22ºCapitulo

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Quando acabo de preencher todos os papeis e de os assinar é quase meio-dia, e como isto era tudo o que tinha para fazer acabo por entregar tudo a Isaac e desejar um voo seguro a todos para o Canada.

Mesmo que não os conheça muito bem e o meu primeiro instinto seja não falar com qualquer um deles, eles foram excecionalmente bons para mim então eu tenho que lhes oferecer a mesma cortesia, acho que me sinto apenas esmagada pelos últimos acontecimentos. O meu coração e a minha cabeça mal tiveram tempo de assimilar o que se passou na última noite então o mais provável é eu simplesmente precisas de algum tempo para mim.

Amanhã é sexta e eu ainda nem sequer escolhi um vestido para a minha formatura, embora eu decididamente não queira algo muito extravagante, eu ainda quero estar bonita, ainda para mais se o Harry está a vir ao almoço...ou á cerimonia.

Em vez de voltar para casa de metro tento ir a pé, mesmo que tenha o inferno neles parece-me uma melhor opção e ainda por cima metro não é o meu meio de transporte favorito, ainda fico em pânico de espaços fechados, e mais fechado que um elevador só o metro.

Á medida que avanço pela quinta avenida em vez de voltar diretamente para casa observo apenas os vestidos nas montras, entrando ocasionalmente dentro de uma loja ou duas, mas quando piso para dentro de um beco e uma pequena loja escondida chama a minha atenção não me consigo impedir de espreitar pela montra cheia de pó.

A minha garganta dá um nó quando vejo um vestido parcialmente parecido ao que usei no dia do baile, o vestido dessa noite acabou praticamente desfeito, cheio de arranhões na ceda suave e ensanguentado.

Respiro fundo e volto a sair do beco. Tudo o que aconteceu em Oxford foi um beco sem saída, e se algo me recordar de tempos maus a única coisa que posso fazer é caminhar para fora disso, com passos pequenos, quase impercetíveis, como uma alma pecadora a tentar escapar do demónio sem que ele se aperceba.

Às seis em ponto Ave abre a porta de casa e sorri para mim, com os olhos brilhantes e sorridentes ela atira a mala para o chão e ouve-se o barulho das chaves a baterem no balcão da cozinha.

-Nem imaginas o que me aconteceu.- Ela guincha.

-Chuta!- Sorriu-lhe enquanto deixo o som da televisão em mute.

-Um anjo da guarda colocou-me em primeira classe num avião para Toronto, tipo por seis dias vou trabalhar apenas três, e posso visitar a minha mãe!- Ela salta para cima de mim com entusiasmo.

-O quê?- Abano a cabeça.

-Não sei, de repente chegou um envelope á minha secretaria com a confirmação da viagem, querem que eu faça uns estudos sobre se será economicamente viável começar a investir lá.

Na minha cabeça faz-se luz. Não foi um anjo da guarda. Foi o Harry a afastar o que não lhe agrada para o canto do prato, como se jogar com a Ave e a sua família fosse mais simples do que apenas me dizer para a manter afastada.

-Ave tu sabes... estou feliz por ti...mas foi um pouco repentino.

-Eu sei, foi a melhor notícia dos últimos meses, partimos hoje á noite, por volta das nove, preciso de fazer a mala tipo agora.- Ela sorri e antes de a ir ajudar encomendo comida tailandesa de má qualidade que comemos sempre que algo de bom aconteceu...um vício estranho este.

Enquanto arrumamos a mala dela tento decidir que o Harry o fez porque sabia que a Ave queria ir ou se o fez porque isso o ia deixar á vontade por seis dias, o meu apartamento sem ninguém, a minha vida "vazia" ninguém para além dele para comunicar comigo...

-A comida chegou!- Ave grita quando enfio o seu par de sapatos preferido dentro da mala.

Com calma sentamo-nos á volta da mesa da sala, espalhando tudo por cima dos individuais, ela pesca alguns rolinhos de primavera e sigo-lhe o exemplo, não consigo tirar da cabeça a maneira rude com que o Harry está a jogar com ela.

Vision 3 - The SentenceWhere stories live. Discover now