Seis - Parte Um

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O telescópio é um objeto que permite estender a capacidade dos olhos humanos de observar e mensurar coisas longínquas. Há vários tipos de telescópios: azimutais, ópticos, raio-x, raios gama e de radiação infravermelha. Mas o que falta inventar é um telescópio que dê para ver os sentimentos, os pensamentos, as intenções do ser humano. Tudo isto também é longínquo e é necessário algo suficientemente poderoso para decifrar o que vai na mente de uma pessoa. Apesar de ficar sem privacidade pois estar-se-ia a invadir o mais íntimo dos íntimos, seria bom saber o que alguém quer ou pensa de ti. Seria necessário para evitar mágoas, dores, corações partidos, tristezas, desilusões. Mas, infelizmente, algo assim ainda não foi inventado, então apenas nos resta sofrer e rezar para que tudo fique bem.

∞ ∞ ∞

【 27 de Setembro de 2013 】

『 Emma Reed 』

O dia da ida ao cinema chegou. O Jayden havia mandado uma mensagem a dizer a hora do cinema, juntamente com um pedido para chegar uns minutos antes para comprar as pipocas, as bebidas e encontrarmos o lugar indicado.

Quando chegamos à hora marcada, o rapaz de cabelo encaracolado já lá estava, esperando por nós. Na sala de cinema já se encontrava a dar os anúncios publicitários de outros filmes, chamando atenção das pessoas para as próximas sessões. Encontrados os lugares, sentamo-nos: o Jayden no meu lado esquerdo e o Brian no meu lado direito. Ficar entre estes dois rapazes é um tanto desconfortável pois não sei se devo ou com quem devo falar. De uma forma irónica e metafórica, estou entre o meu passado e o meu futuro, - ou assim espero - respetivamente.

"Então, o filme é sobre o quê?" O Brian perguntou ao Jayden.

"É de assassinos em série. Não li a sinopse nem vi o trailer, mas o poster parecia altamente."

Isto é uma má ideia. Nem sei para que aceitei vir se não gosto de filmes de terror. Isto não vai ser nada bom para a minha estabilidade mental, se é que ainda me resta alguma. Estava tão alterada pelo Jayden ter-me dirigido a palavra que aceitei sem pensar. Isto não vai correr bem e o Brian vai-se rir da minha cara, tal e qual como fez da outra vez.

O filme começa e a primeira coisa que aparece no ecrã é uma rapariga loira a preparar-se para o banho. Segundos antes de retirar o roupão, um homem com uma voz grave liga para o telefone de casa, mas ela pensa que é uma partida após ter falado com ele. Ela volta para a casa de banho, retira o roupão e o homem da máscara entra na casa, enquanto ela desliza pela banheira, relaxando. Ele entra na casa de banho, sem ela ouvir qualquer barulho já que colocara música, acabando por a matar.

Provavelmente não seja real, nunca aconteceu, mas os efeitos fazem-no parecer que está mesmo acontecer. Não consigo evitar se não arranhar a minha mão esquerda com as unhas da minha mão direita para me manter calma - não sei se o faço por causa do filmes ou pelo facto de a pessoa que eu mais confiava e que me magoou está ao meu lado. Mas no momento que o ia fazer, o Brian pegou na minha mão e entrelaçou os seus dedos com os meus, dando-me um sorriso. Retribui-lhe o gesto, agradeço-lhe mentalmente pelo que fez. Quando olho para o ecrã gigante reparei, pelo canto do meu olho, que o meu ex - ou talvez atual - amigo estava a mirar as nossas mãos. Não olhei diretamente para ele pois não o queria encarar.

Cada vez que aparecia sangue ou havia um barulho muito alto quando eu não estava à espera, apertava a mão do Brian. Numa das partes assustei-me tanto que tapei a minha cara com as minhas mãos e a dele. Cheguei ao ponto de pensar que o estava a magoar, mas como o ouvia a rir, naturalmente das minhas figuras, apertei-lhe mais a mão para ele não o fazer.

Na última parte do filme, deixei de fazer qualquer esforço brusco para esconder o meu medo. Não fiquei totalmente calma, longe disso, mas fiquei lá, quase quieta, fazendo pequenas rodas na palma da mão dele. Era macia - mas com pequenas veias fazendo relevo na parte da frente e rugas profundas na parte de trás - e quente. Nos últimos minutos, quando estavam quase para descobrir quem era o assassino da máscara, fiquei a admirar e a brincar com o seu braço.

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now