Evanescente (#1 Evanescente série)

Trinta e Um

NOTA: CONTÉM LINGUAGEM EXPLÍCITA.

Não é engraçado como as coisas podem ficar melhores quando estão mal? Isto pode parecer confuso mas é a verdade. "Há males que vêm por bem." É triste saber que, às vezes, é necessário passar por algo mau para apreciarmos as coisas boas, para darmos valor a quem está connosco, para nos aproximarmos de quem gostamos. Isso devia acontecer naturalmente sem haver qualquer circunstância que nos levasse a essa ação.

Não é engraçado como as coisas podem ficar mal quando estão melhores? Supondo que quem inventou aquela frase tenha razão, o contrário também é correto, não é? "Há bens que vêm por mal." Infelizmente, quando algo está a correr bem, muito bem, há sempre outra coisa que te puxa para trás, que te priva de te sentires completamente feliz. E isso dói. Dói porque começas a sentir-te mal por estar feliz já que há algo que contraria o que sentes.

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【10 de Janeiro de 2014 】

『Emma Reed 』

Fecho os olhos tentando, de alguma forma, apagar todas as imagens da minha mente mas só as faz tornar mais vivas. Porque não se vão embora? Apenas quero apagar as memórias das últimas semanas e dormir durante dois dias inteiros. Eu só queria que tudo ficasse bem. Só queria que, alguma vez na minha vida, algo corresse bem.

Sinto uma mão nas minhas costas, massajando-a. Só podia ser uma pessoa e agradeço mentalmente por o estar a fazer.

"Tens andado tão cansada. E distante." A sua voz parece fazer eco na minha cabeça devido às dores na mesma que estava a ter. "O que se passa, Emma? Fiz alguma coisa que não devia ter feito?"

"O quê?" A sua preocupação alertou-me de imediato, fazendo-me rodar a cabeça instantaneamente. "Brian!" Acarinhei a sua face, vendo os seus olhos fechar com o meu toque. "Tu não fizeste nada de errado. Nunca farias."

"Então o que se passa?" Os seus olhos abriram e pediam-me uma explicação que, infelizmente, não podia dar. O Jayden fez-me prometer que não contaria o que se passava com ele a ninguém.

"Tenho muito na minha mente. É só isso." Aproximei-me mais dele, depositando um beijo nos seus lábios, procurando acalmar a sua ânsia.

"Queres falar?" Deu-me um último beijo e esperou pela minha resposta. Realmente não sei o que dizer ou fazer. Não lhe quero mentir mas também não lhe posso contar a verdade toda.

"A carta do meu pai. Não me tem saído da cabeça as suas palavras e a decisão que tenho de fazer." Não estou a mentir: isto é uma das coisas que ocupam os meus pensamentos. "Ele escreveu-me uma carta, isso significa que sabe onde vivo. Tudo bem que ele já morou aqui também, mas podíamos ter mudado de casa mas ele enviou a carta para esta morada é porque sabe onde moro, não é? No entanto, nunca se dignou a visitar-nos após estes anos!" Levantei-me, pendurando-me no muro que estava à nossa frente.

O pôr do sol estava com um laranja amarelado lindo, transmitindo uma sensação de paz ao meu desassossego interior. A energia irradiada daquela estrela enorme aquecia a minha pele deixando-me com uma temperatura agradável. Tendo em conta que ainda estamos no Inverno, é bom aparecer um pouco de luz e calor para dar vida a alguma coisa. Os pássaros voam e cantam, livres. Há dias em que gostava de ser um pássaro: ter a liberdade de voar por e para onde quisesse, poder parar ali ou acolá para observar tudo.

"E se, eventualmente, ele aparecesse aqui: o que diria à minha irmã? Ela mal se lembra do nosso pai. Ele deixou-nos ela tinha um ano, pouco mais que isso. A minha mãe não lhe chegou a explicar a situação já que ela não havia perguntado, mas ela está a crescer e já se deve ter apercebido que algo falta na nossa família, só não deve ter juntado as peças. Brian, o que raio lhe vamos dizer? Ela tem seis anos! Ela devia ter o pai presente, também! Ela precisava do nosso pai mas ele decidiu fugir com uma mulher qualquer. O que lhe iríamos dizer? Olha, o teu pai abandonou-nos para construir uma família com outra mulher e agora quer voltar a recuperar o que perdeu. Ela tem apenas seis aninhos. Isto será demasiado confuso para a sua cabeça."