Três - Parte Um

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Já alguma vez te perguntaste o porquê de usarmos palavras como comunicação? A verdade é que, mesmo sem querermos, a junção de letras não é a única forma de comunicação. A forma como olhas, como te moves também são formas de comunicar, formas de expressar aquilo que sentes e que não consegues dizer por palavras. Decerto já conheces a frase que alguém muito sábio afirmou "Uma imagem vale mais do que mil palavras.". Porém, um gesto, uma atitude também vale mais do que mil palavras. As palavras não passam de palavras, não passam de sons provenientes da tua garganta que deixas escapar pela boca. As palavras podem ser ditas e não sentidas. As palavras são algo que podem desaparecer, podem voar, podem deixar de ter significado. Mas um gesto! Um gesto tem várias interpretações. Um gesto significa mais do que alguém pode imaginar.

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【 20 de Setembro de 2013 】

『 Emma Reed 』

"Aparece aqui às dezanove e meia e vamos no meu carro para a festa." Apontou para o banco que se encontra no meio dos nossos prédios. Assenti e fui para casa, preocupada, nervosa, ansiosa, um turbilhão de emoções.

O que é que haveria de vestir? Eu sabia lá de que era essa festa? Eu nunca fora a um evento juvenil, onde envolvesse a presença de tantos adolescentes no mesmo espaço.

Quando abri o guarda-vestidos, desviei os cabides, tentando encontrar alguma roupa que fosse suficientemente bonita para me incorporar. Nada seria bom de mais, mas algo captou a minha atenção: o vestido. Além de ser o único que possuía, foi o último presente que o meu pai me dera antes de partir.

Ele sempre soubera os meus gostos muito bem, dando-lhe a possibilidade de me oferecer algo que me agradasse. Ainda que seja fora da minha zona de conforto, obriguei-me a vesti-lo. Não queria chegar à casa da Karen de qualquer maneira. Não queria aparecer em frente ao Brian de qualquer maneira.

O tecido encontrava-se, ainda, no cabide, encostado ao meu corpo e ambos estávamos à frente do espelho. O mesmo detinha um padrão floral leve, um pouco mais curto à frente do que atrás.

Coloquei-o em cima da minha cama e fui procurar algo para calçar. Quando abri um outro armário, debaixo da minha televisão, peguei nos meus botins pretos e coloquei-os em frente ao vestido. Fui até à casa de banho e abri a gaveta que continha a minha maquilhagem. Ela estava praticamente intocável, visto que uso pouca.

Comecei por lavar a cara com água fresca e por colocar o creme hidratante. Pus o pó solto para matificar tudo. Para os olhos coloquei eyeliner preto e na linha de água. Coloquei um pouco de sombra castanha para dar profundidade e, por último, coloquei máscara de olhos. Nos lábios, decidi colocar um pouco de gloss na cor coral. O meu cabelo estava ao natural, com as ondas da trança que faço todas as noites.

Dirigi-me ao pé da minha cama e despi a roupa que utilizei nesse dia.

Com o vestido e os botins já em mim, fui procurar o fino cinto castanho que possuo para colocar à minha cintura. Olhei-me ao espelho, observando a imagem reflectida de mim. Não tinha a certeza se o devia usar, em qualquer situação que fosse. Ele lembrava-me em como o meu pai me falhou. Em como falhou com a minha mãe e a minha irmã mais nova.

Ocultei os meus pensamentos e chamei pela minha mãe, tentando perceber se o conjunto feito por mim estava minimamente bom. Não estava, decerto, ao nível dos jovens adultos que tanto frequentavam festas e que eram sociáveis. Mas foi o máximo que consegui fazer, não havia volta a dar.

"Porquê esta gritaria toda?" Respondeu, entrando no meu quarto, a sua voz enfraquecendo enquanto os seus olhos viajavam por mim. "Onde é que vais assim?" Disse bloqueando, finalmente, os seus olhos nos meus. Estavam cheios de surpresa e pode ver um pequeno brilho.

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now