Capítulo XI

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Samantha

É revoltante que eu tenha que viver nessa realidade totalmente caótica e desumana. A cada dia que passa mais saudades de Sarah e mamãe eu sinto! Sou assombrada por lembranças delas e por pesadelos em que elas estão me abandonando.

Mas é difícil me concentrar em organizar meus pensamentos com Felipe me fodendo! Física e psicologicamente.

Muitas pessoas na sociedade machista e mal evoluída de hoje, dizem que os assédios sexuais são culpa das mulheres, mas a verdade é que meu jeito e minhas roupas não são um convite para ser assediada. Eles dizem isso porque não sabem como é a sensação de se sentir presa, se sentir vulnerável ao mundo, como se você não fosse nada!

Palavras podem destruir uma pessoa! Ninguém tem o direito de criticar a dor do outro se não a sente! Saber que essa é a realidade de muita gente e eu não poder fazer nada contra isso me dá um ódio tão grande, afinal, eu não consigo ajudar nem a mim mesma.

Eu nunca tive a chance de descobrir os prazeres de ser uma adolescente! De ser uma virgem do século vinte e um, de sair para ir ao cinema com meus amigos, de ir a uma festa do pijama conversar sobre coisas banais com minhas amigas. Mas essa sempre foi e sempre vai ser minha realidade.

A verdade é que as pessoas não aceitam que isso só acontece porque ninguém dá a devida atenção e importância a esse assunto tanto quanto deveria. Elas só viram a cara! Afinal, não é com elas mesmo, então que se dane, não é? Mas quando acontece com elas e ninguém dá importância, como ela ou ele não deu antes, ela/ele fica realmente sabendo como é isso.

As vezes a vida arranca de nós todos os sorrisos e só sobra espaço para tristezas. Tem vezes que eu nem percebo que estou chorando, como agora!... E tudo bem, porque lágrimas não doem, o que doe é o motivo que as fazem cair!

Eu só queria um motivo para sorrir de verdade! É pedir demais?

Nesse momento estou pronta para tomar banho. Fiz um coque frouxo no cabelo e retirei minhas roupas. Estava indo ao banheiro, quando parei em frente ao espelho do meu quarto.

- Tão desprezível! Não é difícil saber o porque de ninguém nunca querer você!- Disse a mim mesma, em frente ao espelho, analisando meu corpo nu. É surpreende como nada em mim é bonito! Meus seios são feios, minha bunda é feia, eu me sinto gorda mas ao mesmo tempo magra demais, meu rosto é feio, meu nariz é feio, meus olhos são feios, minha boca é feia, até mesmo meu cabelo é feio. Tudo em mim é imperfeito.- Tão repugnante!- Uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto, passei a mão sobre ela e me virei de costas ao espelho.

Fui me banhar e depois coloquei um Baby Doll vermelho e me sentei em minha cama, sozinha, no escuro, somente com meus pensamentos. Meu pior inimigo estava sempre preso a mim.

É tão difícil admitir que estou com depressão que as vezes nem acredito que estou.

Um fato horrível da depressão, é que ela se arrasta sobre você silenciosamente. No início, você luta contra coisas pequenas, mas normalmente decidimos ignora-las. É como uma dor de cabeça que a gente insiste em dizer que é temporária, vai passar, que é só mais um dia ruim. Mas não é.

Meus pulsos estão marcados com a minha tentativa falha de esquecer a dor da alma com a dor da carne, meu corpo está marcado com os assédios que eu sofro, minha mente sofre com coisas que nem ao menos aconteceram ainda! Minhas noites são passadas em claro, enquanto eu não consigo dormir, pensando em tudo que vai acontecer em minha vida. E no meu coração, a dor de me sentir sozinha, pulsa diariamente. Ninguém sabe realmente o que é se sentir sozinha em meio a tudo até passar por esse sentimento, e é algo que eu não desejo a ninguém.

After The Storm [TERMINADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora