XLIV

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Noah

A quem eu quero enganar? Não, eu não me sentia nem um pouco feliz sabendo que Sammy estava sofrendo. Nem a mínima parte pequena e escura do meu coração se alegrava ao vê-la derramando lágrimas.

A verdade é que eu queria não me importar, queria muito. Queria ser indiferente ao choro contínuo e doloroso que ecoava pela casa durante todas as noites. Ser indiferente a sua feição de desolamento e destruição. Indiferente ao seu olhar opaco e sem vida.

Eu sei que a machuquei quando terminei tudo, mas as coisas não podiam continuar do jeito que estavam.

Eu tentava me manter forte a sua frente, não demonstrando o quanto eu também estava destruído. Apenas para não usarmos nossa vulnerabilidade para nos unir novamente, como tínhamos o defeito de fazer.

Mas acontece que todas as pedras tem suas rachaduras, e em momentos como agora, quando eu estava "sozinho", deitado no escuro, sentindo a solidão me assolar, eu simplesmente não conseguia me conter. Era quase cômico o quão inconscientemente eu começava a derramar dolorosas e lentas lágrimas, livres para levarem consigo a dor que eu tanto seguro durante o dia.

Tentava me acalmar, afagando o cabelo dourado e cheiroso de Sarah, que estava com a cabeça deitada em meu peito e um dos bracinhos sobre a minha barriga.

A garota insistira em dormir comigo, por mais que eu, inicialmente, não houvesse gostado nem um pouco da ideia, pude enxergar nos olhos de Sammy uma faísca de ansiedade, ela queria ficar sozinha.

Talvez para pensar, me odiar, ou chorar... De qualquer forma, a companhia do pequeno raio de Sol não era nem um pouco desagradável. Era até bem-vinda. Do contrário, eu estaria me afogando em um mar de solidão nesse exato momento.

Suspirei, piscando rapidamente para afastar as lágrimas. Eu tinha certeza de que havia tomado a decisão certa, e não vou voltar atrás quanto a isso, mas... Não suportava mais ouvir os soluços de Sammy.

Ela estava sofrendo, muito, e eu não podia fazer absolutamente nada! Lutei com a intenção de ir até seu quarto e a apertar entre os meus braços, até que o mundo se explodisse.

Mas eu a amo, e por isso terei de ser forte.

A questão é que não daria para as coisas ficarem como estão, e eu precisava tomar uma providência.

E, de maneira quase imediata, uma ideia iluminou minha mente como um farol que brilha durante a noite em um campo vasto. Me levantei, inquieto. Era isso! E precisava ser feito já, para evitar situações desconfortáveis e constrangedoras.

Peguei uma mochila grande que guardava em um canto do quarto. A coloquei na cama, aberta, e passei a separar algumas peças de roupa, sem me preocupar muito em quais eram.

Soquei tudo dentro da mochila, a maior quantidade que consegui. Em seguida, vesti uma camisa qualquer, pegando as chaves da Harley que pousavam sobre a cômoda.

Deus... O que estou fazendo?

Exitei por um momento, pensando se realmente era a maneira certa de lidar com as coisas... Me parecia um pouco drástico e inquietante, porém, em um sentimento mais do que egoísta, eu preferia correr daqui para o mais longe possível, somente para não ter que encarar a figura sombria e triste que Samantha se tornara.

E como um combustível, que me impulsionou com uma força sobre humana, outro soluço ecoou pelas paredes do apartamento, ricocheteando o silêncio assustador. E então, mais lágrimas sendo derramadas puderam ser ouvidas.

Não esperei mais nada, querendo me ver livre dessa tortura mental. Abri a porta do quarto e observei o corpinho miúdo se Sarah espalhado pela cama grande. Seus cabelos pareciam uma bagunça em sua cabeça, e sua respiração fraca me fazia questionar se ela estava mesmo respirando.

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now