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Juliette

Voltar para casa depois de passar um mês no Havaí foi um saco. Como sempre Rosewood estava nublada, tanto que tive que buscar o meu casaco para me aquecer. Chegamos de madrugada e fomos para os nossos quartos. Deitei completamente destruída, o meu corpo ardia um pouco pelas sequências de banho de sol, mas o bronze era recompensador, dizia para mim mesma.

Mal fechei os olhos e o despertador tocou. Eu mal acreditei nisso. Bati no despertador com raiva para que se calasse, mas para o meu azar, umas batidas na minha porta, indicava que Fátima já estava acordada e não me deixaria em nenhuma hipótese matar aula.

“Juliette, levante-se ou irá se atrasar”. Disse ela assim que abriu a porta e me viu deitada.

“Cinco minutos, mãe”. Eu pedi, pegando o meu travesseiro e colocando em cima da minha cabeça.

“Nem um minuto. Levante-se. Agora”. Mandou e saiu, batendo na porta.

Saco! Joguei o travesseiro para o outro lado da cama e me sentei. Estava morrendo de sono, esfreguei os meus olhos e gemi frustrada. Senti até vontade de chorar, porém, não iria fazê-lo. Levantei-me antes que Fátima viesse me chamar novamente e eu sabia que não seria muito agradável.

Fiz minha higiene matinal. E procurei uma roupa. O tempo estava razoável, como sempre. Então, coloquei legging, uma bota biker e uma camisa jeans de botões. Fiz uma leve maquiagem, ondulei meus cabelos e peguei minha bolsa. Estava pronta.

Desci e encontrei Wash praticamente dormindo na mesa, e meus pais conversando alegremente. Não entendo porque os adultos ficam tão felizes de manhã cedo.

“Bom dia”. Cumprimentei, pegando uma maça em cima da mesa e dando uma mordida.

“Bom dia”. Responderam em coral, mas apenas meu pai continuou a falar “Você tem dinheiro para o almoço, Juliette?”.

“Tenho” Respondi, depois de vasculhar a minha bolsa e encontrar algumas cédulas de dinheiro. “Vamos Wash?” chamei depois que terminei de comer a maçã.

Wash se levantou contra a vontade, e pegou a sua mochila. Fátima me deu a chave do seu carro. “Cuidado, Juliette. Qualquer inflação, você ficará sem o carro”. Avisou, me olhando.

“Pode deixar, mãe”. Respondi, revirando os olhos.

“Tchau crianças, comportem-se”. Disse o meu pai, com os olhos fixos no jornal.

Meus pais eram professores. Mas apenas o meu pai que exercia a profissão. Minha mãe deixou de trabalhar depois que teve o Wash. Ela queria o tempo integral para cuidar dos filhos, coisa que ela fez muito bem. O meu pai trabalhava na faculdade Hollis, conhecida pelos diversos cursos oferecidos, confesso que se for pra escolher uma faculdade, provavelmente seria a Hollis, já que lá sempre tem os cursos que são do meu interesse.

Eu e Wash entramos no carro. Sabendo que não teria nenhuma conversa, liguei o rádio. Wash estava na fase que não se entrosava tanto assim com a família. Ele tinha quatorze anos, e sei que sua preocupação nesse momento são revistas de mulher pelada e cinco contra um. Ri com o meu pensamento.

“Qual é a graça?” perguntou Wash, mal humorado.

“Nada, estou apenas pensando em algumas coisas. Você está animado para o primeiro dia de aula?”. Tentei bancar a boa irmã e sorrir.

Wash me olhou e revirou os olhos, pegando o fone de ouvido e o colocando, enquanto sua cabeça voltava-se para a janela. Suspirei e prestei atenção na estrada. Eu não tinha sempre o privilégio de pegar o carro de Fátima, ela provavelmente estava de muito bom humor ou com preguiça de nos trazer para a escola.

Não morávamos muito longe da escola. A pé, eram meia hora de caminhada, de carro, dez minutos. Eu preferia definitivamente de carro, por razões óbvias. Não demorou muito, e chegamos na escola. Wash mal deixou eu estacionar o carro e pulou pra fora com o carro ainda em movimento.

