Capítulo 25

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Alice Cullen era minha melhor amiga e eu a amava do fundo do meu coração. Ela era uma pessoa maravilhosa, que sempre via o lado bom das coisas e me inspirava a fazer o mesmo, além de me dar ótimos conselhos e ser boa ouvinte. Ela era tão incrível que eu não entendia como um corpo celeste tão brilhante quanto ela era poderia ser amiga de uma pessoa tão introvertida como eu. Outra coisa que eu não entendia era como ela era capaz de me surpreender toda vez...

Porque quando eu vi duas gavetas cheias de lingeries francesas, surpresa não era um adjetivo forte o suficiente para expressar como eu me sentia. Eu sabia que haveria alguma surpresa quando eu chegasse na casa que havia ganhado, mas eu não desconfiava que Alice compraria lingeries nada discretas. Havia algumas normais, de algodão, e eu fiquei mais do que feliz em vê-las ali, mas em sua maioria, eram de materiais que eu não costumava usar e não tinha preferência.

Tomei um bom banho e escolhi as roupas mais confortáveis que encontrei no closet. Um short jeans preto, uma camisa da mesma cor e chinelos. Eu queria aproveitar o que restava daquele dia da forma que eu pudesse.

Penteei meus cabelos, que estavam bem embaraçados e os deixei soltos. Talvez estivessem ficando longos demais. Talvez fosse hora de mudar o visual um pouco, como Alice sugerira.

Quando cheguei à cozinha, vi que Dean estava de avental, um avental rosa cheio de frufrus, e assoviava alguma canção enquanto fazia algo no fogão. Cheirava à carne. Ele estava preparando cheeseburguers e eu prontamente coloquei outro avental e fui ajudá-lo enquanto Sam ainda falava com Bobby enquanto usava seu notebook para pesquisar alguma coisa, sentado na mesa de fora, na varanda.

Aquela foi a primeira vez que jantamos todos juntos reunidos à mesa. Dean estava quase aos pulinhos, feliz da vida por eu e Sam termos aprovado seus cheeseburguers. Pra mim, a verdadeira surpresa estava no fato de ele saber cozinhar, mas então me lembrei do fato de que, quando o vingativo e irresponsável John Winchester saía para caçar, era Dean quem ficava em um quarto de hotel no meio do nada, cuidando de si mesmo e de Sam, ainda pequeno.

Tentei não deixar que aqueles fatos me entristecessem. Nós três estávamos juntos em uma casa nossa, onde podíamos dormir bem e seguros, sabendo que tínhamos um ao outro. Eu não consegui evitar pensar em nós como uma família. Nós três e Bobby.

Aquela casa era, sem dúvidas, o melhor presente que Alice havia nos dado. Além dos dois quartos preparados, banheiros, cozinha completa, sala de estar, varanda espaçosa, ainda tinha uma garagem com espaço para três carros. Havia um andar abaixo do principal, onde mais dois quartos existiam, vazios, um banheiro e a área de lavanderia. Começamos a cogitar fazer de ao menos um daqueles quartos nossa própria biblioteca sobrenatural e a outra a nossa sala de armas, e naquele meio tempo em que precisamos ficar quietos, foi o que fizemos.

Sam e eu compramos muitos, muitos livros. Tanto os de cunho sobrenatural quanto os de literatura mundana, porque, convenhamos, todos precisávamos de literatura ''descartável'' de vez em quando, para relaxar a mente. Dean comprou dezenas de DVDs para fazer bom uso da sala de estar e sua TV.

Algumas modificações precisaram ser feitas. Pintamos Armadilhas do Diabo nas entradas da casa, e a enchemos com talismãs de proteção para ficarmos à prova de demônios e fantasmas. Itens de ferro e prata pela casa toda, muito sal grosso estocado, e outros ingredientes exóticos que poderiam ser usados em feitiços caso necessário.

A casa cada vez mais tinha a nossa cara em cada cantinho dela.

Sam me ajudava a estudar sobre outras criaturas sobrenaturais, nós dois fazendo bom uso dos livros que Bobby emprestava quando eles não encontravam algum caso para resolver e cair na estrada. E no meio tempo em que Sam ia à Sioux Falls para devolver os emprestados e emprestar outros, Dean e eu nos divertíamos na cama. Ele havia, muito para a nossa surpresa, adquirido um gosto pelo universo de Senhor dos Anéis. Pensávamos que ele dormiria assistindo aos filmes, mas não, e havia se tornado um grande fã de Aragorn. Quando percebemos, ele estava com a cara nos livros.

– ''É que da bem-aventurança e da alegria na vida há pouco a ser dito enquanto duram; assim como as obras belas e maravilhosas, enquanto perduram para que os olhos as contemplem, são registros de si mesmas, e somente quando correm perigo ou são destruídas é que se transformam em poesia'' – ele lia o décimo capítulo de O Silmarillion para mim, aninhada em seus braços. – É, ele não tá errado, não – Dean suspirou. – Foi uma forma bem bonitinha de dizer que as pessoas só dão valor às coisas que têm quando correm risco de perder tudo – colocou o marcador no livro e o deixou sobre a mesinha de cabeceira.

– A gente tem o péssimo hábito de achar que o que temos vai durar pra sempre – concluí, e eu sabia que era verdade, porque achava que nada nunca aconteceria aos meus pais e à minha vida de antes, que era um eterno marasmo.

Sete meses depois de eles aparecerem em minha vida, eu havia me tornado outra pessoa, uma que olharia para a Bella de antes e não a entenderia. A Bella de antes evitava falar de seu próprio aniversário e odiava presentes. A Bella de agora ficou mais do que feliz em comemorar seu aniversário com Dean, Sam, Bobby e os Cullen. Era meu primeiro aniversário sem meus pais, o que doía muito sempre que eu pensava, mas estar cercada pelos meus amigos ajudava a amenizar aquele vazio. Agora estávamos no final de dezembro, havíamos até mesmo comemorado nosso primeiro natal juntos.

O inverno em Lawrence era rigoroso, e naquela noite fazia –5°C. Depois do nosso jantar de natal, havíamos nos recolhido para nossos quartos para ficar embaixo dos edredons enquanto as lareiras nos mantinham quentinhos.

Dean beijou minha testa, me abraçando mais firmemente, talvez ainda impactado pelo parágrafo que havia lido do livro.

– E é por isso que eu vou fazer de tudo pra manter vocês dois seguros – disse. – Essa vida é cheia de desgraças, cheias de perigo, e essa calmaria toda...

Ergui minha cabeça para fitá-lo.

– Essa calmaria toda me deixa nervoso, Bella – engoliu a seco. – Com medo de que no momento que eu me descuidar algo vá acontecer, sabe? E eu não sei o que eu faria se perdesse vocês. Eu prefiro morrer a ficar sem vocês.

– Ei, nada vai acontecer – afaguei seu rosto. – Nós olhamos as costas uns dos outros, cuidamos do Bobby e ele cuida da gente, temos Alice... Laurent desistiu de nos caçar porque sabe que não tem chance nenhuma contra nós, não temos que nos preocupar com ele.

– Com ele não, mas o demônio de olhos amarelos ainda tá por aí – me encarou de forma mais séria, parecendo desconfortável. – E esse silêncio da parte dele tá me deixando louco, porque aquele desgraçado é sorrateiro, cara. Ele sempre encontra um jeito de nos pegar de surpresa e eu odeio isso com todas as forças.

– A gente tá preparado – tentei tranquilizá-lo. – Estamos armados até os dentes.

– Mas não temos a única arma que pode matar o desgraçado.

– Não temos ela ainda.

Me doía ver ele daquele jeito, sabendo que nada que eu dissesse ou fizesse o deixaria mais tranquilo até que eles matassem aquele demônio.

– Vai dar tudo certo – segurei sua mão, a beijando. – Você vai ver. Vamos passar por isso juntos, tá?

Como uma família, eu quis dizer, mas me contive.

– Como uma família – ele disse, me surpreendendo.

Sorri, me sentindo mais confiante e o beijei. Enquanto estivéssemos juntos, tudo ficaria bem.

WaywardWhere stories live. Discover now