115ºCapitulo

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O meu corpo parece pesado e a sensação que primordial que tenho neste momento é que fui atropelada por elefantes, elefantes grandes e demasiado pesados. As minhas costas doem-me tanto que não tenho a certeza de serem ainda costas. Será possível perder a coluna? Porque é que estou a pensar nisto? Estou a falar? Tenho sono...

Os meus pés sentem-se frios com a areia fina e molhada que se infiltra pelos espaços dos meus dedos. O mar faz barulho ao meu lado e posso vê-lo bater-me nas pernas, mas não me molha. Olho para cima e vejo alguém a caminhar em direção, é como um vulto que me parece estranhamente familiar. Tento com força localizar-me e sei que já vi este lugar em algum lado...não fisicamente pelo menos.

-Sophia.

O vulto foi-se mas oiço a voz na minha cabeça. Sento-me na areia e deito-me. Respiro fundo e deixo que a água me toque. Suspiro calmamente e viro a cara para o lado. Abro os olhos e vejo o meu reflexo transformar-se. Os olhos do Harry aparecem no lugar dos meus e o cabelo cresce lentamente. A minha respiração corta-se quando observo o fantasma que me perseguiu durante todos estes anos ganhar forma. Um sorriso ganha forma no seu rosto e ela aponta para cima. Não quero desviar os olhos dela, mas alguma coisa me gira o pescoço em direção ao céu que ganha uma tonalidade cinza escura. Sinto a mão dela segurar a minha e depois uma imagem de mim aos dezasseis anos aparece. Estou na cama, a contorcer-me... estou a ter um pesadelo.

-Sonhaste com aquilo que virias a viver. Alguém te tentou matar, acordaste antes de o fazerem, porque virias a escapar também na realidade.

A voz dela vibra e a lembrança do pânico parece engolir-me. A próxima imagem sou eu sentada no sofá no apartamento na universidade e o Harry encostado á parede atrás de mim, os seus olhos estão em mim enquanto eu vejo alguma coisa no computador. Há uma sequencia de imagens até que a cara do Dean aparece e o aperto na minha mão aumenta. Viro a cabeça e vejo enquanto lágrimas lavam o seu rosto.

Percebo agora que para além do Harry ter feito algo horrível ao seu irmão, mesmo que em legitima defesa, esta mulher teve um dos seus filhos morto por outro.

-Ele teria sido bom, se eu também tivesse sido.

Olho para os olhos dela enquanto me lembro de algo que o Harry me disse acerca do seu pai.

-É verdade o que Mr.Styles diz sobre si?

Ela suspira e acena com a cabeça.

-Eu nunca fui boa, não o suficiente, estava sempre á procura da próxima coisa, e o pai dele era demasiado para mim. Queria que eu fosse uma mulher que não existia. Eramos horríveis um para o outro, sempre fomos, mas quando o medo nos consome paralisa-nos e fui egoísta, só pensava em mim, tinha dois filhos e nunca me preocupei em como as minhas ações os afetariam. Sei que ele sofreu mais do que ela, e nunca me vou perdoar pelos danos que lhe causei.

Quero dizer-lhe que está certa, mas sei que eu estaria errada.

-Acho que devia. - Murmuro e vejo a cara do Dean mudar para a do Matt, e a seguir uma sequencia rápida de imagens minhas sozinha.

-Ele nunca a culpou nada, ele é bom até ao osso, e embora tenha canalizado a raiva para o pai dele...- Encolho os ombros.- Já deixou ir.

Um tempo silencioso apodera-se de nós e sinto-me adormecer de tudo novamente, confinada ao espaço da minha mente onde a minha voz faz eco. Sinto-me pesada e sei que devia estar a fazer alguma coisa, ou a dizer alguma coisa, mas estou presa aqui dentro. Sinto alguma coisa no meu braço, é molhado. Tento mexer-me mas não consigo.

-Está tudo bem...- A voz rouca do Harry sussurra e quero sorrir mas não consigo.- A mamã está bem.

Oiço a rouquidão da sua voz partir-se no final e o meu coração salta. Ele está com o bebé, e está triste... vou mesmo ficar bem? Sinto o escuro engolir-me outra vez e preparo-me para me deixar levar.

Vision 3 - The SentenceOnde histórias criam vida. Descubra agora