9ºCapitulo

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Quando a conta nos é trazida, a única coisa que dissemos um ao outro foi nada, tudo o que podíamos fazer era olhar e estar atentos um ao outro, como que a vigiar o inimigo de perto, e neste exato momento o homem á minha frente pode matar-me, ou fazer-me viver. Eu aprendi a ser eu mesma, e agora com um estalar de dedos eu percebo que ele pode mandar a baixo todas as minhas defesas.

E eu quero abrir a boca e pedir-lhe desculpa, por um momento eu quase o faço, mas as palavras estão presas na minha garganta e não consigo dize-las, e um pedido de desculpas vai realmente mudar o quê? Será que o que eu fiz foi tão errado assim? Fui assim tão miserável? Por um momento, apenas um, poderei cometer um erro? Mesmo que tenha sido contra ele? E se não o cometi? E se fiz o que foi melhor? Quando ele disse que eu tinha sido o amor da vida dele... foi como se ele me tivesse atirado com cem facas e nenhuma me tivesse morto, todas elas me feriram, dolorosamente, mas foi como se de alguma maneira nada acabasse com o sofrimento.

-Eu pago.- Ele murmura com uma voz de ceda e aceno com a cabeça, não vale a penas discutir com ele sobre isso.

Quando os nossos casacos estão sobre nós e estamos á porta do restaurante, ando em volta de mim mesma, como que a levar o frio que me emana de dentro. A verdade é que não quero parar e olhar para ele, a verdade é que tenho medo que, assim que o vir, com os olhos a brilhar pela iluminação da cidade vá beija-lo. Ele tentou beijar-me no carro, mas não o fez, e esta manhã no seu escritório o máximo que ele chegou foi aos cantos dos meus lábios, e a sua língua... ela passeou pelos meus lábios, eu estou perdida numa maré de sensações e não há nada que eu possa fazer.

-Vais parar quieta?- Ele tenta agarrar o meu braço mas escapo-me.

-Não sei.- Murmuro por não saber mesmo.

-Então para quieta, e olha para mim.

-Não. Preciso de ir para casa.

-Não! Vais olhar para mim, e depois vou levar-te a casa.- As suas palavras são mandamentos, e acontece exatamente o que eu pensei que aconteceria se olhasse para ele, mas em vez de ele avançar, e agarro as lapelas do seu casaco e empurro-o contra a parede fria de tijolo, a luz mal no ilumina na viela escura, e quando colo os lábios aos dele, sinto um arrepio tomar conta de mim, enquanto ele abre forçosamente a boca e deslizo a minha língua contra a dele, tentando ter tanto quando posso, as suas mãos deslizam pelas minhas ancas e ele puxa-me de encontro a ele, as minhas mãos sobem e acaricio-lhe a barba por fazer, sentindo-a arranhar-me os dedos.

A minha respiração é superficial, mas não quero acabar o beijo, quero que os lábios dele se continuem a mexer por cima dos meus, quero que o som dos carros continue abafado porque a única coisa que oiço e sinto é a minha pulsação acelerada.

Quando finalmente tiro os meus lábios dos dele, por apenas uns centímetros continuo a sentir os seus lábios nos meus, devagar, macios, o meu coração pula com tanta força contra o meu peito que parece quase sobre humano. O Harry acaricia gentilmente a minha cara, e dou por mim a encostar-me ao carinho, a fechar os olhos enquanto o sinto tocar-me.

-Descul...- Mas não consigo acabar a frase, os lábios dele estão de novo sobre os meus e ela agarra na minha mão guiando para o carro, abrindo a porta, sem uma única palavras.

Á medida que passamos por nova York ainda bem acordada olho para o relógio, são quase dez da noite no entanto as pessoas movem-se pela quarta avenida como se fossem quatro da tarde, não há nunca realmente tempo para dormir, tento pensar em tudo, em tudo menos no calor no meu corpo, menos na sensação agridoce dos lábios do Harry nos meus, na barba por fazer, no arrepio que me persegue.

Quando ele para o carro, é quase como que nevoeiro, abano a cabeça e olho para ele, um par de esmeraldas fita-me com força, brutalidade, e o meu coração retoma as batidas catárticas com uma fome dele, e de todo o sentimento que o engloba.

Vision 3 - The SentenceWhere stories live. Discover now