XLV

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Samantha




Vazia. Era como eu estava me sentindo, completamente vazia.

Sentada, em um completo breu. A cama não me era mais tão macia, comer não me era mais convidativo, tomar banho não me parecia atraente..., viver não me era mais um desejo.

Me sentia tão patética nesse momento, parada no escuro como uma idiota. Ele não vai voltar, eu tenho que aceitar isso!

Faziam exatos seis dias, dezesseis horas e oito minutos desde que eu o ouvi sair por essa porta. A mesma que eu passava horas sentada, esperando ser aberta e Noah passar por ela com um sorriso presunçoso nos lábios, me dizendo que tudo não passava de uma brincadeira e que ele não havia me abandonado.

Mas não aconteceu.

Não sei se posso o crucificar por isso... Não sei se tenho esse direito... Na verdade, não sei se tenho o direito de nada.

Estava me sentindo péssima! Fisicamente cansada, mentalmente exausta e espiritualmente morta. Sei que pode parecer mentira, mas não é.

Eu não sabia se Sarah estava bem! Não sabia se estava com fome, com sono, com sede, entediada, deprimida, desanimada, não sei de absolutamente nada!

Deveria estar me dedicando a ela, cuidando dela, eu sei que devia, mas... O que eu posso fazer? Eu simplesmente não consigo.

E eu tentei ligar, juro que tentei. Mas não funcionou da primeira vez, e nem na vigésima quinta. Chegou um momento em que eu apenas caí na real, sabe? Me conformei.

Sei que ele não vai me atender, sei que não vai voltar, sei também que nunca mais poderei toca-lo, sei que não sou mais amada por um erro unicamente meu...


E ainda sim, eu continuava aqui sentada em frente a porta, no escuro, completamente sozinha.

Meu coração pulsou em excitação, uma gotinha mísera de felicidade que fez cada centímetro do meu corpo se arrepiar. Parecia que pela primeira vez em bastante tempo, eu estava respirando... Porque em meio ao silêncio, eu ouvi o barulho de trinco na porta.

Me levantei em um pulo, arrumando vagamente meu cabelo que deveria estar um desastre. Funguei e passei a mão pelo rosto, enxugando os vestígios de lágrimas antes caídas.

Um sorriso esticou meus lábios, e a emoção fez meu estômago revirar... Mas não durou muito. Quando finalmente a figura adentrou o apartamento, senti vontade de correr e pular sobre ela, porém algo dentro de mim se congelou ao notar mais outra figura, e depois outra, e outra, e então mais uma.

A felicidade deixou meu corpo na mesma velocidade em que chegou, me estremecendo com outro sentimento bem mais conhecido por mim, medo.

Observei enquanto eles entravam na casa, a passos firmes e decididos. A medida em que se aproximavam, uma parte de mim se escurecia, e minha visão já se encontrava turva.

- O-O que? - foi apenas o que conseguiu se libertar de minha garganta fechada.

Eles passaram por mim, direto, como se eu não importasse, como se eu não estivesse ali ou fizesse diferença, como se eu não fosse nada.

Pareciam saber exatamente o que fazer e para onde ir, e me atormentou a certeza de que sim, eles já estiveram aqui antes. Pude contar cinco, todos altos e fortes, imponentes, confiantes, inabaláveis, sinistros e maldosos, sem expressar emoção alguma. Vestindo roupas pretas que apenas serviam para tornar suas figuras mais sombrias.

Eu sei quem eles são, eu sei que sei... Ou melhor, de quem são...

Mas eu simplesmente não conseguia acreditar que isso era real, que estava acontecendo mesmo. Tudo se arrastava em câmera lenta, e eu simplesmente perdi totalmente o controle do meu corpo. Só conseguia derramar dolorosas e silenciosas lágrimas, sendo abraçada por um frio assustador e repentino.

Era possível eu estar sonhando?

Porém, algo dentro de mim ardeu como uma fogueira quando me dei conta de para onde eles estavam indo. Não! Isso não! Pelo amor de Deus, isso não.

Corri em direção a escada, atrás da fila estupidamente organizada em que eles mantinham a formação.

- Nāo, por favor, não! Eu imploro. - os alcancei no corredor dos quartos, sendo empurrada para trás com força ao me aproximar do último capanga.

Eles abriram a porta do quarto onde Sarah dormia, sem pensar, sem exitar, eles sabiam onde ela ficava. Marcharam para dentro do cômodo, despertando minha irmã com o som de suas botas batendo contra o carpete.

- O que estão fazendo? V-Vocês não podem fazer isso! Por favor. - Um deles se aproximou e puxou Sarah para seus braços, a segurando com tanta força que eu podia jurar que a quebraria ao meio. - Não! Por favor, por favor! - gritei, me derramando em lágrimas.

- Sam? O que está acontecendo? Quem são eles? - seus olhinhos magoados me quebraram o peito, e os segundos pareceram correr na velocidade da luz. Eu a via se afastar de mim, levando o que restava da minha sanidade consigo. - Sam, não deixa eles me levarem! Me ajuda, Sam! - passou a chorar, se debatendo. - Eu não quero voltar pro papai!

Estremeci ao me dar conta de que não, não era um sonho! Era um pesadelo, e o de pior tipo, o real.

Corri até ela, tentando puxa-la dos braços daquele monstro, que nem ao menos pareceu afetado pelos meus esforços.

- Nāo levem ela, por favor, levem a mim! É a mim que ele quer, a culpa é minha! Pelo amor de Deus, não façam isso comigo. - implorei mais um vez, me sentindo como um fantasma inútil e sem vida. - Por favor! - gritei, com a voz tão trêmula que duvido que alguém pôde entender.

Nada, eu não era nada para eles. Apenas o som de suas passadas e do meu choro, combinado com o de minha irmã, eram ouvidos, e o desespero tomava conta do meu ser, me cegando.

Rapidamente, me coloquei em frente a porta, com a idéia tola de que isso poderia me ajudar de alguma forma, ou empedi-los... Uma piada.

- Sai da frente. - pela primeira vez, um deles abriu a boca, e sua voz soou tão tenebrosa e fria que eu perdi a consciência por breves milésimos.

- Não! Eu não vou deixar vocês levarem ela. - apertei minhas mãos trêmulas, me firmando no rosto de um deles, tentando não desmaiar.

Eles riram. Por que eles riram? Não tive muito tempo para ponderar sobre isso, pois em segundos, fui acertada por um soco, e empurrada tão fortemente que minhas costas se chocaram contra a parede do corredor.

Levei as mãos até a boca, sentindo algo líquido escorrer por ela, sangue. Levantei os olhos, desacredita, e ainda sim, nada surpresa.

Me arrastei até o elevador, gritando e implorando para que não levassem ela, mas de nada adiantou. Quando enfim cheguei, a porta já se fechava, e a única coisa que ouvi antes de eles sumirem de vez, foi outra voz:

- Vamos voltar para buscar você. - soltou, abrindo um sorriso nojento.

Deixei que meu corpo caísse no chão, chorando igual um bebê. Eles não podem fazer isso comigo! Não agora, não depois de tudo que passei.

Fui tola ao pensar que tudo havia mudado mesmo, me iludi com a idéia de que poderia levar uma vida normal.

After The Storm [TERMINADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora