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Fazia exatamente vinte e quatro horas que eu tinha acordado e eu não tinha tido um tempo com a pessoa que eu mais queria: Sarah Carolline. Fui submetida a todos os tipos de exames possíveis, fizeram perguntas chatas diversas vezes, como: Qual é o seu nome? Que idade tem? Onde mora? Sente isso aqui? Movimente os braços... E assim por diante. Quando perceberam que aparentemente eu não tinha sequela nenhuma, me transferiram da UTI para um apartamento. Fiquei surpresa pelo quarto do hospital, parecia mais um quarto de hotel cinco estrelas.

Ao ser transferida para o quarto, a Fátima me encheu de beijos e mimos. Ajudou-me a tomar um banho. Eu ainda estava fraca para andar sozinha e precisava de ajuda. Felizmente antes de eu descer para o apartamento, retiraram a sonda vesical de demora e também a SNG, era uma coisa muito chata e incomoda. Deixei-me ser cuidada pela Fátima. Eu estava extremamente feliz e aliviada por vê-la, mas nesse exato momento, não era a sua companhia que eu ansiava.

Sarah tinha sumido! E isso me deixava um pouco em pânico. Nesse meio período que acordei, também falei com o Gilberto, Anthony, Bianca, Jacira e Wash que ficaram muito felizes pela minha melhora.

O tempo que passei em coma, para mim, foi como se eu estivesse dormindo um sono profundo. Por isso fiquei desnorteada quando acordei e me vi num leito de hospital com uma mangueira forçando ar para o meu nariz.

Lembro-me muito bem o que me fez acordar... Eu estava dormindo quando escutei uma voz me chamando, era a voz de Sarah, parecia que tinha sido um clique em meu cérebro que rapidamente voltou à ativa. Eu não conseguia pronunciar nenhuma palavra, mas podia escutar cada palavrinha que ela me dizia, como também a música e isso me emocionaram muito. Mas, mesmo assim, o meu corpo parecia muito lento para obedecer ao comando do meu cérebro. Primeiro abri os olhos e automaticamente as lágrimas caíram, foi então, que tive força para apertar a sua mão. Eu queria que ela me olhasse, porque para mim, foi como se eu tivesse sonhando. Eu sentia o seu toque, escutava a sua voz suave e sentia o seu perfume... Se fosse um sonho, era um doce sonho. Mas quando ela me olhou, foi como se nada no mundo existisse mais e a dor que passei dias atrás também não existisse... Então, tive forças para chama-la, mas infelizmente, a tiraram de mim. E o medo voltava a me assombrar.

“O que pensa meu amor?”. A voz de Fátima me despertou dos pensamentos.

“Nada”. Respondi com a voz fraca.

“Quer que eu suba um pouco o colchão? Está confortável assim?”. Perguntou-me, preocupada com o meu bem-estar.

Apenas balancei a cabeça em negativo. Fátima considerou, mas não ficou calada por muito tempo. Começou a me contar sobre o tempo que fiquei em coma... Que Sarah não tinha saído do hospital a nenhum momento, que foi por ela que eu estava em um dos melhores hospitais do mundo e que não estávamos mais em Recife e sim em São Paulo. Questionou-me sobre o dinheiro de Sarah e eu disse que a família de Sarah era rica, mas não entrei em muito detalhe. E ela pareceu cair no papo. Também chorou por eu ter tentado tirar a minha vida e eu chorei junto também ao lhe pedir sinceras desculpas. Eu não estava coerente quando o fiz, só queria que a dor passasse. Também contou que eu tive duas paradas cardíacas e que era muito sortuda por não ter tido nenhuma sequela, porém, os médicos continuavam monitorando o meu coração em busca de alguma anormalidade e se em uma semana, eu não apresentasse nenhum sintoma, eu seria liberada. Em nenhum momento tocou no nome do Enrique e eu também não perguntei. O queria bem longe de mim.

Minha mãe falou tanto que distraiu os meus pensamentos. Eu estava quase cochilando quando escutei algumas batidas na porta, atraindo a nossa atenção. A porta se abriu e um enorme buquê de rosas vermelhas surgiu no meu campo de visão, por trás do buquê, estava a minha doce namorada.

O meu coração se acelerou e meus olhos encheram-se de lágrimas. Sarah se aproximou de mim no mesmo estado. Percebendo que precisaríamos de um pouco de privacidade, Fátima deu a desculpa que iria tomar um café e saiu.

Sarah colocou o buquê de rosas em cima do criado-mudo e ficou me olhando por um longo momento... Parecia não acreditar que eu realmente estava acordada. Eu queria falar, porém, a emoção sufocava as minhas palavras. Em um rápido movimento, ela me abraçou. A abracei com força e choramos juntas.

Meu Deus! Como era bom tê-la novamente em meus braços. Sentir o seu cheiro, o seu calor... Como era bom tê-la perto de mim, sem empecilhos. Não sei quanto tempo demorou o abraço e muito menos o choro, nossas emoções estavam afloradas. Sarah afastou um pouco, colocou as mãos em meu rosto, acariciando suavemente. Eu também toquei o seu rosto, e não demorou muito para que os nossos lábios se encontrassem em um beijo repleto de amor. Eu sentia a nossa conexão mais forte do que anteriormente.

Sarah afastou os lábios dos meus em um suspiro. “Nunca... Nunca mais faça isso”. Ela disse com dificuldade por causa das lágrimas. “Nunca mais tente se matar! Quase enlouqueci pensando que perderia você para sempre. Eu posso suportar tudo, Juliette, só não posso suportar viver sem você”.

Fiz carinho em seu rosto. “Nunca mais, meu amor. Eu prometo á você. Nunca mais irei tentar tirar a minha vida. Você é o meu tudo. Não sei onde estava com a cabeça por querer abrir a mão da minha vida... Eu nunca descansaria em paz sabendo que não iria mais poder olhar em seus olhos, sentir o seu beijo, o seu toque, o seu sorriso... Obrigada por me fazer voltar... Eu voltei para você”. Falei emocionada.

Sarah abriu um sorriso lindo que eu tenho certeza que aquele sorriso seria a inspiração dos meus dias... Voltamos a nos beijar com todo o carinho e amor que bombeava os nossos corações...

Como Tudo Aconteceu • ADP - SarietteWhere stories live. Discover now