Capítulo 3

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| Maia Alencar |
   Rio de janeiro 📍



Pai nosso que estás no céu, santificado seja o Teu nome, venha nós o vosso Reino... — rezei com o crucifixo em minha mãos ajoelhada enfrente a imagem de Jesus Cristo.

Na mesma hora em que levanto ouço o barulho da porta se abrir, me viro de frente vendo o meu tio com sua roupa habitual de padre.

— Achei que não ia se despedir de mim hoje — caminhei em sua direção recebendo sua bença.

— Não acho que seja uma boa idéia você visitar seus tios Maia.

— De novo essa história não tio.

Com sua ajuda pego as malas que estavam no meu colchão e coloco no chão todas muito bem organizadas.

— Afinal é só três meses que vou passar lá, logo em seguida estou de volta para seguir com todo o preparo.

Cabelos escuros, um rosto não muito novo, mas muito bem conservado, estatura alta e magro, esse era meu tio. Padre da paróquia Nossa Senhora Aparecida e também um dos professores religiosos dessa escola.

Estudo no colégio interno Maria Imaculada, localizada aqui mesmo no Rio de Janeiro, acolhida por ele quando minha mãe morreu, o Padre Alfredo, como eu considero como um tio, vem cuidando de toda a minha educação e modos desde que entrei aqui, de acordo com ele assim que me viu na entrada desse colégio chorando procurando pela minha mãe, ele vem cuidando de mim. Só tenho admiração e agradecimento por ele, às vezes ele é um pouco autoritário e até mesmo antiquado, vivo a base de regras que ele impôs na minha vida, mas acredito que esse seja o melhor pra mim.

Não gosto de decepcioná-lo ou até mesmo cogitar essa idéia, ele não tinha o mínimo de obrigação comigo e mesmo assim me acolheu, então tudo o que estiver ao meu alcance para ver orgulhoso de mim eu farei. 

— Escuta querida, sente aqui — andei junto a ele me sentando na cama — Você precisa prestar atenção no que eu vou te dizer.

— Tio, pra que isso tudo — não consegui conter a risada.

— Maia, estou falando sério — fiquei quieta quando ele realmente estava falando sério — Os seus tios moram em lugar totalmente horrível — se referiu ao seus irmãos — Aquele lugar não é pra você, lá tem tudo de errado que o mundo pode oferecer...

Ele falando desse jeito começou a me assustar, me remexi na cama desconfortável com várias imagens que já pensei.

— Você precisa estar atenta para ficar longe do pecado — balancei a cabeça na hora concordando, ia ficar longe de qualquer coisa que me trouxesse problema.

— Sim, senhor !

— Não se misturar com aquelas pessoas pecadoras não é ?

— Não, vou tio.

— Promete pra mim que você também não vai visitar seu primo — desviei do seu olhar julgador pensando — Maia promete pra mim !

— Mas tio...

— Maia — falou rígido.

Sei que o primo em que ele está se referindo é o Vitor, seu sobrinho, fiquei sabendo por alto que ele estava se envolvendo com coisas erradas, mas eu gostava tanto dele e considerava como um irmão.

Me recordo de visitar ele todo o mês junto ao meu tio, das brincadeiras, das conversas, era ótimo ter alguém pra brincar naquela época, fazia me esquecer do problema da minha mãe e pensar que eu realmente, por um momento, tinha uma família a qual eu sempre quis. As coisas mudaram drasticamente desde que entrei na adolescência, com os meus doze anos parei de frequentar aquele lugar e de ver meu minha família, nunca entendi o motivo, mas aceitei tranquila porque se tivesse um motivo pra ele ter parado de frequentar tinha razão.

MEU PECADO (MORRO)Where stories live. Discover now