Capitulo V

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Samantha

Inspirei fundo, sentindo o cheiro forte de uma mistura familiar de chocolate quente e grama molhada. Podia jurar que ouvia a voz do meu pai, mas por algum motivo, não conseguia ver nada.

Me contentei em aproveitar a sensação reconfortante de déjà-vu. Se me concentrasse, até podia sentir o gosto intenso de cacau! Sorri por isso...

Reclamei ao sentir meus olhos se abrirando um pouco. A dura realidade agora me consumia, porque eu ainda estava aqui, ainda deitada no silêncio. Talvez eu estivesse delirando... Eu me lembrava do que estava acontecendo, e rezava por algum sinal, qualquer um que seja, que me indicasse que eu ainda estava viva. Em certos momentos, até podia ouvir o som das sirenes ao longe, mas ainda me sentia flutuando.

Eu não quero perder! Não quero mesmo. Mas não estou conseguindo passar por isso... Não sozinha... Em alguns momentos, eu só precisava que alguém me dissesse que estava tudo bem, que alguém concertasse o que havia se quebrado, que me estendesse a mão, que me tirasse desse enorme caos.

Não estou pronta pra morrer, não ainda! Pois debaixo de toda essa fúria, dessa máscara, desse sofrimento, ainda tinha uma parte triste, ainda tinha uma casa, um lar... ainda havia, mesmo que pequena, uma esperança.

Eu não podia desistir agora, porque ainda tinha uma chance, e mesmo que quase inexistente, ainda era uma chance

A partir daí foi tudo muito rápido, passava como flashs na minha cabeça. Eu sendo tirada da água, mamãe gritava, queria poder abraça-la. Podia ouvir um choro que eu conhecia bem... era Sarah. Mas o que ela faz aqui? Não quero que ela me veja assim, mesmo que nem eu esteja me vendo. Apaguei.

Agora estava em algum lugar com cheiro forte, mas não sei bem o que é. Sacudia, e se podia ouvir muitas vozes desconhecidas, elas pareciam desesperadas. Consegui mexer um pouco a cabeça e abri levemente os olhos, apenas para apagar novamente com o choque da luz forte.

- Ela apagou de novo...

Estava em outro lugar agora, eu estava... correndo? Ainda sacudia, e pude olhar o teto de um corredor branco e iluminado correndo.

- Tente se manter acordada, senhorita!- Uma voz masculino aconselhou. Mas não pude atender ao seu pedido. Meus olhos pareciam ter vida própria, se abriam e se fechavam, e a cada vez que faziam isso, eu parecia mudar de ambiente. Estava tonta, e cansada, muito cansada, eu precisa dormir um pouco...

- Como está?- Outra voz havia me cercado. Agora estava parada. Abri os olhos e haviam muitas pessoas ao meu redor. Eu estava no hospital?- Bem-vinda de volta!-... Tudo havia escurecido novamente.- Ela desmaiou, vamos, vocês conhecem o procedimento!

- Isso está acontecendo desde que a pegamos, doutor, ela vem recobrando a consciência e a perdendo alguns segundos depois.- Explicou. Não pude ouvir mais nada, estava tudo calmo agora.

*************

Abri lentamente os olhos, tentando me acostumar com a claridade repentina. Estava em um quarto de hospital, com certeza, nem me preocupei em contar quantos fios estavam ligados a mim. Era difícil respirar, e me sentia exausta.

Foi então que caiu a ficha... Isso 'tava mesmo acontecendo? Olhei para meus pulsos, envolvidos em um curativo... Deus, que vergonha! Como deixei isso acontecer? Bati a cabeça com força no travesseiro.

Fiquei feliz por não ter realmente morrido, por mais que seja duro de aceitar isso, mas o que farei agora? Como vou encarar minha mãe e Sarah depois disso? Como vou encarar qualquer pessoa? Humilhação, só podia descrever esse momento dessa maneira, humilhante! Como as coisas vão ser agora? Será que minhas ações respingaram na minha família? Como vou me olhar no espelho depois disso?

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now