XLVI

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Samantha


- Está pronta? - Noah me perguntou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Respirei fundo, me concentrando em olhar nos seus olhos.



Eu não quero surtar, não ainda, não agora. Me separei dele, apenas o suficiente para ver a casa, aquela casa. Meu coração se acelerava, lembrando da promessa desfeita que fiz a mim mesma de nunca mais voltar aqui.



Porém, tinha que ser feito. Nós tínhamos que dar um ponto final nisso de uma vez por todas. Eu tentei, tentei pra caramba ser legal, mas, há coisas na vida que não se pode apenas esquecer.



Desviei o olhar para as viaturas no final da rua, estacionadas, com as sirenes e os faróis desligados. Eles não queriam chamar atenção, fazia parte do plano.



E não importava que tinham oficiais armados em cada ponto do lado de fora da casa, abaixados, em silêncio, eu nunca me sentiria completamente segura e confortável em passar por aquelas paredes brancas.



A verdade é que quando eu fechava os olhos, ainda era assombrada por cada momento que passei aqui. Por todo sofrimento, a angústia, agonia e perda.



Tudo sobre esse lugar me causava náusea, e o que mais me aflingia, era que não era da casa que eu tinha medo. Não. Era de algo mil vezes pior, de um metro e oitenta, braços largos e fortes, cabelo perfeitamente arrumado, afogado em uma camada nada generosa de gel, um cheiro amargo e uma voz que me causava arrepios.



Tudo foi muito rápido! Ontem de manhã, eu estava jogada no corredor, me amaldiçoando e desistindo de lutar. Agora eu estava prestes a encarar o meu maior medo de frente, sem ter tido muito tempo para digerir a idéia disso acontecer mesmo.



Eu devo estar em choque até agora. Não surtei, nem nada... A ficha ainda não caiu, e me estremeço toda vez que lembro desse fato.



Eu não posso simplesmente paralisar. Essa é a minha única chance! Foi por isso que eu e Noah corremos para a delegacia, por isso que os oficiais Bayer e Smith planejaram um jeito de acabar com Felipe, por isso que todos esses policiais armados até os dentes estavam aqui, por esse momento, e eu não posso vacilar.



Nada aqui é cem porcento certo. Todos eles estão contando comigo, que eu faça meu trabalho corretamente, para que enfim eles possam fazer a sua parte.



Eu não podia ser mais grata por eles estarem aqui com nada além de fé nas minhas palavras. Toda essa formação e armamento, tudo, baseado apenas na confiança.



No final, eu poderia ser apenas uma lunática vingativa, e nada teria valido a pena. Mas não, Bayer e Smith escolheram acreditar em mim, e eu tenho que provar que eles não estão enganados.



Felipe é bom no que faz, eu tenho que admitir... Mas eu sou mais! Posso ser bem irritante e insistente quando quero, e não vou deixar que nada tire o meu foco e atrapalhe o meu objetivo.



- Sim! - decidida, me afastei completamente dos toques de Noah, controlando o meu coração desesperado.

Caminhei a passos curtos até a entrada da casa, dando tudo de mim para parecer o mais realista possível. Eu tinha que estar triste, desesperada, brava, mas não o suficiente para reagir. Tinha que estar submissa e arrependida. Felipe não podia suspeitar de nada!



Hesitante, bati na porta, encolhendo meu corpo e me concentrando em parecer vulnerável. Smith falava através da escuta em meu ouvido, se certificando de que o áudio estava nada menos que excelente.



Olhei uma última vez para a rua, agora não encontrando mais ninguém. Certo, é agora!



E então, a porta se abriu e revelou um dos seguranças. Merda... Tudo bem, tudo bem, Samantha, está tudo bem. É estranho não ser uma das empregadas na porta, mas não completamente impensável. É óbvio que o Felipe iria reforçar seus métodos.

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now