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Depois de ontem, a minha concepção sobre o Natal mudou completamente. Não foi uma noite feliz. Foi mais para uma noite de pesadelos em que eu passei a noite na minha cama chorando desesperadamente. Eu não conseguia aceitar isso. Eu não conseguia aceitar a minha distância obrigatória dela. Quem aceitaria perder o amor da sua vida? Eu estava num estado lastimável. Não tinha conseguido dormir a nenhum momento e também não consegui comer, depois Fátima tinha aparecido com a minha ceia, mas eu rejeitei.

Minha vida não estava fazendo mais sentido. Cada respiração minha parecia facas afiadas em meu corpo. Tudo doía, o meu corpo, o meu coração e minha alma, me sentia corrompida, desnuda e desprotegida. Poucos foram os momentos em que eu tinha ficado calma, mas logo depois, voltava uma angustia massacrante que me deixava sem fôlego e as lágrimas caiam pesadamente dos meus olhos. Eu iria morrer! Eu tenho certeza que iria. A minha existência tinha se recolhido ao nada.

Eu estava incomunicável. Não sabia se Sarah tinha mandado alguma coisa para mim pelas redes sociais, ou pelo meu telefone. Não podia sair de casa, o Enrique estava feito cão de guarda. Tinha que ficar em meu quarto, olhando para o nada e me lastimando. Céus! Eu irei enlouquecer se não tiver o meu amor de volta.

Solucei em agonia, a minha cabeça estava doendo muito e meus olhos queimavam. A claridade que entrava pela janela incomodava muito os meus olhos. Levantei-me, sentindo uma ressaca horrível. A ressaca da perda. Arrastei-me até o banheiro e gemi frustrada ao me olhar no espelho... Eu estava horrível. Irreconhecível, os meus olhos estavam inchados, minhas bochechas muito avermelhadas pelos tapas, o meu nariz da mesma forma. Em gestos automáticos, tirei a minha roupa e entrei debaixo do chuveiro.

Lembrei-me dos meus momentos com a Sarah... Do seu sorriso, do seu cheiro, de sua forma tão peculiar de ser. O medo amargava a minha boca. Será que nunca mais iriamos nos ver? Será que Enrique e Fátima não perceberiam o quanto estavam me destruindo daquela forma? Deixei o meu corpo cair no chão e abracei as minhas pernas, sentindo a água gelada cair em meu corpo. De certa forma era reconfortante. Eu podia gritar e chorar sem ser incomodada.

A água arrastava as impurezas que apodreciam a minha alma, só não conseguia tirar a dor que estava me consumindo aos poucos. Não sei quanto tempo fiquei debaixo daquele chuveiro, mas quando comecei a ficar roxa e bater de frio, me levantei. Fechei a torneira e peguei uma toalha. Enxuguei-me, coloquei moletom e me sentei próximo à janela. Olhando a rua e constatei surpresa que estava nevando, tinha algumas crianças brincando animadas, aproveitando para jogar bolinhas de neve uma nas outras. Por um momento, senti inveja delas... Eram tão felizes e não precisavam carregar o peso do mundo em suas costas.

Encostei-me na parede, estava me sentindo esgotada psicologicamente e fisiologicamente, porém, não conseguia relaxar. A porta do meu quarto se abriu, olhei para ver quem era, bufei irritada ao ver que era Fátima. Eu não queria vê-la. Nem ela e nem Enrique, mas eu sabia que isso era impossível.

“Você não vai tomar café da manhã?”. Perguntou ela, um pouco cautelosa depois que lancei um olhar frio.

“Não”. Respondi seca.

“Juliette”. Fátima respirou fundo e se aproximou de mim, tentou tocar em meu rosto, mas eu desviei de sua mão. Ela me olhou reprovando a minha atitude. “Você não pode ficar sem comer. Ontem não quis comer, hoje também não. Você precisa se alimentar, vai ficar doente assim”.

“Como se você se importasse”. Respondi baixinho, voltando-se a olhar para janela.

“Claro que me importo. Eu sou a sua mãe!”. Ela respondeu um pouco nervosa, depois se sentou ao meu lado. Encolhi as minhas pernas e a abracei, encostei minha bochecha em meus joelhos e fiquei olhando para o lado de fora. “Eu sei que agora você não entende os motivos, meu amor. Mas futuramente você vai agradecer por isto. Sarah não era mulher pra você, ainda és tão jovem, tem muitas pessoas para conhecer, da sua idade, claro”.

Como Tudo Aconteceu • ADP - SarietteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora