XXXI

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Samantha

Eu não sabia o que pensar quando adentrei os portões da delegacia, cansada, suada, com falta de ar e a ponto de desmaiar. Porém eu não ligava, a ansiedade já começava a me torturar, e era bem melhor sofrer com coisas físicas.

Lucas e Ana acabaram ficando alguns passos atrás, mas logo me alcançaram. Eles também estavam curiosos, mas não como eu... Nem de perto.

Andei até a moça já conhecida da recepção, e nem precisei dizer nada. Ela apenas sorriu e avisou que chamaria o Oficial Bayer e Smith. Agradeci aos céus por não precisar falar agora.

Os segundos se arrastavam como se fossem intermináveis horas, e eu dava passos apressados por todo o lugar, com a inquietação me consumindo.

Se Felipe me achou, não vai ser muito diferente do que era... Ou vai? Não, ele não machucaria a princesinha dele... Dei risada, achando realmente graça desse pensamento tosco e sem sentido. Presta atenção, Samantha, ele já machuca!

E se Sarah tiver morrido mesmo, como meu padrasto falou? Não, Deus, não permita que seja isso... Mas do contrário, o que mais poderia ser?

É o Felipe, certeza, ele subornou os policiais, ele me achou, e vai acabar comigo... Ele vai me espancar e voltar a fazer da minha vida seu inferno particular... Eu vou perder meus amigos... Eu vou perder o Noah!

Funguei, sentindo meu coração ficar bem pequenininho. Eu não posso perder o Noah! Antes, querendo ou não, era sofrido, mas eu não podia sentir falta de algo que nunca tive, de um sentimento criado apenas na minha cabeça, de uma pessoa fruto da minha imaginação fértil que seria o ser mais importante da minha vida... Eu não consigo mais ficar sem ele! Mais cedo eu disse que não precisava dele, e seus olhos de mágoa me quebraram completamente, mas eu estava certa! Eu não preciso dele, eu necessito dele como necessito do ar que respiro! É muito mais que apenas precisar...

Lucas e Ana, parados ao meu lado, também aguardavam apreensivos, e quando, finalmente, vi a por da sala já conhecida por mim se abrir, não tive forças para ficar em pé.

Minhas pernas pararam de me obedecer, me fazendo cair no chão, com a mão na boca e lágrimas escorrendo como cascatas. Meu peito passou a queimar e meu coração batia tão forte que doía.

- Meu Deus!- gritei entre os soluços, chorando alto. Não acredito que isso esteja mesmo acontecendo...

- Sam!- sua voz soou baixa e cansada, mas ainda sim eufórica em me ver.

- Sarah...- murmurei, vendo o pequeno ser sujo e descabelado se soltar das mãos do Oficial Smith e correr em minha direção. É ela... É mesmo ela! Ajoelhei, abrindo os braços e apertando forte seu corpinho quando o mesmo se chocou a mim.- Obrigada, Deus! Obrigada!- gritei para os céus, alisando as costas da minha irmã.

Afinal, o senhor dos céus não me odiava tanto assim. Eu estava tão feliz de ter minha Sarah nos meus braços de novo, que era capaz de soltar fogos! Não, fogos não chega a ser nem metade da felicidade que eu estava sentindo.

Eu não ligava se ela estava fedendo, se estava suja, com o cabelo torto e bagunçado, usando um vestido simples azul turquesa que era bem maior do que necessário, o mesmo parecia ter sido pisoteado na lama, e seu corpo todo estava coberto pelo que eu julgo ser terra, ou gracha. Sem sapatos, suas meias completamente podres estavam rasgadas, e ela parecia mais triste que o normal, mas ainda sim, era minha irmã.

Chorei como se não houvesse amanhã nos seus cabelos, não me importando com a opinião alheia. Depois de tanto tempo, ela estava aqui... Me doía ver seu corpo tremendo e ela num estado lastimável. Minha mente me amaldiçoava, criando e recriando cenários onde ela sofria e era maltratada de várias maneiras diferentes.

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now