XXI

71 13 8
                                    

Agachei e peguei uma linda florzinha branca que crescia no jardim. A trouxe até o nariz, inutilmente, porquê por algum motivo, nunca consigo sentir seu cheiro.

Levantei e olhei para a porta de casa, e de lá saia um homem alto, magro, mas nem tanto, com longos cabelos escuros, presos em um coque, e um sorriso encantador, capaz de iluminar o mundo.

- Olha, papai.- Mostrei a flor que a pouco tinha pegado.- Encontrei mais um mosquitinho!- Sorri.- Ela não é linda?- O homem abriu mais seu sorriso, e passou as mãos no meu cabelo.

- É sim, meu amor, ela é linda! Como você.- Admitiu, se ajoelhando ao meu lado.

- Deve ser muito legal ser uma flor!- Afirmei, encantada.

- Certamente! Então você não devia encurtar a vida delas as arrancando.- Constatou. Pensei. Acho que papai tem razão. Se eu fosse uma flor, ficaria muito chateada se me arrancassem de perto da minha família, amigos e quem eu amo! Me arrependi.

- Tem razão! Podemos plantar ela de novo, papai?- Perguntei esperançosa. Ele fez que não com a cabeça, me deixando meio triste. Ao menos agora sei, e nunca mais vou arrancar nenhuma flor.

- "Se você ama uma flor, não a colha. Porque, se você colhe-la ela morre e deixa de ser o que você ama. Então, se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação."- Olhei para papai, totalmente encantada.- Meu pai me disse isso uma vez quando tinha sua idade. Sempre amei essa frase! Não sei bem de onde ela saiu, mas é muito reconfortante! Não acha?

- O que isso quer dizer? A frase?

- Um dia você irá entender, minha filha!- Sorriu e se levantou.- Agora vamos, antes que sua mãe vire uma fera!

- Não tenho medo de feras! Elas são legais!- Me levantei também, limpando meu short que estava cheio de terra.

- Ah, não?- Neguei.- Então não vai ter problema se eu te pegar!- Engrossou a voz e veio em minha direção. Corri para casa, rindo.

- Para, papai!- Gritei, ainda correndo.

- A menina vai cair, amor!- Disse mamãe, surgindo na janela.- Se ela cair eu não vou querer nem saber!- Ameaçou, e foi exatamente o que aconteceu dois segundos depois. Mas não me machuquei, continuei correndo até chegar na mamãe e ela me pegar no colo.- Vocês vão me enlouquecer!- Tentou brigar, mas caiu na gargalhada também.

Uma lágrima desceu por minha bochecha. Quando foi que minha vida virou esse caos? Penso que tudo seria tão mais fácil se papai não tivesse morrido.

- Srta. Rale?- Levantei a cabeça.- Desculpe, Samantha. Então, como que as pessoas não desconfiavam sobre o que rolava na sua casa?- O Oficial Bayer quis saber.

- A gente se mudou muito durante esses últimos anos! Sempre que começavam a desconfiar de algo, Felipe arrumava as malas e a gente se mudava para uma cidade ou país diferente! Ele dizia que era por conta do trabalho, mas não acho que as pessoas acreditem muito nisso!

- A quanto tempo vocês se mudaram para cá?

- Cerca de uns 6 meses, eu acho.- Forcei minha memória. Tanta coisa aconteceu nesse tempo.- Provavelmente nos mudaríamos de novo em uns dois meses! Se as coisas fossem como das outras vezes.- Abaixei o olhar.- Quando minha mãe e Sarah ainda estavam conosco.

- E como era o relacionamento dele com Sarah?

- Com certeza, não como deveria ser uma relação de pai e filha! Ele a insultava, a deixava sem comer e abusava psicologicamente dela, dizendo todo tipo de crueldade imaginável. Mas nunca bateu ou encostou nela, até aquele fatídico dia!- As lágrimas já ameaçavam descer.

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now