Capítulo 8

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– Você não pode tá falando sério! Isabella Marie Swan, o que acha que seus pais diriam se soubessem que é isso que vai fazer da sua vida?

Eu apenas podia suspirar enquanto Alice descarregava suas emoções através daquelas palavras rápidas demais. Esme, que estava conosco no quarto, parecia preocupada com a ideia também.

– Talvez você deva pensar melhor, querida – Esme tentou ser razoável. – Nós podemos forjar documentações novas para que recomece sua vida em outro lugar, até mesmo em outro país, se quiser. Quero dizer, ser caçador não me parece...

– Seguro – Alice concluiu. – Edward não gosta nada do Dean.

– A opinião do Edward sobre os Winchesters não tem importância alguma pra mim – respondi mal humorada. – Olha, vocês enquanto vampiros protegem os humanos por onde quer que passem, isso é importante. Eu quero fazer a minha parte, quero ajudar no que eu puder. Vocês não podem ficar aqui guardando minhas costas pra sempre – cruzei os braços.

– É só que... – Alice tombou a cabeça para trás, respirando fundo. – Você vai abrir mão de tantas possibilidades...!

– Eu não vou conseguir viver sabendo que existe um mundo inteiro que eu não conheço e há outras pessoas se ferindo sem que ninguém as ajude – insisti. – Eu não quero que gente como o James fique à solta por aí.

– Mas você vai ter que sujar as próprias mãos com isso – Esme me fitou. – E isso pode ser uma coisa perturbadora.

– É, eu percebi. Eu realmente agradeço a preocupação de vocês. Sem vocês, talvez eu nem estivesse viva agora, mas gente... Eu não posso ficar parada, sem agir. É a minha vida.

– Essa é a sua escolha? – Alice me fitou.

– Sim. Então, vai me falar sobre a visão que teve?

Alice pareceu ter se assustado com o fato de eu me lembrar daquilo.

– Acho melhor a gente falar sobre isso depois. Talvez seja hora de você e o Edward... Sabe...? Ele está no quarto ao lado do nosso. Eles chegaram da caçada há pouco tempo. É melhor falar com ele.

Assenti, ainda que não gostasse nada da ideia. Era preciso dar um fim à aquela situação. Eu precisava enfrentar meu desconforto e deixar as minhas vontades claras.

E quando bati na porta dele, era como se ele já estivesse esperando por isso. Eu podia jurar que havia um esboço de sorriso, alguma espécie de esperança em seu rosto, mas ela logo se dissipou quando eu falei com ele.

– Vem dar uma volta comigo.

Saímos para caminhar pelos arredores do motel, aos fundos, onde as árvores se aglomeravam. Caminhei até um ponto onde imaginei que teríamos privacidade dos olhares alheios e parei para encará-lo.

– Eu não vou voltar pra Forks.

– Por que? – franziu o cenho.

– Eu não quero sustentar uma fachada. Charlie e Renée estão mortos e eu não tenho nenhuma mentira plausível. Mesmo que alguém acredite em mim, eu não quero viver desse jeito. Eu vou aprender a caçar criaturas sobrenaturais com os Winchesters.

– Tá. Tudo bem, faz sentido. Pra onde nós vamos?

Eu o encarei em silêncio até que ele entendesse o recado.

– Quando falou sobre aprender a caçar criaturas sobrenaturais... – ele engoliu a seco. – Estava falando só de você, não é?

– Sim.

– Bella, o que aconteceu no baseball... Aquilo não foi nada...

– Nada comparado ao que veio depois, o meu pior pesadelo. Subestimamos eles e é por isso que eu me tornarei uma caçadora. Eu não pertenço ao seu mundo.

– Meu lugar é ao seu lado – ele deu alguns passos em minha direção.

– Não, não é.

– Eu vou junto.

– Edward... Eu não quero você comigo.

– Você não... Me quer?

– Não.

– Isso muda tudo – ele desviou o olhar, atordoado.

– Se não for pedir demais, pode me prometer uma coisa? Não faça nada imprudente, pelo bem dos seus pais. Eles não merecem mais dor de cabeça. Em troca, eu te prometo uma coisa: eu não vou voltar. Essa é a última vez em que nos falamos.

– Se isso é sobre o que aconteceu no carro, eu prometo que não farei aquilo de novo, eu irei melhorar – ele se aproximou mais, se ajoelhando aos meus pés. – Eu nunca mais te obrigarei a tomar um rumo que não queira, Bella. Por favor – tentou segurar minha mão, no que eu me afastei mais.

– Não é sobre o que aconteceu no carro. É sobre você – o encarei. – Você não é bom pra mim.

– Não sou bom o bastante pra você?

– Não. Não com esse gênio que você tem. Meses atrás, me pediu pra ficar longe e eu fiquei, mas você sempre me perseguiu assim mesmo, se contradizendo, entrando no meu quarto sem que eu percebesse, me vendo dormir, tentando, de todas as formas, descobrir o que se passa na minha cabeça. Isso não é normal e nem bom. Chega disso. Acabou, Edward – me virei para ir embora.

– Bella, eu imploro...! – segurou meu pulso.

– Não! – puxei meu braço. – Se vier atrás de mim, se continuar me perseguindo, eu passarei por cima do respeito que tenho por Carlisle e Esme e vou te matar, está entendendo? Vá embora e não me procure nunca mais.

Lhe dei as costas e continuei caminhando, retornando para o motel, indo direto para o meu quarto.

Era como se um enorme peso tivesse saído dos meus ombros. De repente me senti muito cansada, o sono não dormido se apossando de mim, a exaustão da estrada e da caça ao trio. Apenas me deitei na cama e me permiti um descanso.

~

Eu não sabia muito bem por quanto tempo havia dormido, mas quando acordei ainda estava escuro, no que eu acendi o abajur. Então percebi que havia um bilhete endereçado a mim sobre a mesinha de cabeceira.

O relógio na parede marcava 6h, talvez da manhã, talvez da noite. Havia um lençol sobre mim, que afastei rapidamente, me sentando e esticando meu pescoço, me sentindo dolorida.

Precisava de outro banho, e escovar os dentes, e beber água. Me sentia seca como se tivesse caminhado a horas pelo deserto. Antes de mais nada, voltei minhas atenções para o bilhete.

''Querida Bella,

Sentimos muitíssimo por tudo que tenha acontecido durante o período em que nossas famílias se envolveram e a forma como as coisas acabaram. Não podemos desfazer o que foi feito, e nada que façamos poderá amenizar sua dor, mas esperamos que o que estamos deixando na mochila para você lhe ajude.

Se algum dia precisar de nós, use o celular que deixamos, e não se preocupe, Alice ficará de olho nas decisões de Victoria e Laurent. Você não estará desamparada. Desejamos toda a sorte do mundo a você.

Carlisle''.

– Mochila? – me perguntei confusa, procurando pelo quarto.

E então achei, em baixo da cama. Uma mochila grande, contendo uma porção de documentos novos com o nome Isabella Adams.

Edward ainda se lembrava de que eu era fã de Douglas Adams. Quase revirei os olhos porque sabia que aquela sugestão partira dele. Passaporte, identidade, carteira de motorista...

Um cartão de crédito e uma conta no banco. Um recibo com extrato do saldo bancário que me fez perder o chão.

Quem dava dez milhões, assim, de graça?! Meu Deus, os Cullens não tinham noção nenhuma do quão perigoso era aquilo!

Ao menos eu tinha roupas limpas na mochila, o que era um alívio imediato.

Por onde eu iria começar?

WaywardWhere stories live. Discover now