76ºCapitulo

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Os meus sapatos faziam um eco estranho no chão, o som parecia multiplicado de maneira anormal e isso fez-me embrulhar o casaco masculino á minha volta mais apertado. O meu vestido preto fazia as minhas pernas apertadas e tinha-me que me esforçar por andar num passo rápido. Porque é que estava mesmo a tentar a correr?

-Hey!- Uma voz atrás de mim chamou mas eu continuei, os meus olhos no chão, o tapete preto que nunca acabava, um corredor que não tinha fim.- Para!

A voz soou mais forte e próxima desta vez e as minhas pernas começaram a tremer enquanto eu as tentava arrastar para a frente, a minha respiração tornou-se estranha e desesperada e ao meu lado direito vi uma porta, pareceu um segundo enquanto a atravessei e me vi dentro de uma casa de banho. Olhei para a faca em cima do balcão e para o meu vestido longo. Não sabia exatamente porque é o meu coração estava tão acelerado, nem porque é que estava com tanto medo, mas quando vi a faca puxei a lateral do vestido e fiz-lhe um enorme rasgão para que as minhas pernas se começassem a mexer, a faca quase escorregou da minha quando o som de um tiro soou e ergui a cabeça para ver um homem a cair no chão, enquanto dois olhos azuis brilhantes me fitavam.

A arma estava ao lado dele e suavemente ele tirou o pano da cara, o homem sedutor e engraçado era na verdade um demónio, pronto para me dar outro buraco para respirar. Olhei para o lugar onde outrora tinha havido uma janela, mas nada. Estava sozinha com o corpo morto no chão, e um homem com um imenso desejo de dinheiro, de alguma maneira todas as tentativas de fuga foram levadas da minha cabeça e tudo o que eu conseguia ver eram os olhos azuis brilhantes e o sorriso arrogante.

-Deste mais trabalho do que devias, és um pequeno sarilho ambulante.- Os sapatos dele ecoaram enquanto ele se aproximava, e estranhamente quanto mais ele se aproximava de mim, mas eu me relaxava. O meu corpo pareceu até aceitar o toque suave da sua mão na minha bochecha.

-Mas és tão bonita.- Ele soprou.- Meninas bonitas e dinheiro são uma má combinação Sophia.

Eu senti o cano frio da arma deslizar pela minha perna acima, um arrepio percorreu o meu corpo e franzi os dedos dos pés dentro do sapatos, havia uma voz dentro de mim a querer soltar-se, mas o prazer iminente em chegar ao fim estava a levar a melhor.

-Lembraste de alguma vez ter ouvido isto?- E a seguir os seus dedos frios passam mexas do meu cabelo para trás da minha orelha, deslizam pelo meu pescoço e o polegar prolonga-se na minha clavícula. O seu hálito quente bate na minha orelha e fecho os olhos como se escuro fosse tudo o que quisesse ver.- Passei todos estes anos a planear a nossa ultima dança.

No final alguém tinha que cair, e estes últimos três anos não foram mais que uma ilusão de liberdade, a minha força, o meu acreditar, o meu coração e o meu amor pelo Harry foram uma ilusão que me foi concedida antes do meu último suspiro, foi um segundo perdido na dor iminente. Um rasgo de brilho no céu escuro pronto a engolir-me.

Não oiço nem sinto, mas a mão dele guia-me até ao meu abdómen, quando levanto a mão está encharcada com aquilo que deve ser o sangue que a bala causou, mas não me sinto mal, nem sinto dor, a única coisa que consigo fazer é olhar para o liquido vermelho escuro que me cobre a mão e pensar que na realidade eu não era feita de filosofias de vida, na verdade eu era como todos os outros. Era feita de sangue.

Sinto os meus pulmões expandirem-se de repente e as mãos apertadas de alguém nos meus ombros. Os meus olhos esbugalha-se enquanto olho para a Ave, o rosto aflito e as lágrimas iminentes travam qualquer reação das recentes memórias que me assombram.

-O que se passa?- Sussurro e sento-me.

Ela não me dá tempo de voltar a respirar e abraça-me com força, lágrimas correm pelos seus olhos e molham-me o ombro, coloco a mão no seu cabelo loiro e deixo-me ficar ali, porque estranhamente o abraço relaxa-me.

Vision 3 - The SentenceWhere stories live. Discover now