Sete - Parte Dois

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【 18 de Outubro de 2013 】

"Irei falar com ele na segunda-feira." Levantei os olhos para o ver. "Porque estás a olhar para mim assim?" A sua atenção estava depositada na parte inferior da minha face, o que eu supus ser os meus lábios. Será que tenho alguma coisa lá? Alguma espinha perto da minha boca?

"Nada." Sorriu. Revirei os olhos à sua resposta. Ele faz sempre isto. Fica a olhar para mim sorrindo e depois quando pergunto o porquê de estar com aquela reação ele simplesmente diz nada. Parvo. "Falas com ele amanhã! Assim vinhas comigo."

"Não. Nada disso. Não. Nem penses! Brian, ele não me convidou, porque haveria de ir?" De maneira nenhuma iria ao aniversário do Jayden. Seria embaraçoso porque esteve mesmo à minha frente e nem me convidou. Nem a palavra me dirigiu, para ser mais precisa. Raiva e mágoa são o que sinto quando me lembro dele, no entanto, ainda tenho esperança que algo possa mudar. Como sou parva por esperar que alguém me dê algum valor! Aliás, ele quer tanto ser popular que estragou a nossa amizade para atingir o seu objetivo. Ou talvez eu não valha nada para ele. Será que alguma vez fui importante para ele?

"Por favor? Ias à festa, porque ele disse para espalhar a palavra e estou a fazê-lo. E era uma desculpa para vires comigo, tu sabes que queres vir comigo!"

"Não!" Cruzei os braços por cima do peito ao mesmo tempo que cruzei as pernas.

"Vais, sim!" Aproximou-se de mim com o braço direito nas costas do banco e a mão esquerda em cima do seu joelho, de forma a ver a minha face por inteiro. Apesar de estar a olhar para o horizonte, conseguia ver pelo canto do meu olho que ele estava a sorrir com uma cara de caso, como se estivesse a planear algo.

"Não, não vou!"

"Vais, sim!

"Não vou!"

"Vais."

"Já disse que não!"

"Tens a certeza?"

"Sim!" O braço que há pouco estava em cima do banco e o que estava em cima do seu joelho foram ter à minha barriga, um em cada lado. Imediatamente começaram a mexer-se no meu abdómen, fazendo-me cócegas.

"Não, Brian! Para!" Mas ele continuava. Entre o som das minhas gargalhadas e os meus olhos fechados de tanto rir, conseguia ver o seu sorriso divertido e amoroso ao mesmo tempo. "Brian! Brian! Eu vou-te matar!" Com o alvoroço todo eu ia cair, então ele colocou uma das suas mãos atrás das minhas costas e a outra na cintura. Ele estava ligeiramente por cima de mim, para não me deixar bater com as costas no banco.

"Continuas a dizer que não queres ir?" Ele deu-me um sorriso.

"Sim, continuo! Não vou lá fazer figura de parva. Ele nem sequer vai querer falar comigo por causa da festa e de todos os amigos que tem."

"Emma, diz que vais à festa!" Mandou-me.

"Não. Não vou!" Assim que acabei de falar, as suas mãos abordaram-me de novo. Eu já não aguentava mais. Ele estava a prender-me para não fugir durante o seu ataque, o que piorou tudo. "Brian!" Gritei no meio dos meus risos. A minha respiração estava forte e rápida. "Eu vou! Eu vou mas para, por favor!" Os seus dedos não pararam. Não me deve ter ouvido. "Brian! Já disse que ia, pára, por favor!"

"Eu ouvi-te!" Respondeu-me pondo um das suas mãos de novo nas minhas costas, puxando-me para o seu corpo. "Só queria continuar a ouvir as tuas gargalhadas." Continuou. Eu sentia algo entre nós, a puxar-me para si - e não era a sua mão. Era algo invisível, no entanto, palpável.

"Hum," Tirei a sua mão de mim. "Eu vou para casa. Falamos mais logo. Talvez. Até já."

O que raio se passa comigo?

∞ ∞ ∞

【 19 de Outubro de 2013 】

O sol emita um calor agradável através da janela do meu quarto, fazendo-me acordar naturalmente com o brilho que refletia contra as paredes.

Levantando-me, decido tomar o pequeno-almoço. Quando entro na sala de estar/cozinha, a minha irmã já estava no sofá a ver os desenhos animados e a minha mãe deve estar no quarto. Preparei a minha taça de cereais e sentei-me ao lado da minha parente, com as pernas em cima do mesmo.

"Disseste que me ias levar a conhecer a irmã do Brian, e não o fizeste." Pronunciou com a sua voz de criança amuada, desviando a sua atenção do ecrã olhando para mim.

"E vou, Cass! Que tal amanhã?" Tentei dar o meu melhor sorriso de desculpas, apesar de não ter culpa de nada.

"Boa! Quero amigas novas!" Deu pequenos saltos no sofá fazendo-me rir da sua inocência.

Amigos. Tudo o que ela pensava era em amigos e como é bom tê-los. A sua ingenuidade faz-me perceber o porquê de eu nunca ter gostado de crescer. Com toda a certeza que eu gostava de ter ficado criança para sempre, nunca ter descoberto que o mundo é um lugar cheio de coisas desagradáveis que acabam por afastar as coisas boas. Ela ainda não passou por aquilo que passei e espero nunca o passar. Ainda não percebe que os amigos são pessoas que passam de raspão pela vida. Uns ficam durante alguns anos, afastando-se à medida do tempo, apesar de ainda se falarem. Outros fazem a sua magia em nós e por breves momentos ficam, mas quando partem deixam uma dor tão grande dentro de ti que por instantes, é como se o teu mundo desmoronasse e não tivesses o poder de o compilar. A vida é assim. Ninguém é permanente nos teus anos de existência. Apenas ficam memórias e recordações que um dia irão desvanecer, tal como os que presentes nelas estão. Aos poucos e poucos, a tua mente vai apagando pequenas lembranças, pequenos detalhes que um dia foram duradouros na tua cabeça. E dói! A saudade dói profundamente, porque uma vez recordação, sempre recordação. Mesmo que a pessoa volte, a relação será diferente. Mas a saudade é um sentimento positivo, no meu ponto de vista. A saudade é o que nos faz lembrar que foi verdadeiro!

Atrevo-me a dizer que eu e a Cassidy nem parecemos que saímos de dentro da mesma mãe, apesar de o ADN comprovar o contrário. Sem dúvida que não anseio por amigos. Confiança é uma coisa muito importante para mim e algo que aprendi ao longo dos anos foi que demoro muito a confiar ou chego mesmo a não crer a cem por cento. Talvez ela vá aprender isso. Confiança é uma coisa que tenho pouca nas pessoas. A verdade é que deixei de confiar em ninguém se não em mim. No fim do dia, só podes contar contigo mesma. Esta é a verdade, não estou a ser negativa - pelo menos não agora. Não podes contar com alguém vinte e quatro horas por dia. Mesmo que ela te diga que sim. Ela também tem os seus problemas e a sua vida. No fim do dia, tens de te desenrascar sozinha e confiar só em ti.

Quando acabei o pequeno-almoço, pousei a tigela em cima da mesa de café e puxei a Cassie para o meu colo, abraçando-a, plantando um beijo carregado na sua face.

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sabes o que poderias fazer agora mesmo? uma coisa de que tens medo. ultrapassa a tua zona de conforto.

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beijos, rainofwords

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now