar e assumia o posto de chefe de família para Owen e Hattie, ajudando minha mãe a manter os dois na linha. Fiz o mesmo com Amélia, ensinando a ela tudo o que era necessário para que ela vivesse como uma Shaw. Ela sempre teve ideias insanas e a loucura parecia perseguir sua vida, sempre com o que eu gosto de chamar de ideias suicidas. Eu tinha duas opções: passar a vida toda atrás dela ou a ensinava a se virar pelo mundo. Optei pela segunda opção, confiando nela e em seu caráter, mas embora eu tenha sido como um mentor para ela, eu não conseguia ser como Owen e Hattie e vê-la como uma irmã mais nova. Eu me importo com ela, claro, a amo e a tenho como parte da minha família, mas não é nada fraternal como com meus irmãos. Eu vejo nela uma grande amiga e uma jovem corajosa, que não mede esforços para proteger quem ama e que entrega tudo o que for preciso pela família.

Quando aos 21 anos, ela se declarou para mim, eu comecei a perceber que ela também era confusa sobre o que eu representava para ela. Um amigo, um irmão ou um protetor? De fato, eu era mesmo tudo isso, mas tinha alguma coisa que ia além disso. Decidi usar o fato de eu precisar me afastar como um trunfo. Ela logo se esqueceria de mim e resolveria sua confusão sentimental, era o que eu esperava. Hattie insistia em me dizer que seu sentimento era decidido, intenso e verdadeiro e isso gerava uma discussão de horas entre nós dois. Eu explicando o porquê desse sentimento ser uma confusão e ela me dizendo que Amélia sabe muito bem o que sente.

O que eu acho?

Amélia tem um péssimo gosto para homens. Todos os seus namoradinhos eram fracassados, metidos a bad boy, que achavam que brincar de gangster era algo foda de se fazer. Mike Jones, seu melhor amigo, era um desses caras. Galanteador, metido a macho alfa, piadista e tudo em um pacote só. Ele nunca gostou de mim e a recíproca é muito verdadeira, acredite. Ele não passa de um merda qualquer, sem colhões de verdade, que está sempre se metendo com gente errada e Amélia e Laura são obrigadas a livrar a bunda branca dele. Mike sabe que Amélia faz de tudo por quem ela ama e parece se aproveitar disso sempre que pode — quando apronta uma, o número dela está sempre na discagem rápida.

— Amélia! — digo a observando dormir, nua, ao lado do babaca do Michael — Levanta! — jogo um copo d'água em seu rosto

— O QUE? — ela se assusta e se senta, cobrindo o corpo com um lençol — O que tá acontecendo?

— Temos treino hoje e você me deixa esperando pra sentar nesse babaca? — franzo o cenho

— Deckard?! — ela me olha envergonhada e tenta se cobrir mais — Como foi que você entrou aqui, peste?

Bring Me Back - O Retorno de TorettoOnde histórias criam vida. Descubra agora