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É possível o que está acontecendo agora ser um grande pesadelo? Eu quero que seja, porquê isso indica que logo mais eu irei acordar na minha cama com o coração acelerado, vai demorar alguns minutos para eu perceber que nada do que aconteceu foi real e então seguirei com a minha vida.
Mesmo que eu queira que seja um pesadelo, sei que não é, posso tentar enganar minha mente quantas vezes eu quiser, mas dessa vez não.
Todos temos demônios, a maioria internos, e aí que vem a nossa maior diferença, os meus demônios são tão reais quanto eu. Eles vivem no mundo real e me forjaram para uso próprio.
Quando menor eu imaginava que minha vida não passava de uma história boba de fantasia, onde eu era uma simples mortal que tinha a missão de derrotar todos os demônios que assombravam a mim e a minha família.
Criei uma realidade própria para não me machucar mais do que deveria, mas eu fui crescendo e percebendo que teria que enfrentar o mundo real, não poderia viver de uma fantasia da minha cabeça.
Percebi que ou eu morreria nas mãos deles, ou eu me tornaria uma deles e morreria. Nunca tive uma terceira opção, nunca pareceu visível, mas eu também não tive primeira ou segunda escolha.
Era simplesmente forçada, então percebi que o mundo real era cruel demais, e se eu quisesse sobreviver teria que fazer o que me mandassem. Cresci escutando que lealdade e honra são tudo na vida, vivemos por isso e morremos por isso.
Na minha vida existem dois tipos de demônios, o primeiro tipo são os meus irmãos, com esses eu consigo me virar, posso ser ousada e tentar sair por cima deles. Então vem o segundo tipo, o único que consegue realmente me manipular, meu pai. Não deveria chamá-lo assim, ele não merece, porém é o que ele me obriga a chamá-lo.
Agora ele está de frente para mim, com o seu olhar decepcionado, eu nunca recebi esse olhar dele, sempre tentei ser perfeita o bastante para que fosse seu maior trunfo, a sua joia rara. Não queria desapontá-lo por ser a única garota que ele escolheu.
Fiz de tudo para ser o que ele sempre quis, deixei me manipular, me usar, me torturar. Nunca me importei, na minha mente distorcida, apenas assim receberia a sua aprovação, funcionou algumas vezes.
Quando fazia algo muito ruim, tinha que pensar em um jeito de contornar aquilo para que não ficasse decepcionado, tentei ao máximo não falhar.
Nesse momento eu falhei, falhei em tudo, ele me odeia.
Pensei muito nesse momento, quando eu realmente falhasse, sempre achei que me sentiria culpada por tal coisa.
Eu apenas não sinto culpa agora, apenas sinto que fiz a coisa certa, trocando de lado no meio do jogo. Tive uma terceira opção depois de alguns anos e escolhi essa, e faria tudo novamente apenas para fazer tudo certo desde o início.
