Capítulo 23

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Água gelada e dois tapas em meu rosto. Pestanejei algumas vezes, tentando enxergar alguma coisa.

Onde diabos eu estava?

Eu precisava me manter acordada, mas estava tão...

Eu nem sabia direito como estava me sentindo. Meu ombro esquerdo doía, assim como meu quadril, e meus pulsos. Estava frio demais. Eu... Eu estava nua, o que fez meu estômago afundar. Eu estava no chão, um chão sujo e poeirento, de madeira. Estava dentro... De uma casa? Uma de madeira velha que parecia estar caindo aos pedaços.

– Acorda, Isabella. A brincadeira já vai começar.

De quem era aquela voz?

Fechei meus olhos com força, os sentindo doer por dentro. Era como se minha cabeça fosse explodir.

Senti meus cabelos sendo puxados e eu fui arrastada pelo chão, minha cintura e minhas coxas sendo esfoladas em farpas de alguma parte, me fazendo gemer de dor. Ouvi grunhidos vindos de algum lugar, e alguma coisa se agitando, se batendo. Ouvi correntes, e foi quando entendi que estavam ao redor de meus pulsos e de meus tornozelos, os mantendo presos.

Meus braços foram erguidos acima da minha cabeça, as correntes presas em algum lugar. Meus pulsos estavam aguentando todo o meu peso naquele momento.

Meu rosto foi apertado pelos dedos de alguém, o fazendo virar para baixo, para que a encarasse. Seus olhos eram vermelhos de sangue. Mais dois tapas.

– Nada de ficar inconsciente de novo, miserável – Victoria sorriu para mim.

Um soco em meu estômago me deixou sem fôlego, meus olhos transbordando pela dor. Alguma coisa havia se quebrado dentro de mim. Coisas, na verdade. Então outro soco, e mais outro, e mais outro, até que eu não conseguisse sequer gemer.

Quando Victoria saiu da minha frente foi que eu percebi que Dean estava preso à uma cadeira, pés e mãos bem amarrados com cordas e um pano em sua boca. Sam não estava ali, o que me dava esperanças de que ele estivesse bem, que estivesse vivo e que talvez, só talvez, estivesse com ajuda para nos encontrar.

– Nós vamos nos divertir muito hoje – ela riu.

– Victoria, por favor... – tentei falar.

– Hm? – ela se virou de costas. – Acho que ouvi uma ratazana falar, será que estou ficando louca?

– Faça o que quiser comigo... – a encarei. – Mas deixe ele fora disso. Eu matei James... Não Dean... Deixa ele ir...

– O que? Deixá-lo ir sem se divertir com a gente? De jeito nenhum, Bella. Eu não faria essa desfeita. Ele vai ficar... – segurou meu queixo, me forçando a olhar para frente, para Dean. – E quero que você veja a luz nos olhos dele se apagar como eu vi a luz se apagar dos olhos do meu amor – sussurrou em meu ouvido. – Mas antes disso...

Um movimento rápido o suficiente para me deixar imediatamente tonta. Eu estava de ponta cabeça agora, o que tornava tudo ainda pior, pois agora eram os meus tornozelos que estavam sendo mais apertados pelos elos da corrente.

Um balde entrou em meu campo de visão, e eu me arrepiei por inteiro. Alguma coisa foi enfiada em minha coxa e começou a me rasgar de uma ponta à outra. A dor me queimava, fazia minha garganta arder enquanto eu gritava, mas o pior era ouvir Victoria gargalhando enquanto continuava a me cortar em lugares diferentes.

– Eu vou me banhar no seu sangue essa noite, Isabella, então sangre bastante. Não quero que nenhuma gota do seu sangue seja desperdiçada.

Meu corpo estava em brasa nos lugares que ela havia me cortado. Eu tremia, pelo frio, pela dor, pelo medo, enquanto minha pele se rasgava, o cheiro de ferro me deixando nauseada. E quando ela se aproximou de Dean, eu me odiei com todas as forças, pela primeira vez em muito tempo, por ser apenas humana.

– Não precisa se preocupar, queridinho, eu não me esqueci de você.

– Saia de perto dele! – berrei enquanto me debatia, tentando, inutilmente me soltar.

Victoria me cortou mais uma vez em retaliação, perigosamente fundo em um dos meus pulsos.

– Espere sua vez novamente, Bella – sorriu e então se virou para ele. – Hm, por onde será que eu começo? Talvez quebrando cada um desses dedinhos? Ou talvez o esfolando vivo? Tantas opções...

Eu podia lidar com a minha dor. Não, na verdade eu não podia, mas eu aguentaria qualquer coisa que ela quisesse fazer comigo, morreria sem pensar duas vezes se aquilo significasse que Dean sairia dali vivo, que ele e Sam continuariam bem, pois eu não toleraria a morte de mais ninguém por culpa minha.

Dean estava à mercê dela e eu estava de mãos atadas. Quanto tempo até que alguém nos encontrasse? Talvez nós não tivéssemos tempo.

Victoria estava quebrando os dedos dele em várias partes e eu não podia fazer nada além de me debater. Eu jurei que me vingaria dela, jurei que arrancaria sua cabeça, jurei que a faria pagar por tudo o que ela e James haviam feito, mas eu não passava de uma humana fraca e indefesa que nada podia fazer ali enquanto aquela maldita vampira continuava a brincar com ele como uma criança mimada brincava com a comida.

O que mais eu poderia fazer?

Deus, por favor, se estiver aí...

Antes dos Winchesters, eu nunca havia pensado muito em demônios, anjos ou mesmo Deus. Em parte porque eu não queria me decepcionar com a ideia de que Ele existia e não se importava, e em parte porque eu temia que Ele e seus soldados estivessem mortos ou mesmo nunca tivessem existido.

Mas naquele momento, enquanto Victoria começava a arrancar as unhas de Dean de uma por uma, eu me rendi ao meu desespero. Eu não tinha mais ninguém a quem recorrer, eu não tinha poder algum.

Por favor, eu supliquei, Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa, darei a minha vida por vontade própria, se for preciso, mas, por favor, não deixe mais ninguém morrer por minha culpa! Deus, por favor, se estiver me ouvindo, salve o Dean!

Eu não sentia mais o meu corpo, ao mesmo tempo em que sentia tudo. Estava entrando em choque? Quanto tempo havia se passado?

Um calor absurdo irradiando de fora para dentro, como se o próprio sol estivesse tentando se enfiar em meu peito. Era isso? Era o fim da linha pra mim?

– Isabella Marie Swan, você jura se dedicar totalmente aos serviços de Deus e seus anjos?

Meus olhos nada viam. Eu não sabia quem estava falando, não conhecia o dono daquela voz, mas me senti compelida à responder. Eu estava morrendo?

– Sim, eu juro.

Eu não tinha nada a oferecer, mas tinha tudo a perder.

– Você jura cumprir Sua vontade e Sua palavra obedientemente como cumpria as de seu pai?

Charlie... Pai... Eu sinto muito... Eu não vou te desobedecer de novo. Eu não vou falhar de novo.

– Sim, eu juro – confirmei novamente.

– Você consente que seu corpo seja usado como instrumento do destino para que Sua graça e misericórdia recaiam sobre vós?

– Sim, eu consinto.

E então foi como se o próprio sol estivesse me engolindo viva.

WaywardWhere stories live. Discover now