Dois

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Há pessoas que têm diários, sejam digitais ou em papel. Neles escrevem tudo o que acontece na sua vida, em forma de desabafo.

Eu sou do tipo de pessoa que não têm diário, mas que desabafa consigo própria. E há momentos na minha vida que prefiro por na gaveta dos "Esquecidos" na minha mente. Mas torna-se impossível quando esses acontecimentos moldam quem tu és. Torna-se impossível esquecer as circunstâncias quando o que te rodeia te faz relembra-las. Torna-se difícil porque a etapa que se passou é difícil.

A minha decisão de não ter um diário é porque prefiro não gastar tinta e papel com a minha dor, com o meu sofrimento. Basta ser apenas eu carregar este peso, não preciso que um objecto inanimado sofra também.

E o pior de tudo, é que cada vez que me relembro do passado, a tortura que antes vivia dentro de mim constantemente, volta num relâmpago, como se uma força externa me atingisse.

∞ ∞ ∞

16 de Setembro de 2013

Emma Reed

Vergou-se sobre mim mostrando-me o seu sorriso. "Não. Queria ouvir a história."

As suas palavras repetem na minha mente, tentando perceber o porquê de as ter proferido. Passaram cerca de cinco horas desde o primeiro contacto pessoal e ele quer saber coisas sobre mim. Porquê? Porque quer saber o que eu penso sobre si? É porque sou a única que ainda não está aos seus pés? E porque me estou a perguntar isto se ninguém vai responder?

Estávamos parados - ainda dentro da escola - enquanto os estudantes passavam ao nosso lado. Para me distrair do que acabara de dizer, olhei para o lado e reparei que estavam a olhar para mim, coisa que não estava habituada e decididamente não gostava.

"Sabes, estão todos a olhar para ti e para mim." Decidi mudar de assunto.

"Sabes, podias ter dito Estão a olhar para nós que seria mais rápido?" Disse sarcasticamente, mas com um sorriso.

"As palavras têm significado." Respondi-lhe.

"Deixa-me adivinhar, longa história?" O seu sorriso não parecia desaparecer e, honestamente, começava a irritar-me.

"É. Eu vou-me embora. Até depois." Saí perto de si em direção ao portão da escola. Ia a caminho da minha casa quando sinto uma mão a segurar-me no pulso.

"Vais por aquela rua?" Apontou.

"Sim." Confirmei, desconfiando do que o rapaz querida.

"Eu também, posso acompanhar-te?" Começo achar que isto é algum truque. Agora quer acompanhar-me? Só quero que seja lá o esquema que esteja a proceder, que acabe de uma vez.

"Sim." Quanto mais nos afastávamos, mais via pessoas a coscuvilharem. Conseguia ouvir as vozes serem pronunciadas mas não percebia o que diziam, mas a maneira como olhavam para mim e o moreno, indicava que falavam de nós.

"Tenho tempo para me contares a longa história." O Brian interrompeu-me os pensamentos. Reparei que estava a olhar para mim, mas não quis olhar de volta.

"Porque queres saber? Honestamente, não entendo o porquê de falares comigo. Tens tantas raparigas a caírem aos teus braços, pelo que percebi, então porquê eu? Eu que, sei lá, não faço parte da maior parte? Porquê? E ainda queres saber da minha vida pessoal? E queres saber o que penso sobre ti? Isto é alguma armadilha, Brian? Sê sincero, por favor! Juro que se for eu não guardo ressentimentos." Perguntei descaradamente. Sinto-me a ser rude, novamente, mas era a verdade, novamente.

Evanescente (#1 Evanescente série)Onde histórias criam vida. Descubra agora