Capítulo 27

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Quando enfim chegamos à cidade fantasma, a noite já havia caído. Muito para o nosso azar, a estrada estava bem bloqueada, com árvores crescendo bem no meio, o que não permitiria que o Impala passasse. Precisávamos continuar a pé.

Pegamos nossas malas no porta-malas, nós três com espingardas e eu mantendo minha Glock na cintura, e continuamos o caminho, mantendo as mãos nas armas e os dedos bem atentos aos gatilhos, olhando para cada sombra com desconfiança mesmo com as nossas lanternas por perto.

As casas ao nosso redor eram todas muito, muito antigas, talvez de mais de um século de idade, e eletricidade ali obviamente era um sonho utópico, motivo pelo qual nunca encontraríamos Sam se tentássemos o rastrear. Não havia nenhuma torre de telefonia por perto.

Começamos a chamar por Sam enquanto avançávamos. Trovões ecoavam no céu, anúncio de chuva a caminho, e a noite estava cada vez mais fria. Enquanto gritávamos, não ouvíamos resposta.

Não até entrarmos mais na cidade e enfim avistarmos nosso garoto, no que enfim respiramos aliviados. Sam segurava o braço direito, provavelmente machucado.

Mas nosso alívio se foi no momento em que outro homem se levantou do chão e avançou contra Sam com uma faca. Nós gritamos para que ele prestasse atenção, mas o estranho foi mais rápido que os reflexos dele.

Corremos em direção à ele, eu rapidamente tirando minha Glock da cintura e apontando para o homem que agora começava a correr.

Corri com Bobby atrás do estranho e parei em certa altura onde estava. Não enxergava muito bem, mesmo usando a lanterna, mas comecei a atirar na esperança de acertar pelo menos os pés do desgraçado, mas foi em vão e eu precisei parar para não acertar Bobby por engano enquanto ele corria atrás do cara.

Me virei para voltar onde Dean estava, de joelhos, segurando Sam, e então...

Quando Dean chamou seu nome e ele não respondeu, imóvel...

– Não... – murmurei comigo mesma, sentindo o desespero tomar conta de mim enquanto Dean chorava abraçado ao irmão. Quase deixei a Glock escorregar por entre meus dedos, mas me obriguei a não quebrar.

Eu não podia quebrar.

Eu não podia...

Não podia deixá-los sozinhos daquele jeito.

E eu tentei de todas as formas segurar a minha vontade de chorar...

Mas enquanto via Dean chorar, segurando seu irmãozinho, só consegui pensar em todos os momentos que dividimos desde a primeira vez que nos vimos.

A forma como Sam sempre se preocupou comigo, sempre esteve ao meu lado para me ajudar com o que eu não entendia, e conversava comigo sobre os livros que líamos.

Os momentos em que nós três cantávamos juntos no Impala, totalmente desafinados e sem timing para as músicas, e as histórias que eles contavam, das caçadas, dos monstros.

As histórias sobre o pai.

As histórias dos amores perdidos e as amizades que ficaram para trás.

Eu tentei de todas as formas não deixar que aqueles momentos me sufocassem, que me deixassem aos prantos, porque isso não ajudaria em nada naquele momento.

Mas eu não consegui.

Porque Sam era a única família que restava pra ele. Mary se fora quando ele era muito pequeno, e John nunca esteve lá por ele, não realmente, mas Sam... Sam estava lá quando eles ficaram sozinhos no mundo, Sam estava ao lado dele em momentos bons ou ruins, sob sol e chuva, dormindo em motéis baratos ou mesmo dentro do carro.

WaywardWhere stories live. Discover now