50ºCapitulo

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Não entres em pânico. Por favor não entres em pânico.

Fechei os olhos com força e quando me virei de costas para voltar para trás vi o Harry ou uma sombra a levantar-se, mas era tarde demais, deixei os papeis em cima da mesa de Chloé e abri a porta para as escadas, não ia esperar o elevador e tinha uma necessidade tão avassaladora de fugir no meu peito que quanto mais tempo ficasse aqui, pior o sentimento de traição. Enquanto os saltos das minhas botas batiam no chão ouvir a porta lá em cima a abrir-se, e por um minuto toquei nas bochechas, só para sentir que a sensação era verdadeira, havia uma raiva tão grande dentro de mim que me recusava a chorar por isso, sentia como se alguém tivesse puxado para a realidade o meu pior pesadelo.

Parei de correr as escadas e comecei a desce-las devagar, segurando a respiração e sentido a pressão no meu peito aumentar, e aumentar, quase que como um balão que não pode ser impedido de rebentar.

-Sophia!- A mão dele segurou firmemente o meu pulso e virei-me para ele.

O verde nos olhos dele de repente não me pareceu mais o mesmo, pareceu-me distante, algo que eu perdera, mais uma vez eu tinha confiado nele e ele tinha esmagado a confiança como se fosse nada.

-Eu ia explicar-te, assim que pudesse, não era a melhor altura tínhamos acabado de...

Não o deixei terminar a frase, suavemente coloquei a mão na dele, e um por um soltei os dedos que me prendiam ali, olhei novamente para ele e parecia assustado enquanto me afastei e abri a porta para o meu andar. Não veio atrás de mim, e talvez ele tivesse percebido a mensagem.

Não conseguia pronunciar uma palavra sequer, alguém me tinha perguntado se eu estava bem, mas deixara a pergunta sem resposta, a única coisa em que podia pensar era na sensação de horror que se espalhava dentro de mim, pânico por ter o meu passado tão perto de mim, as imagens era nítidas, ele tinha claramente tentado matar-me, ele perseguiu-me de arma em riste pronto a disparar, por uma questão de segundos não fui baleada tudo porque queria dinheiro, e mais dinheiro e a confiança do Harry para ele valia pouco, ele precisava de mais e talvez ver-me morta fosse realmente aquilo que desejasse, ninguém para competir com ele, mais ninguém para subornar a atenção do Harry, e uma mão cheia de notas, da ultima vez que o vira, deixara-o no meio de uma tempestade numa estrada secundaria, agora ele estava lá em cima no escritório do meu...do Harry.

Durante o resto do dia não havia tido notícias no Harry, o silêncio era mais doloroso do que a fala, mas fazia-me sentir ignorante, se ele não falasse talvez a miséria se tornasse menor, talvez pudesse esquecer os olhos azuis apontados a mim como miras, eu percebi que ele ficara surpreendido por me ver, uma parte de mim sabia que me tinha entregado como uma presa fácil mas eu não podia adivinhar porque ele não confiou em mim, mais uma vez o silencio dele estava a intoxicar a minha mente.

Às cinco sai do trabalho, não tinha feito nada de especial, nem sequer conseguia pensar corretamente quando sai para ir molhar a cara á hora de almoço, o meu estomago tornou-se numa bola e cada passa que dava em direção ao metro fez-me odiar ainda mais o Matt, ou o Harry eu não sabia exatamente a quem direcionar a minha raiva, o sentimento de medo e impotência estava de volta, o mesmo sentimento de quando corri pela minha vida, de quando vi o Harry sangrar até á exaustão no escritório em casa, o mesmo sentimento, parecia abater-se mais a cada passo que eu dava, e quando dei por mim já na estava no metro, ou em qualquer outro lugar que desse para casa, os meus pés pisavam a relva fria enquanto atravessa o canto norte do central parque, os ciclistas, as pessoas a correr atrás dos filhos, e do que estava eu mesmo á procura? De uma desculpa para tornar a traição do Harry menos dolorosa? Era isso? Eu ia desculpa-lo como fizera a dois dias atrás? A minha avó disse-me para escolher bem as minhas batalhas, o Harry não ter estado cá foi uma batalha que deixei sem vencedor, mas agora? Isto é o meu espaço pessoal, o recanto mais escuro da minha mente, as memorias mais negras de que tenho lembrança, isto é quando ele cruza a linha da dor.

Vision 3 - The SentenceWhere stories live. Discover now