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Nunca pensei muito na minha adoção, lidei com a notícia da melhor forma possível. Eu me lembro quando meus pais me mostraram os papéis da adoção, quando vi meu nome lá e junto dele meu sobrenome.
Eu pulava pela sala cheia de alegria, antes daquele dia eu ainda tinha dúvidas se seria real mesmo, se eu realmente teria uma família, em segundos isso mudou. Com um papel eu tinha um pai e uma mãe que iriam me amar incondicionalmente, então eles me apresentariam a sua grande e confusa família.
Alguns anos depois iriam me dar a notícia de que iria ter um irmão, sempre quis ter um irmão.
A vida que a garotinha do The Cove sonhava todas as noites, que criava um cenário imaginário de como seria, se tornou real.
Mas algumas coisas desmancham, não saem como planejamos e está tudo bem. Eu gostaria que estivesse tudo bem.
No começo meus pais sempre me perguntavam o porque de eu ter sido abandonada, eu nunca contei, falava que não me lembrava ou que era muito confuso de se lembrar.
A questão é que eu me lembro de cada detalhe daquele dia, desde a hora que eu acordei até a hora que me largaram na rua. Estava de noite e frio, uma criança não deveria ter que passar por isso.
Nunca contei a verdade porque nunca consegui, uma parte minha diz que eles não vão entender. Menti para me proteger.
Sempre soube que esse assunto um dia voltaria, que eles entrariam no meu quarto e começariam a me perguntar novamente. Sei que isso não é por mau, eles apenas querem saber.
E isso aconteceu agora, só foi um pouco diferente.
— Athos, você escutou o que acabamos de falar? — A voz da minha mãe enche meus ouvidos.
— Escutei, eu... eu escutei.
Sim eu escutei que meus pais biológicos entraram em contato, sim eu escutei que eles querem me encontrar, sim eu escutei que eles estão de volta no meu mundo, eu escutei tudo.
Mas isso é demais.
Eles não querem me reencontrar, eles não querem, eles só querem dinheiro e pronto. Ele devem ter contado uma história distorcida do que aconteceu, eles são assim, eles manipulam tudo.
Eu queria poder ter falado isso, porém minha voz é falha e não sai. Sou uma covarde por não conseguir dizer o que realmente aconteceu, se eu falasse meus pais não iriam concordar nunca em jantar com eles.
— São seis horas agora, o jantar será às oito. Sabe que não obrigaríamos você a ir se não quisesse, certo? — papai fala antes que eu acene falando outra vez que iria, ele me dá um beijo na testa e sai do meu quarto junto da minha mãe.
Eles são os meus pais.
Não quero jantar na casa em que passei meus piores momentos, não quero reviver aquilo. Mas eu preciso.
