Vinte e Nove - Parte Dois

1.4K 142 31
                                    

【25 de Dezembro de 2013

『 Emma Reed

Abro os olhos, após relembrar os momentos do dia anterior, deparando-me com um cenário diferente do normal: há balões suspensos por todo o redor da minha cama. Reclamo sozinha, escondendo a cara na almofada. Hoje é o meu aniversário. Por momentos havia-me esquecido de tal dia. Será que consigo voltar o tempo atrás?

Levantando, de novo, a minha cabeça vejo que há cartões apegados a cada balão. Agarro num, puxando-o para perto de mim, vendo o conteúdo do objeto pendurado. Isto não são cartões, afinal. São fotografias. Fotografias que me incluem com várias pessoas.

Observo a fotografia que se encontra na minha mão, visualizando-me com a minha mãe há uns anos atrás. Éramos apenas nós as duas presentes na imagem. A minha mão está posicionada por cima da sua barriga, que na altura estava grande, mostrado o momento da carícia que oferecia à mulher. A minha irmã estava lá dentro, crescendo e transformando-se. E quem capturou a circunstância foi o nosso pai. Lembro-me do dia da fotografia. Tínhamos acabado de chegar à praia que visitávamos no verão. Era outono, quase inverno. O frio agarrava-se aos nossos corpos mas estávamos muito felizes para haver preocupações com isso. Adorávamos o mar, o cheiro da maresia, o som das ondas a bater nas rochas, a imagem da água subir e descer por cima da areia molhada. Todo aquele horizonte era mágico de se ver. No entanto, a rapariga da fotografia era igual e diferente a mim: igual pois tínhamos os mesmos genes, diferente porque deixei de ser inocente.

Solto o balão, vendo-o subir devido ao hélio dentro dele. Desvio as camadas de tecidos de cima de mim, procurando saber o que mais se encontrava nas fotografias.

Outra fotografia pousa na minha mão. Duas raparigas estão abraçadas, uma loira e uma morena. Era eu e a Stephanie. A nossa viagem na montanha russa havia terminado quando a rapariga pegou no seu telemóvel para imortalizar a adrenalina que ainda percorria pelos nossos corpos, deixando-nos num êxtase fantástico. Esta memória não tinha muito mais que dois anos. E em dois anos, tudo mudou.

A terceira fotografia que reparo é com a Cassie. O panorama atrás de nós era do parque onde dei o primeiro beijo com o Brian. A relva fazia contraste com o vestido vermelho que a mais nova vestia e com as minhas calças pretas e a minha camisa branca. As minhas pernas estavam cruzadas, dando-lhe a perfeita altura para a pequena apoiar o cotovelo no meu membro inferior e pousar a sua cabecinha na mão. Ela embirrava quando o nosso pai pedia para tirar fotografias, não por aparecer nas mesmas mas porque ela queria correr, brincar, fazer qualquer coisa além de estar quieta à espera do som da captura de imagem. Isso explica a cara de zangada nesta fotografia.

Pegando nesta nova imagem sorrio ao relembrar o dia: era o meu oitavo aniversário. Distraída como ainda sou, a minha atenção foi tomada por algo pois, quando a fotografia foi tirada, apenas apanhou um dos lados do meu rosto. A Stephanie e o Jayden encontravam-se atrás de mim, juntamente com alguns dos meus primos. Mas uma coisa que sempre achei engraçada nesta fotografia é que o Jayden estava a olhar para mim, a sorrir. A sua alegria era evidente, tão transparente, tão verdadeira! Tenho saudades de quando via-o sorrir assim.

Seguro num outro cartão rectangular e vejo com quem me encontro: o meu pai. Aquele homem que eu admirava, que achava ser um super-herói à noite, aquele que achava que me iria proteger de tudo e todos, estava a segurar-me no seu colo. Com a luz proveniente da janela vejo que há algo na parte de trás da fotografia, e ao girá-la, as lágrimas que estava a tentar segurar caem. Era a sua letra e as suas palavras que estavam inscritas. Nunca te vou deixar. O pior de tudo é que acabou por deixar.

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now