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No carro, Sarah socava o volante com força, enquanto xingava a Yvonne. Eu estava parada ao seu lado, sem saber muito bem o que fazer. Fiquei apenas escutando-a.

“Quem ela acha que é para distratar você dessa maneira? Logo você que é um anjo em minha vida! Ah, mas ela vai pagar por isso. Irei diminuir consideravelmente a quantia que deposito. Se brincar, não irei depositar nada! Quero ver como ela vai se sair sem a sua renda mensal”.

“Você deposita dinheiro para a sua mãe? Por quê? Não sabia que o salário de professora de universidade era tão bom assim. Pelo o que observei de sua mãe, ela é uma mulher fina e de gosto caro, o seu salário não dá para isso. Então, qual é o lance?”. Perguntei, já que queria saber a um longo tempo sobre o dinheiro de Sarah, já que os seus gastos eram incompatíveis com o seu salário.

Sarah parou de socar o volante e me encarou, podia ver a raiva nítida em seus olhos, o que me deixava calma era saber que aquela raiva não era direcionada para mim. “Tem algumas coisas de minha vida que você não sabe”.

“Conte-me”. Pedi, encostando-me no banco de couro do carro.

“Eu não sou pobre! Se eu quisesse, poderia viver sem trabalhar, já que tenho dinheiro para alimentar a minha sexta geração”.

“Então. Você é rica?”. Perguntei tudo se encaixando agora. Os seus gastos, o carro, o chalé, o anel... Só não entendia porque ela morava naquele apartamento pequeno.

“Não Juliette. Não sou rica. Sou multimilionária. Boa parte dos imóveis de Summer City são meus, incluindo o shopping Costa. Na realidade, tenho uma rede de hotelaria e joalherias espalhadas pelo mundo”. Ela disse, olhando para minha expressão atônita. “O meu nome não é apenas Sarah Carolline Andrade... Mas sim, Sarah Carolline Vieira de Andrade...”.

Ela parou de falar ao ver que eu fiquei pálida. Abrir a boca para falar algumas vezes, porém, as palavras morriam em minha boca. Eu estava tão surpresa com aquela revelação! E mais surpresa ainda pelo sobrenome “Vieira”. Sabia que essa família foi eleita à terceira família mais rica do mundo.

“Se você é uma Vieira... Não entendo porque a sua mãe precisa do seu dinheiro, já que automaticamente ela também é uma e tem bens, certo?”. Perguntei confusa.

Sarah respirou fundo e hesitou. Eu podia sentir o medo nos olhos dela. “Não. Porque não herdei esse sobrenome da minha família”.

“Você... Você herdou de quem, então?”. Perguntei, sentindo o meu coração acelerar.

Sarah fechou os olhos por um longo momento. O clima do carro estava tenso, podia ver os seus músculos contraídos, como se ela estivesse sentido uma dor. Então, ela abriu os olhos e disse algo que me surpreendeu bastante. “Herdei do meu marido. Eu já fui casada, Juliette. Quando tinha a sua idade, e ele faleceu meses depois do nosso casamento”.

O choque invadiu a minha mente. Fiquei pálida, com os olhos arregalados. Sarah viúva? Por essa eu não esperava! O meu corpo tremeu ao digerir isso.

“Quero que saiba que... Que não foi um casamento consumado. Não foi um casamento de amor. Eu era melhor amiga da filha dele, a Thaís. Minha família era classe média alta, por isso que morávamos em Summer City. Mas depois de uma noite de bebedeira, Thaís insistiu em dirigir o carro e inconsequente saímos pela estradas em alta velocidade, foi quando o acidente aconteceu e levou a vida de Thaís embora. Eu me sentia muito mal depois de sua morte, principalmente com o sofrimento de Levy. Thaís era a sua filha única e ele tinha esperança que o seu sobrenome se propagasse por várias gerações. Depois da morte de Thaís, a esperança foi embora. Ele era muito idoso e não podia mais ter filhos. Com o tempo, fomos nos aproximando. Não de maneira maldosa, mas como amigos, ele era uma excelente pessoa e me deu muitos conselhos. Tornamos melhores amigos. Ele dizia que eu lembrava um pouco da Thaís”. Ela deu um longo suspiro e retornou a falar. “Meu pai era viciado em jogos. Era não, ainda é. E com isso apostou tudo o que tínhamos e perdeu. Ficamos falidos. E sabendo da nossa situação, o Levy propôs um casamento de fachada. O trato era que eu aderisse o sobrenome dele para não ser esquecido e em troca, todos os seus bens seriam destinados a mim. Eu aceitaria me casar com ele só se fosse para carregar o seu sobrenome, tanto que reneguei a sua proposta da herança. Ele era como pai para mim. Um homem muito bondoso e que sempre me respeitou. Me via como uma filha! Os meus pais que ficaram muito felizes com o nosso casamento, porque sabia que a fortuna viria de brinde e assim, podiam viver no luxo como sempre viveram. Seis meses depois do casório, Levy faleceu. Foi uma grande perda”. Seus olhos encheram-se de lágrimas. “E quando leram o testamento, para minha surpresa estava tudo destinado a mim. Mesmo com a fortuna que ele me deixou, optei por ir para faculdade, trabalhar e ocultar o seu sobrenome para não ter regalias, mas a Yvonne não aceita que eu me relacione com alguém da classe inferior, por isso lhe tratou tão mal. É essa a história... Por favor, diga-me alguma coisa”. Pediu ela, angustiada pelo meu silêncio.

Como Tudo Aconteceu • ADP - SarietteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora