Doze - Parte Um

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Há um momento em que as flores começam a ficar sem vida, ficam tristes. As pétalas começam a murchar, ficando um castanho-escuro, até que acabam por cair. A cor intensa que as tingia desaparece, o cheiro delicioso desvanece, o caule começa a curvar-se - como se quisesse ficar o mais pequeno possível, como se quisesse esconder-se. O que é, normalmente, esquecido é que sementes são largadas para a terra fértil quando as condições são favoráveis, como pequenas esperanças fossem espalhadas para crescer. E, um tempo depois, uma nova flor nasce.

O ser humano é um tanto parecido com uma flor: a única diferença é que não precisa de meses para voltar a nascer. A cada novo nascer do sol podemos melhorar o que de mal aconteceu no dia anterior. Podemos criar novos erros, novas ideias, novas relações, novas conexões, novos sentimentos, novos pensamentos, novos sonhos, novos objetivos. A cada dia podemos mudar, crescer, ser feliz. E, mesmo que isso signifique ficar vulnerável, um dia valerá a pena baixar a guarda.

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21 de Outubro de 2013

Emma Reed

Aquele momento em que se morresses agora mesmo sentiria que o que levasses na memória te deixaria feliz? Essa sensação tem sido tão rara na minha vida - até agora. Há sempre uma vontade de querer voltar atrás no tempo. Há sempre momentos em que desejavas repetir: porque estás feliz e queres revivê-lo ou porque fizeste asneira e queres corrigir. Mas eu não gostaria de fazer isso. Eu acredito que tudo acontece por uma razão, seja bom ou mau. Então tudo o que eu levo na memória, se morrer agora mesmo, é feliz de qualquer maneira. Porquê? Porque foi isso que me fez quem sou hoje. Se não tivesses vivido todos os momentos maus, como apreciaria os bons? Eu não me arrependo de nada; se aconteceu era para ter sido assim, foi o destino que o programou.

As palavras dele assustam-me. Muito. A forma como me sinto com ele: tão vulnerável. Eu não me sentia assim. Eu não me quero sentir assim. Não quero ser vulnerável à frente de ninguém, não o posso ser. Mas é impossível com ele. Ele faz o impossível: faz-me sentir bem. E se ele me deixar? Porque um dia ele vai-se cansar de mim e vai-se embora, levando um pedaço de mim com ele. Já passei por isso para não querer que aconteça de novo. É isso que temo que aconteça e não posso ser estúpida ao ponto de deixar acontecer de novo.

Ele disse-me que eu era especial para ele. No meu estado mais vulnerável, ele disse-mo. Se calhar foi só para me fazer parar de chorar e porque tinha pena de mim. Ou se calhar sentia-o. Mas ele disse-me, e por muito que me custe a dizê-lo, ele também é especial para mim.

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"Emma! Anda jantar!" Ouvi a voz da minha mãe pronunciar-se.

Pousei o lápis em cima da secretária, dirigindo-me à divisão onde se encontravam. A Cassie estava com os olhos semicerrados e os braços por cima do peito.

"Lembras-te do que disseste há duas semanas?" Dirigiu-se a mim. Abanei a cabeça negativamente, aproximando-me da mesa, confusa. "Disseste que eu ia conhecer a irmã do Brian e ainda não aconteceu! És uma mentirosa!" Virou-se agora para a mesa, virando a cara para o lado oposto a mim. Estava amuada!

"Desculpa, linda. Esqueci-me completamente!" Agarrei-a e virei-a para mim, dando-lhe tantos beijos na face que ela acabou por se rir. Mas logo se lembrou que estava chateada comigo pois a atuação de há pouco voltou.

"Não quero saber. Larga-me!" A sua voz estava num tom de brincadeira, ela não se conseguia zangar comigo.

"Eu ligo ao Brian e pergunto-lhe quando a sua irmã se pode encontrar. Está bem?"

Evanescente (#1 Evanescente série)Onde histórias criam vida. Descubra agora