Capítulo III

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Samantha

Na realidade, eu sempre soube que essa história de casamento não iria dar certo! Mas após meu pai morrer, passamos por tempos difíceis... Mamãe tentava esconder, mas eu, mesmo com pouca idade, conseguia ver a mágoa, a tristeza e a angústia em seus olhos! E quando ela começou a sair com o Felipe, o brilho que a anos eu não via, retornou ao seu rosto, e isso encheu meu coração de alegria! Tanto que eu nem reparei o monstro que estava invadindo nossas vidas... E como poderia? Eu era apenas uma criança.

Estava sentada no pátio da escola, aguardando o início da próxima aula. Com toda aquela confusão, eu acabei perdendo a primeira, o que era extremamente revoltante. Nesse momento, planejava secretamente me jogar na frente de um carro.

- Ótimo... Primeiro dia de aula e eu já estou faltando.- Disse a mim mesma.- Que garota exemplar você é, Samantha... Parabéns, merece um prêmio de pessoa mais burra do universo! Na verdade, acho até que você deveria ganhar um cartaz.- Sussurrei, debochando de mim mesma.

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Estava andando pela escola quando escuto o sinal tocar, indicando o começo de uma nova aula. Me apresso em procurar a sala da matéria indicada no papel que aquele garoto me deu mais cedo.

Ciências... Nunca fui ruim em ciências, pelo contrário, na real eu até gosto! Mas minha matéria favorita sempre foi Filosofia! Eu não sei ao certo o porquê, mas acho que tem a ver com o fato dos poemas e dos livros serem tão pesados e reais que me trazem uma sensação de acolhimento! A dor que os poetas usam e deixam em cada uma das palavras, que casam perfeitamente com as frases que tanto fazem sentido pra mim! Eu entendo elas! Eu sinto elas! É como se fossem feitas pra mim, cada estrofe dela, e isso me faz sentir-me especial, mesmo que por um curto período de tempo... São como letras de músicas, lindas e tristes letras de músicas, que soam tão esplendidas nos meus ouvidos.

É como no poema de Jorge Jacinto da Silva Jr.:

Poderia ser até coisa de solidão. Contudo, por horas penso que, Em muitas vezes este sentimento, que nos envolve de vazio no peito, Seja um espaço em nosso coração. No meio de tantas ansiedades, mágoas e outros defeitos, Um lugar inexplorado para preencher Com a intensidade de cúmplice emoção.

São lindas palavras, que descrevem uma triste realidade... E pra mim, não tem nada mais reconfortante do que isso!

Sorri ao ver que estava de frente para a porta da sala de Ciências. Estava tão imersa em meus pensamentos, que nem percebi que estava procurando!

Entrei, e pelo visto, o professor não havia chegado. Pois a sala que era pra ser de aula, se assemelhava mais com uma zona de guerra! Nunca vou compreender o desejo ardente da maioria dos adolescentes de se comportarem como animais!

Ninguém percebeu a minha humilde presença, o que pra mim, era ótimo! Não queria ser notada mesmo. Sabe o que é não querer fazer amizade com pessoas que terei de dizer adeus em poucos meses? Pois eu sim!

Vivo me mudando, pois meu "padrasto" trabalha, e seu trabalho o muda constantemente! Na real, eu acho que ele faz isso porque chega uma hora que os vizinhos começam a perceber que tem algo de muito errado na minha família...

Vasculhei o local com o olhar, a procura de um lugar vazio e solitário para me aconchegar lá e rezar que passasse despercebida. Me sentei no fundo, ao lado da parede.

Passou uns minutos, até que finalmente o professor chegou, ou melhor, professora. Não me preocupei em dar muita atenção a esse fato, apenas continuei me entretendo em tirar a sujeira que se alojava embaixo da minha unha.

After The Storm [TERMINADA]Where stories live. Discover now