Capítulo 1

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| Escorpião |
Complexo Penal de Bangú 📍
    Rio de Janeiro
02:20 pm




Passei as mãos nas grades e apoiei minha testa nela respirando fundo, pensava em como a minha vida era antes cair, falar pra tu irmão, mó saudades da minha coroa. Nessas horas tudo o que ela me ensinou, todas as vezes em que ela me disse para sair vem átona.

— Aí irmão, tava no banho hoje, tu acredita que o Pedrão ficou olhando pro meu pau ? — de novo já tava me irritando com esse cara — Pedrão mó tilti.

— Namoral Mindinho tu não tem outro cara pra encher o saco não porra ? — olhei serinho pra cara dele.

— Qual foi cara, só tava querendo trocar um papo contigo — revirei os olhos me afastando dele — Eu sei que tu gosta de mim Escorpião, não adianta negar não.

— Gosto tanto que tenho até vontade meter um tiro nessa tua cara aí — encostei na parede da cela.

Tinha caído aqui já ia fazer dois anos daqui uns dias, preso na penitenciária de Bangú, Rio de Janeiro, o local aqui era sem condição irmão, tudo acabado e ainda tenho que dividir uma cela com mais de quinze pessoas, nem tem cama pra todo mundo nessa porra, posso até listar às vezes que já dormi sentado no chão.

Mó parada...

Os canas conseguiram me pegar em um desleixo meu, o pior que nem tinha como fugir ou negar irmão, fui preso em flagrante. Tentando retomar a favela de Belford Roxo do comando do TCP, caí bem quando a porra da polícia decidiu aparecer, era guerra de facção tá ligado, aquele dia foi doido, com ajuda dos parceiros conseguimos retomar o que era nosso, ADA tá lá no comando, Camará já me passou as informações que tudo tá no controle por lá, o que me resta era saber como minha situação vai ficar aqui.

Era a primeira vez que tinha caído, mas preso em flagrante não ajuda muito o meu processo, tava esperando a resposta do meu advogado para decidir se ia cumprir os anos ou se eu ia fugir, tudo ia depender da conversa com ele daqui a pouco.

— Irmão — Mindinho veio de novo pro meu lado — Já sabe o que vai fazer ? — olhei serinho pra cara dele sem paciência, nunca vi alguém falar tanto igual ele.

Quando eu caí aqui nesse lugar, Mindinho já tava, foi o primeiro a trocar uma palavra comigo e que até hoje vive no meu pé, nunca fui de falar muito sempre escutei ele que fala até pelo cu, tá maluco, o cara não para de falar um minuto. Ele é aquele cara que pega amizade fácil, tem conversa fácil, mas isso não é muito bom pra ele não, já avisei, ficar de papo por aí com quem tu não confia só vai fuder você, é por isso que não abro minha boca pra falar com ele, qual foi não confio nem na minha sombra.

— Não é da tua conta não. — falei simples.

— Aí namoral, tu tem que tratar as pessoas mais na gentileza chefia, quase nunca fala e quando fala só dá patada.

— Tu não é nem meu amigo pra início de conversa.

— Vou fingi que eu não escutei isso... Tua sorte é que eu sou um cara da paz e não vou levar isso pro coração — olhei pro guarda que passava pelo corredor — Tava pensando em fugir daqui.

O cara foi preso por matar um sargento da polícia, até hoje ele não falou o motivo disso e eu nem quero saber.

— Vou demorar bastante tempo aqui, quer ir comigo não ? — me perguntou.

Não tem como negar que o cara era bem pra cima, tinha dia que eu nem tava bem da cabeça e ele vinha com alguma fofoca de algum detento só pra tentar distrair a mente, até hoje eu não sei como ele fica sabendo, se bobiar o cara sabe até da vida dos policiais.

— E quem vai ?

— Primeiramente eu — levou as mãos no coração — E segundo você, porque tu é meu parceiro e não vou te largar nesse lugar fudido — gesticulou com as mãos.

— E tu vai sair como daqui Mindinho ?

— Aí já é outro papo irmão — neguei com a cabeça — Vou pensar em um jeito de tirar a gente daqui.

— Aí tu não me envolve nessa não.

— Ih a lá — me olhou sem entender — Qual foi irmão ?

— Já falei que não sou teu irmão.

— Escorpião — olhei pro guarda que me chamava abrindo a cela — Teu advogado chegou.

Caminhei até ele que foi prendendo meus pulsos com as algemas, trinquei meu maxilar quando o arrombado apertou forte. Fui andando na frente até a sala, abriram a porta e logo já vi de cara meu advogado sentado, sentei na cadeira e esperei o guarda fechar a porta se retirando pra olhar pro advogado.

— Manda o papo.

— Não tenho boas notícias Escorpião, juiz negou seu pedido.

Não acreditava nisso não irmão, eu que não ia passar mais tempo aqui. Escutei o cara falando enquanto tinha minha cabeça baixa pensando no que eu realmente ia fazer e o que eu sei é que eu não quero ficar nesse lugar nem um minuto.

— Quero que tu fale com o Camará — interrompi o vagabundo que não parava de falar, mó otário, nem serviu pra me tirar daqui — Fala pra ele que eu aceito — ele me olhou já sabendo do que se referia.

Camará em poucas semanas que caí aqui falou que se eu quisesse ia me tirar daqui, mas eu escutei o papo da minha mãe, a coroa era sinistra, sabe muito bem fazer a cabeça dos outros. Me disse que tinha que cumprir os anos de boa, sem me meter em confusão aqui, nem queria aceitar, mas quando tu percebe que ela foi a única que veio te visitar e implorar chorando pra que eu fizesse as coisas do jeito certo mexeu comigo, parada doida.

Nenhuma mãe gosta de ver o filho nessa vida, pode ter certeza de que a mãe que gosta é porque não ama o filho.

Quando a gente entra nessa vida acha que só vai ter o luxo, dinheiro, carros, motos e mulheres, até que o primeiro tapa da realidade vem na sua cara, mais precisamente, quando eles pegam e te batem da pior forma só pra te mostrar que esse lugar não é brincadeira, que crime não é como tu idealiza. Eu era um moleque, não entrei porque quis, na verdade ninguém nunca entra porque quer, a necessidade te impulsiona pra correr onde é mais fácil, onde a corda menos enforca e foi isso o que eu fiz.

Cresci na favela, observava desde o início como era, vi de perto como era a vida do crime, mas nunca tive vontade de me envolver, como minha mãe falava, "Estuda Juan pra um dia você nunca sofrer isso na pele", essa foi uma frase depois da gente passar perto de uma boca e ver um garoto jovem já envolvido no esquema.

Criado pela minha mãe, junto a minha duas irmãs mais novas a vida não foi fácil, minha mãe parou de trabalhar assim que me teve, conseguiu segurar no trabalho por alguns meses, mas logo pediu demissão quando eu não parava com nenhuma babá naquela época.

Quando se nasce com uma saúde fudida e você ainda é pobre as coisas começam a desandar na sua vida e isso o que aconteceu com a Verá, minha mãe e comigo...








XoXo

Tinha decidido q ia postar essa fic só no final desse mês, mas bem, eu pensei e pq não, não postar no dia do aniversário da autora ? Decidi postar o primeiro capítulo desse livro sobre morro, já que vcs gostam tanto, eu fico até chocada q o povo adora uma fic de morro kkkkkkkk a mãe de vcs sabem q gostam de ler isso ? 🧐🧐 Cap novo pra comemorar a velhice da autora a ainda não tem um namorado e dinheiro.

MEU PECADO (MORRO)Where stories live. Discover now