+devotionis+

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Como se denunciasse os ânimos, a chuva lá fora caía cada vez mais farta. Os relâmpagos vez ou outra iluminavam o grande hall de jantar da sede, através das janelas altas.

Sentado em uma das mesas, Mark encarava suas mãos com um olhar perdido, como se buscasse poder e forças. Sua expressão era de cansaço. Físico e emocional.

Era como se cada parte de seu corpo doesse. Não pensou que explodiria daquele jeito, daquela forma. Sequer deu a chance de algo mais ser dito.

Céus, falou tantas coisas. Algumas, talvez Jackson sequer tivesse culpa. Como o encararia agora?

O barulho de uma das portas que davam acesso ao lado de fora o despertou de seu transe existencial. Caminhando em direção ao hall, seu pai parecia estar a sua procura.

Ele pôde ver a expressão de seu progenitor mudar, assim que viu seu estado, sentado ali, sozinho. Aproximou-se do filho, no entanto, com um sorriso fraterno, cuidadoso. Reymond sabia que ele não estava passando por bons momentos há um tempo.

—Pai. —Mark o cumprimentou, sorrindo de volta, ainda que seus olhos exprimissem sua melancolia.

—Estava procurando por você, filho. —puxou a cadeira à sua frente, sentando-se.—Terei de partir, novamente. Mas estarei aqui para a reunião com os líderes da sexta e da sétima zonas, daqui a dois dias. Trarei sua mãe, desta vez.

—Ela vai gostar de estar do seu lado. —o loiro o olhou nos olhos, como se aquela frase se referisse a sua própria situação.

Reymond não era um pai desatento. Pelo contrário. Ele sabia o quanto Mark e Jackson Wang estavam vinculados um ao outro. Sabia também que eram muitas mudanças e condições adversas em um pouco espaço de tempo. Ele se preocupava com isso.

—Você não vai me dizer o que aconteceu para estar assim? —perguntou, enfim.

Os olhos de Mark pareceram migrar para um ponto qualquer da mesa. Suas mãos se entrelaçaram uma na outra, como se toda a sua postura indicasse sua insegurança. Respirou fundo, fechando os olhos, então por fim decidindo falar.

—Eu e Jackson...tivemos uma discussão.

O olhar de seu pai era calmo e ele apenas assentiu com a cabeça, como se indicasse que estava ouvindo. Que ele podia continuar.

—Bem... —prosseguiu. —Esses dias, eu senti medo. Medo de que, de alguma forma, ele não fosse mais voltar. —seus olhos começaram a umedecer, ao falar e lembrar da sensação. —Eu sei que, se eu morrer, ele morre também. Mas...eu não consigo pensar em não protegê-lo, mesmo que meu corpo dilacere. Eu sei que pode parecer estranho, mas...eu não consigo pensar em me separar dele de novo, dele correr perigo e eu não estar lá para ajudar.

Reymond não imaginou que ele estivesse se sentindo assim. Era tão... profundo, como se ele e Jackson não pudessem ser separados em nenhuma circunstância, como imãs de polos opostos de ondas tão fortes que, unidos, se confundiriam em um só. Ele não sabia dizer até que ponto isso daria pela ligação dos dois...ou se ela apenas intensificava as emoções que os dois partilhavam.

—Você não pôde estar do lado dele nesta última missão...é isso que tem preocupado você? —perguntou, tentando descobrir.

Mark pareceu procurar as palavras, novamente.

—Isso e...pensar que ele viveu tudo isso sem mim. —levou suas mãos ao rosto, passando-as pela testa e pelos cabelos. —Isso é tão...egoísta. Eu não posso esperar que ele viva em função de mim, é claro que vão ter momentos em que vamos ter que fazer coisas por nós mesmos, mas...

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