“Wash!” eu gritei o seu nome, pelo susto, mas ele já tinha fechado a porta e se afastado.

Estacionei o carro, e sair rapidamente atrás do Washington. Tive que correr para alcança-lo, o peguei pelo braço, e ele se assustou, virou-se para mim com reprovação. “O que está fazendo?” ele quis saber.

O olhei séria. “O que você está fazendo? Acha que pode saltar assim do carro? Você poderia se machucar e Fátima iria me matar!”.

Ele puxou o seu braço e me olhou sério também. “Não enche Juliette!” e saiu, me deixando chamando o seu nome.

“Ele não vai voltar”. Disse uma voz atrás de mim.

Virei-me, me deparando com o meu melhor amigo, que me abraçou apertadamente. “Oh meu Deus, que saudade!”. Ele disse, ainda me apertando.

Se Gilberto não fosse gay, diria que ele tinha uma queda por mim. Mas como eu sabia que ele adorava a fruta que eu detestava, me permiti ser abraçada por ele. Passamos uns minutos agarrados, até que por fim, nos soltamos.

“Gil! Também estava com saudades”. O olhei de cima a baixo. “Você está ótimo. Como foi as suas férias?’.

Ele deu de ombro, segurando a minha mão. “Tranquilo. Você sabe... México, família...”.

Gilberto era mexicano, a sua família sempre viajava para o seu País de origem sempre que as férias batiam na porta. “Você está um luxo bronzeada assim”. Ele disse sorrindo. “Agora me conte os babados! Conheceu alguma gatinha em Havaí?”.

Escutei o sinal tocar. Então, o puxei pela mão e sorrir. “Vem, que no caminho eu te conto”.

Eu e Gilberto éramos amigos desde crianças, sempre fomos inseparáveis. A ponto dos nossos pais acharem que seríamos um casal, mas depois que revelamos nossas orientações sexuais, percebeu que não era nada a ver. Embora que, tinha que admitir, daríamos um casal muito bonito. Gilberto era um moreno lindo, que qualquer garoto morreria para tê-lo ao lado. O seu sorriso, os seus olhos castanhos e seus cabelos encaracolados era motivo de suspiro de várias garotas e garotos também. Mas claro, apenas os garotos que tinham a chance com ele.

Andamos pelos corredores lotados até os nossos armários. Contei tudo que aconteceu na minha viagem, de interessante a não tão interessante assim. Gilberto vibrou quando contei de
Sarah, não mencionei o nome, apenas disse que tinha conhecido uma mulher mais velha. Mas que infelizmente, não tinha pegado o telefone. Amarguei um pouco por isso, sentindo a perda, mas logo o Gilberto me fez esquecer esse sentimento estranho, falando que ficou com o seu primo gato.

Fiquei chocada. Pois, nunca imaginaria que Fiuk era gay. Depois de pegarmos nossos cadernos e livros nos armários, fomos para a nossa sala e sentamos em nossas carteiras cativas. Apesar de sermos bons alunos, não gostávamos de sentar na frente, então, ficávamos na metade da sala.

“Ah, nem te conto!” começou a cochichar Gilberto, enquanto o professor não entrava na sala. “Sr. Cooper se aposentou e colocaram uma substituta em seu lugar!” ele disse com animação.

“Oh, sério?” falei com decepção “Eu gostava do Sr. Cooper”.

Gilberto revirou os olhos. “Só você que gostava daquele velho moribundo”. E depois sorriu ao ver minha careta. “Dizem que a nossa professora é uma gata e o melhor de tudo, para você, claro... É lésbica!”.

Desta vez foi a minha vez de revirar os olhos. “Só porque ela é lésbica, não significa nada. Não irei ficar com ela, por Deus”. Peguei o cronograma das aulas, olhando os conteúdos que seriam dados no decorrer do ano, naquela matéria. “Hum... Ela tem bom gosto”, comentei, mas não tive resposta do Gilberto.

A realidade, é que não tinha percebido que a professora tinha entrado em sala, até que escutei um “Puta merda” e todos os alunos voltarem-se para mim, inclusivamente o Gilberto que me olhava com uma cara de “me conte isso direito".

Como Tudo Aconteceu • ADP - SarietteWhere stories live. Discover now