A luz entra pelas janelas enormes, e vejo a água ao longe. É relaxante a maneira como o som me deixa calma, a maneira como a respiração suave do Harry bate na minha orelha, o meu cabelo está espalhado pelas almofadas, assim como o do Harry. Ele parece tão bonito, a maneira como o corpo se mexe lentamente para acompanhar a respiração, o espaço entre os lábios...eu gostava de poder manter-me assim pela eternidade.
Sento-me na cama de madeira clara e vejo o meu reflexo no espelho. Estou mais velha, estou definitivamente mais velha. Olho para o Harry novamente e ele mesmo parece mais velho, tenho o que idade? Trinta? Quase quarenta? O lençol escorre pelo meu corpo e fico nua quando me levanto, caminho com passos hesitantes e enrolo-me no meu robe branco, desço as escadas e passo por um corredor antes de chegar á cozinha, o meu chá está quente e uma nuvem de fumo sobe, franzo o sobre olho e levo a caneca aos lábios. Humm.
-Está bom?
-Muito.- Murmuro.
-Ainda bem.- Um arrepio percorre-me a espinha, e o meu couro cabeludo arrepia-se, levanto a cabeça e um par de olhos azuis frios fita-me.
-Matt...- Não pode ser, ele desapareceu á anos.
-Olá Sophia, estás diferente.- Estou mais velha.- Não te acanhes, preparei-te um chá.
As mãos dele estão em cima da mesa, por isso posso ver por onde se mexe, á cicatrizes feias nas suas mãos. Sinto o meu estomago apertar. Estou com medo.
-O que estás aqui a fazer? Como é que entraste?- Falo baixo, não quero acordar o Harry...ou quero?
-Oh tu sabes, a preparar a ultima dança.- Ele encolhe os ombros. A mão dele aproxima-se do meu cabelo e um dedo comprido enrola-se em torno de uma mecha de cabelo.
-É engraçado sabes? Sei que estou morto, e tu também sabes, mas mesmo assim ainda posso sentir e cheirar o teu medo.
Estou perdida, confusa.
-Como assim?- Morto? Vivo? Olho pela varanda enorme que dá para a relva e vejo a água.
-A tua mente é fascinante, e intriga-me.- Ele não sabe do que sou capaz...
-Tu não devias...
-Saber?
-Sim...
-E não sei Sophia, não estás a entender? Estou dentro de ti, da tua cabeça, sou o monstro que alimenta todos os teus medos, sou o monstro que te faz agir de forma egoísta, tu deste-me uma cara, só isso.
Fecho os olhos, a minha consciência luta contra este universo que criei durante o sono. Começo a perceber, a sentir-me presa dentro de um corpo que ainda não é meu. É sufocante.
-Estás amarrada em nós. O teu medo amarra-te a ti mesma.'
Não. Não. Não.
-Estás a tentar libertar-te mas não consegues. Estás a sentir-te apertada dentro de um corpo onde não devias estar.
-É um sonho.- Murmuro na minha cabeça, mas as palavras estão prestes a saltar da minha boca.
Os olhos azuis brilham com uma aura maligna e lentamente começo a repetir as palavras na minha cabeça. Olho para a baixo e as minhas mãos estão viradas com as palmas para cima, as linhas parecem direções a seguir.
-Fascinante.- A imagem de Matt desfaz-se á minha volta, pequenas partículas de pó contra a luz do sol que está a pôr-se.
Levanto-me e volto a subir as escadas, quando me olho ao espelho sou eu quem me acena. A Sophia que está a dormir. Volto-me para olhar para o Harry mas a única coisa que encontro é uma cama feita.
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Vision 3 - The Sentence
FanfictionSentado, numa cama de hospital, sozinho, ele lembra-se da ultima vez que se sentiu assim, abandonado. Fecha os olhos e lembra-se da mãe, depois reage como sempre reagiu. Com raiva. Porque se ela se tinha ido embora, ele tinha ficado, e se ela achava...