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Quando chegamos a Thunder Bay já era madrugada e as ruas estavam vazias, a muito tempo que nada acontece de madrugada. Muitos nem trancam as portas pois o riscos de invasão são quase nulos agora.
Thunder Bay mudou, mudou muito, agora parece apenas mais uma cidadezinha pacata de interior onde qualquer notícia é motivo de alvoroço.
Como no ano passado, o padre da igreja central foi encontrado morto, a causa da morte: suicídio. A cidade toda virou um mar de emoções, uma morte assim aqui não é mais comum.
A Devil's night também não é mais a mesma, o que era uma noite para fazer tudo o que se desejasse, agora é mais uma noite comum. Eu me lembro da última Devil's night memorável, foi como se eles estivessem dizendo adeus.
Os quatro cavaleiros cresceram e começaram suas famílias, brincadeiras não eram mais suas prioridades. Mas naquela noite, naquela noite eles saíram pelas ruas aterrorizando a todos e fazendo o que sabiam fazer de melhor.
No ano seguinte nada aconteceu, e no seguinte e no anos após esse. A cidade parece ter perdido a sua chama, até a patrulha da polícia foi reduzida com o tempo.
O que quero dizer é, não somos Thunder Bay sem a Devil's night.
Falta uma semana para o que era pra ser a melhor noite de todas ser apenas mais uma noite.
Me sinto mal por causa disso, algumas histórias poderiam se repetir.
Mas talvez esse seja o ano de voltarmos ao passado. Eslem disse que estamos destinados a fazer algo grande, a cidade quase que espera que façamos algo e duvido que a polícia vá nos impedir.
— No que está pensando? — Ela me pergunta quando estaciona o carro na entrada da minha casa.
— Que talvez seja o momento de reviver a Devil's night. — Falo sem muita emoção.
— Realmente espero que faça isso, essa cidade precisa ser agitada.
Não respondo, ficamos caladas por um tempo, eu olhando para a porta de casa e ela com os olhos no volante.
O clima ficou um pouco estranho depois que ela me beijou, talvez ela pense que eu odeie ela agora, não odeio Eslem por ter me beijado, odeio ela por ser uma Moreau.
— Não sei se quero entrar. — Falo de repente, minha voz saindo como um sussurro.
— Acho que você deveria entrar, nada pode ficar pior do que já está. Apenas na fuja novamente. — Ela diz me olhando agora.
— Porque eu não devo fugir?
Ela fica um tempo calada, talvez pensando se deve ou não me dizer ou pensando em uma resposta decente e que faça sentido.
— Fugir dos seus problemas não vai te ajudar em nada, só vai fazer com que eles fiquem maiores. Não adianta correr, Athos, seus problemas vão te encontrar uma hora ou outra e você vai ter que enfrentá-los. É melhor fazer isso agora do que depois. — Ela fala com uma certa sinceridade, como se ela mesma já tivesse vivenciado algo parecido.
