Capítulo 29

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Dean Winchester sempre conseguia me surpreender com sua capacidade de resumir que eu aceitaria certas coisas numa boa. Era irritante, até, a forma como ele falava, como se não devesse ser grande coisa pra mim, quando claramente era grande coisa para todos nós.

Francamente, homens...

– Eu vou... Passar na sua casa assim que possível e recolher as minhas coisas. Não vai ter que se preocupar com nada.

Estávamos recostados ao Impala, e aquela frase fez eu me afastar de imediato para encará-lo de frente.

– Como é que é? Do que tá falando?

– Eu acho melhor a gente seguir nossos caminhos sozinhos. Nós temos trabalho a fazer e eu não quero que se machuque. Tá na hora de acabar isso.

– Tá terminando comigo? – arqueei as sobrancelhas. – Tá terminando comigo e indo embora por que?

– Bella, não prolonga isso. Acabou.

– Olhe nos meus olhos e diga que não me quer mais.

Dean desviou o olhar, se afastando do carro e me dando as costas.

– Então é assim? Meses juntos caçando, morando sob o mesmo teto, sofrendo com um monte de merdas e você quer terminar agora? Depois de tudo que passamos, agora você decide que quer ir embora e agir como um completo estranho comigo?

– Não é você, sou eu.

Eu ri, de nervoso e descrença.

– Acha mesmo que vai conseguir me convencer a te abandonar usando essa tática passada que eu já vi acontecer na minha frente tantas vezes? Escuta aqui, temos dez anos pra descobrir como te salvar, entendeu?

– Eu não tenho dez anos – ele suspirou.

Aquilo fez minha espinha gelar.

– O que?

– Eu não tenho dez anos – se virou para me fitar. – Só me deram um – engoliu a seco, segurando as lágrimas. – Eu só tenho um ano pra encontrar aquele maldito demônio e acabar com isso, então eu não quero você com a gente, entendeu? Eu não tenho mais nada a perder, então eu vou enfrentar esse demônio com tudo que eu tenho.

Recuei alguns passos, ofendida.

– Nada a perder? Então eu não sou nada pra você, ou o Sam? É isso? Vai jogar a toalha e nos deixar sozinhos?

– Eu tô cansado, Bella – baixou a cabeça. – Eu tô muito cansado disso tudo.

– Quer terminar comigo? Beleza, fica cada um no seu canto, mas você não vai se livrar de mim tão facilmente! Eu não vou te abandonar, entendeu? Vocês são a minha família, goste você ou não, e eu não vou dar as costas como se não fossem nada!

– Você nem deveria estar aqui! – me encarou. – Deveria estar em outro lugar, vivendo uma vida normal, na faculdade ou algo assim! Não devia estar aqui, é só uma garotinha brincando de ser caçadora, e com certeza não deveria estar comigo!

Minha raiva foi mais rápida que o meu bom senso e eu desferi um tapa em seu rosto, um forte o suficiente para o deixar tonto, se apoiando no carro. Eu me arrependi no mesmo momento. Eu queria ter sido mais fria e não ter feito aquilo, mas estava frustrada demais com aquele maldito papo furado.

– Seu medo de perder o Sam ou de ir pro inferno não te dá direito de me rebaixar desse jeito – as lágrimas embaçavam meus olhos. – Eu sou uma caçadora, com ou sem você, e eu sei onde deveria estar. Meu lugar é com vocês, entendeu?

– Por que dificulta tudo?! – esbravejou. – Por que não pega suas coisas e se manda?!

– Porque eu tenho a minha cabeça no lugar e sei o que tá tentando fazer! Se não me quisesse por perto, nunca nem teria me deixado vir com vocês! Esse é o seu medo falando mais alto, Dean, e você não vai me enganar com nenhum discurso! Eu vou ficar e nós vamos descobrir como impedir sua ida ao inferno, e se eu não puder te salvar, eu vou até o inferno eu mesma pra te buscar!

– Para de falar besteira, Isabella! Não tem como me salvar disso!

– É? Veremos.

– Por que insiste tanto nisso? O que mais eu tenho que dizer pra você ir embora?!

– Eu não vou embora, quer queira ou não!

– E por que não?!

– Porque eu te amo!

Pronto.

Talvez aquele fosse o pior de todos os momentos para dizer aquilo, mas eu não sabia mais o que dizer para fazê-lo entender o meu desespero.

– Eu te amo, entendeu? E nenhuma conversa fiada vai me fazer mudar de ideia. Eu não vou embora. Eu não vou te abandonar.

Dean abaixou a cabeça, fechando os olhos e não demorou muito para cobrir o rosto com as mãos. Com certo receio, me aproximei dele, afastando suas mãos e o abraçando com força. Ele afundou o rosto em meu pescoço e chorou como uma criança, tremendo enquanto eu afagava seus cabelos. Há quanto tempo ele estava guardando aquilo, sufocando, enterrando fundo na tentativa de não deixar sua dor transparecer?

Não havia justiça naquele mundo, então nós mesmos teríamos que a fazer. Se Deus estava tampando seus ouvidos, eu faria com que me escutasse.

– Eu sinto muito – engoli a seco. – Eu não deveria ter te dado um tapa. Me perdoa.

– Tá tudo bem – ele disse baixinho. – Eu não deveria ter dito aquelas coisas. Eu mereci o tapa.

– Nunca mais... – eu me afastei, segurando seu rosto, o olhando. – Nunca mais diga essas coisas, entendeu? Nem pra mim, nem pro Sam. Eu sinto muito por tudo, mas eu tô aqui agora e eu não vou embora. Eu preciso que aceite o quanto é importante pra mim, eu preciso que aceite que nós vamos lutar por você. Poderia fazer isso?

Ele engoliu a seco, assentindo, mas eu sabia, no fundo, que não seria tão simples.

– Eu sei que não quer, mas precisa contar pra ele, tá? Ele merece saber. Não mente pra ele, por favor, não trata ele como criança, por favor. Ele tem que saber.

Beijei sua testa, mantendo nossos rostos próximos um do outro por um tempo até que ele se acalmasse. Ele enxugou suas lágrimas e nós dois respiramos fundo antes de voltar para a casa.

Sam e Bobby estavam claramente preocupados quando nos viram. Talvez tivessem ouvido a discussão toda, já que havíamos gritado um com o outro.

– Tá tudo bem? – Sam nos entreolhou.

Olhei para Dean, assentindo.

– Eu tenho que te contar uma coisa, Sammy.

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