Vinte e Dois

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Passado é uma coisa que muita gente não gosta de relembrar. O passado é uma série de episódios e momentos que se foram formando à medida que o tempo passava. O passado é qualquer acontecimento que aconteceu durante o presente e antes do futuro. O passado é algo que nunca se pode esquecer e é algo que te marca profundamente conforme vives. O passado é cheio de maldades, cicatrizes, memórias, pesadelos, explicações, mudanças, relações, medos, dor, lágrima, saudades. O passado é uma mistura de emoções, nostalgia. A cada segundo que passa é o teu passado tornando o teu presente e o teu futuro rápido. O passado é como uma sereia que te canta e te prende, uma ilusão ou erro que te queima. É demasiado sedutor viver no passado, tanto que, por vezes, esquecemo-nos que já não há nada que possamos fazer exceto viver a vida sem repetir os mesmos erros. O presente e o futuro são totalmente incertos, um mito, e é por isso que é tão fácil viver no passado: ele é certo, limpo, não irá mudar, é confortante. Esquecemo-nos que deixar o passado para trás não é errado. Deixar algo ou alguém ir não quer dizer que seja esquecido. Esquecer

∞ ∞ ∞

1 de Novembro de 2013

Emma Reed

Continuava no colo do Brian, aconchegada com o seu calor humano e os seus braços. As minhas lágrimas tinham parado, apesar de ainda se notar a sua presença na minha pele. Os seus dedos acariciava as minhas costas, sentindo-me relaxada com o seu delicado e carinhoso toque, assim como eu sei que estou a proporcionar-lhe o mesmo prazer no seu pescoço.

"Não és a única que cometeu erros no passado." As suas palavras apanharam-me de surpresa, assim como a intensidade da sua voz. Como se algo o prende-se de falar.

"Eu sei." Eu sabia que não seria nem serei a única a fazer algo de errado no passado, ou no futuro. É só que nem toda gente faz algo a si própria de mal, nem toda gente percebe porque o fiz.

"Eu também fiz."

"Eu sei."

"Sabes que fiz, mas não sabes o que foi." A sua rouquidão assustava-me. Era sinal que esteve a pensar demasiado.

"Bom, não te vou obrigar a contar."

"Eu sei. Mas talvez devesses saber." Sabia que estava nervoso não só pelo tom da sua voz mas também porque não olhava diretamente para mim. E isso assustava-me cada vez mais. "Tudo começou no nono ano. Digamos que já sou muito conhecido desde aí pela fortuna do meu pai, por jogar futebol e essas coisas. Um dia fiz uma festa em casa quando os meus pais não estavam e eles apanharam-me, puseram-me de castigo. Alguns dias depois era o meu aniversário e consequentemente não me deixaram fazer qualquer tipo de festejo, apenas um jantar de família. Eu fui mais cedo para o meu quarto, afirmando que tinha sono mas era mentira."

"Coloquei almofadas na cama, formando o tamanho do meu corpo para tentar cobrir a minha ausência. O meu pai descobriu, novamente, e foi-me buscar à casa da Karen, quem tinha planeado tudo. Passamos o caminho inteiro a discutir por causa de eu estar de castigo e ter desobedecido. O meu pai acabou por se distrair com a discussão e um camião acabou por bater no lado do condutor. Ele morreu no local."

Eu gostava de chorar: era uma forma de libertar o que ia na minha mente sem ter de falar. Mas ver alguém chorar era como apertar o meu coração. Limpei o rasto de líquido salgado que teimava em sair dos olhos com os meus dedos. Ele olhou para mim, os seus lindos olhos agora vermelhos e brilhantes, talvez esperando alguma reação minha mas eu não sabia o que dizer, então pedi-lhe apenas para continuar.

Evanescente (#1 Evanescente série)Where stories live. Discover now