Dez

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É complicado perceber o que vai na mente de uma pessoa. Ninguém consegue ler a pensamento de outro ser humano, mesmo que tente, isso é impossível. Há escolhas, ideias, reflexões que se tornam previsíveis assim que conheces a pessoa, mas não consegues saber exatamente o que se passa lá dentro. E isso dá uma certa magia à vida: podes imaginar com o que queres que a pessoa pense, há o suspense entre o momento em que perguntas o que a pessoa pensa até ao momento em que ela responde, há a manifestação da curiosidade dentro de ti para saber desesperadamente o que se passa dentro da pessoa. E nós, sendo seres tão inteligentes como dizemos ser, temos a tendência de concluir suspeitas sem ter convicção. Então assumimos dúvidas como certezas. E assumir dúvidas pode causar problemas.

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21 de Outubro de 2013

Emma Reed

Os meus olhos doem devido ao choro dos dias anteriores. A minha cabeça lateja a cada segundo. O meu corpo implora que fique quieto, mas não posso: tenho de ir para a escola.

Dirijo-me à cozinha para fazer o meu pequeno-almoço. Ainda é cedo para estarem acordados, eu apenas não conseguia dormir mais.

Preparo-me como nos dias anteriores e, por fim, pego na mochila, coloco música no meu telemóvel e ponho os fones nos ouvidos, saindo pela porta do meu apartamento.

Quando saiu pela porta do prédio, vejo que o Brian não está costuma estar. Já deve ter ido para a escola, sem mim. Ainda deve estar chateado. Eu continuo chateada comigo, como ele não haveria de estar? Eu só faço asneiras. Ele tinha mandado mensagem durante os dias anteriores que queria falar comigo, mas nunca lhe respondi. Porque haveria? Ele quer acabar com a nossa relação, aposto. Espera, relação? Que parva que sou. Não temos nenhuma relação! Ele quer voltar aos seus amigos, corrijo. E é por isso que querer falar comigo.

Apesar de estar um sol radiante, o vento frio parece pedaços de gelo contra a minha cara. Abraço-me e tento aquecer-me com as minhas mãos, esfregando-as de cima para baixo nos meus antebraços.

Estava a metros de entrar na escola e os olhos já estavam postos em mim. Bolas. Mas será que toda gente teve de ir à festa? E quem não foi de certeza que ouviu alguma coisa.

Ainda faltavam quando dez minutos para o toque de entrada e como não queria esperar ao pé da porta, fui em direção à casa de banho. Passo pelo enorme corredor da escola e mais olhos fixam em mim. Vozes e barulhos ouvem-se, já que coloquei o volume mais baixo para tentar ouvir o que diziam. Fiz o resto do caminho cabisbaixo, não queria ver todas aquelas caras desconhecidas a olharem-me como se me conhecessem. Fechei-me num dos cubículos do WC das raparigas. E sem me aperceber, lágrimas soltaram-se imediatamente sem permissão do meu cérebro. E eu que pensava que estava tudo bem.

Sentei-me em cima do tampo da sanita e puxei os meus joelhos para o meu peito, agarrando-os com força, ao som das melodias que tocavam no aparelho eletrónico.

Não percebo porque tenho de ser assim. Porque tenho de estragar sempre tudo. Eu só queria que, por uma vez na minha vida, conseguisse fazer algo que deixasse alguém orgulhoso de mim. Deve ser ótimo sentir essa sensação. Deve ser como estar no topo do paraíso já que sentir que deixaste alguém desiludido é como estar no fundo do inferno.

A minha mente está a ficar negra novamente. Eu quero fazer de novo, mas há algo em mim que me está a impedir. Não sei o quê ou o porquê se sempre o fiz sem problemas. Agarro os meus cabelos com força como se isso me fosse impedir de pensar. Apenas me pôs com mais dores de cabeça.

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now