Capítulo 4

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| Escorpião |
   Belford Roxo 📍


O carro conduzia em alta velocidade pela rodovia, a polícia vinha atrás com a sirene ligada, outro carro ao nosso lado trocava tiro com eles, pego a Glock e recarrego o seu cartucho, boto a cara na janela com a arma apontada e começo a atirar contra eles.

O primei tiro acerta no capô do carro.

Era madrugada, pista vazia, o sangue quente circulava por todo meu corpo me dando uma sensação boa, de pura adrenalina. Miro com mais precisão e acerto o pneu esquerdo da frente vendo o carro começar a deslizar, acertei do outro lado e foi necessário o carro frear pra não capotar, me ajeito novamente no banco.

— Caralho que mira foi aquela irmão ? — o desgraçado do Mindinho falou do meu lado.

Pior que eu nem sei qual foi do meu pensamento pra trazer ele, o cara enche o meu saco o dia todo, mas na hora de ter minha liberdade não ia deixar o cara lá sozinho depois desse tempo todo ao meu lado, ia ser muita sacanagem minha.

— Sabia que tu gostava de mim — começou a rir — Aquele teatro todo de cavalo que tu era, é porque no fundo tô gostava de mim.

— Se tu continuar falando vou ser obrigado a te jogar do carro — falei serinho pra ele que só riu.

Peguei o radinho que tava com o cara da frente e já peguei falando.

— Camará na escuta ? — disse.

— Fala tu arrombado, tá por onde ?

— BR- 93 — o carro ia em alta velocidade, escutei mais sirenes — Se liga, já tô chegando, prepara tudo aí que os cana tá vindo atrás da gente.

— Já tá tudo preparado aqui, vem na paz que aqui nós mete bala nesses cuzão — escutei sua risada.

— Fica na atividade — desliguei o rádio só sentindo essa adrenalina.

Assim que Camará foi comunicado do que eu queria fazer foi em questão de minutos e já estava preparado, tudo já estava organizado faz tempo, era só a minha decisão que ele dava as ordens.

— Já sabe o que vai fazer quando chegar lá ? — perguntei.

— Vou falar com teu chefe.

Nem dei muita idéia também sem prolongar o assunto, o caminho todo foi trocação de tiro com a polícia.

O tiro acertou em cheio no parabrisa traseiro do carro, chega levei um susto vendo a cápsula de barra cair do meu lado junto com alguns estilhaços do vidro.

Porra...

— Aí tu tá com alguma coisa no pé pra não acelerar nesse caralho ? — gritei com o cara que tava dirigindo.

O cara se assustou fazendo o Mindinho rir, pelo menos fez o cara acelerar mais.

Tomar no cu, nunca vi um cara tão lento dirigindo, uma criança consegue dirigir mais rápido que ele.

— Três minutos tô chegando Camará — falei no radinho.

Assim que chegamos na favela já vi todos os cara posicionado.

Desci do carro correndo e já vi logo Camará mais na frente com seu fuzil posicionado.

— Bem-vindo de volta filha da puta — me entregou a arma — Bora que não vamos ficar aqui na contenção — cada um subiu na moto, metendo o pé da entrada.

Foi questão de minutos que os fogos foram lançados no céu de madrugada, assim que entrei pra mais dentro da favela escutei o radinho.

4 carros da cívil chefe — escutei descendo da moto.

— Provavelmente deve tá chegando mais — olhei pro Camará falando — É melhor tu ficar aqui, não quero que tu corra o risco de cair de novo.

— Vou ficar aqui me escondendo enquanto os cana mete a bala nos do nossos ? — olhei serinho pra ele negando.

— É pro teu bem arrombado, tu sabe que eles tão na sua cola.

— Não.

— É só até eles irem embora Escorpião — ajeitou a arma.

— Já falei que não.

— Vai tomar no cu — falou puto — Eu sou o chefe e tu tem que obedecer as minhas regras — se aproximou apontando o dedo na minha cara.

Neguei com a cabeça e já fui andando até uma casa onde os cara ficava posicionado, tô nem aí pro que ele tá falando, eu não ia abandonar os cara pra me esconder que nem um rato, se a polícia tá aqui o motivo sou eu, vou botar a cara sim.

Corri pela escada toda ferrada, entrei na casa onde não morava ninguém, as paredes muito bem reforçada de concreto com várias camadas, porque já era o intuito desse lugar ser nosso, de fora dava pra ver algumas marcas de tiro na parede, mas não atravessava. Posiciono a arma na brecha que tinha ali me dando uma visão boa dos cara, mas nem tanto já que tava escuro, a Ak nas minhas mãos bem carregada, escutava os tiro da polícia, eles não tava pra brincadeira e nem eu. Começo a atirar de ondo via os traçantes passando.

Pensei que não iam desistir, madrugada toda com trocação de tiro com eles.

Tava cansado pra caralho, corpo tava pedindo pela minha cama, por horas de sono e comida decente depois de tanto tempo comendo e dormindo péssimo. Já tava amanhecendo, o sol aparecia bem pouco, já não escutava nenhum barulho de tiro, tava tudo na paz, como se nada tivesse acontecido.

Manda o papo — peguei o radinho falando.

Já foram embora, mas tão fazendo blitz ali pra Heliópolis, perto do hospital.

— Qualquer parada é pra ficar na atividade — falei me levantando.

Aproveito pra dá aquela esticada no corpo. Saio de lá vendo alguns trabalhadores já indo pro seu trampo, pergunto o horário pra um cara que estava indo trabalhar, ia dar sete horas, pensei e minha mãe com certeza já deve tá acordando ou acordada.

Ando na direção da sua casa com a arma, já sei que vai falar pra caralho quando ver com essa arma e ainda por cima aqui na favela. Não gosto de decepcionar ela não, mas ficar naquela cadeia eu que não ia ficar mais um minuto.

Com o macete que tinha pra abrir o portão dela, fiz e já fui logo entrando. O cheiro de café enquanto eu andava no corredor fez a minha barriga roncar, mó fome. Abro a porta da sala e já escuto o grito histérico das minhas irmãs discutindo alguma coisa, logo em seguida a voz da minha mãe reprender as duas, em passos devagar vou até a cozinha.

— Já falei pra não mexer nas minhas maquiagens — reconheço bem essa voz enjoada igual ela, era a Letícia, minha irmã, dezesseis anos apenas.

— Eu vou continuar usando, você gostando ou não — Júlia, minha irmã mais nova, falou.

— Dá pra vocês duas pararem ? Sete horas da manhã e discutindo por causa de maquiagem ? — apareci na porta vendo as três que estavam se olhando, direcionando o olhar até mim — Mas que merda você tá fazendo aqui ? — minha mãe falou.

— Não era pra você tá preso ? — Letícia perguntou.

— Juan ! — Júlia se levantou correndo e veio me abraçar.

MEU PECADO (MORRO)Where stories live. Discover now