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Sentindo seu corpo menos pesado mentalmente, mas cansado fisicamente, Jackson respirou fundo pela milésima vez desde que adentrara a grande floresta. Estava perdido. Completamente perdido.

—Claro, Jackson. Você é tão inteligente que pensou que o alojamento da fronteira seria fácil de achar.—falou ironicamente alto, com o som abafado pelas copas densas das árvores. Já era tarde e ele estava andando em círculos a um bom tempo, talvez horas. Sentia seu peito apertar a cada vez que pensava que poderia não chegar a tempo.

Sinceramente, não entendia nada do que estava acontecendo consigo ou porque estava tão preocupado ao ponto de sentir-se quase em agonia. Ele não sabia explicar, mas com todas as forças, sentia.

Não estava com celular, já que corria o risco de ser rastreado. Não tinha nenhuma comunicação e nenhuma ideia de onde estava. Sentou-se encostado em uma árvore e jogou a mochila de lado. O relógio marcava seis e meia da noite.

Respirou fundo, desesperado, e começou a tentar captar os cheiros do ar. Sentiu um leve cheiro em meio ao arbóreo. Pegou a mochila, levantou e começou a andar em direção à ele.

Passaram-se vários minutos e ele ainda se encontrava andando perdido seguindo o odor. Parecia estar ali propositalmente para confundir mais ainda sua cabeça. Estava ficando escuro, mas ainda se podia ter uma boa visão, já que o sol mesmo fraco insistia em não ir embora.  Jackson então ouviu um barulho vindo detrás de si. Não tinha como o terem percebido pelo cheiro, já que estava com as características ervas que o mascaravam, mas tratou de se esconder bem, mesmo assim.

Era um cervo. Relaxou um pouco, mas não saiu de onde estava. Havia outro cheiro ali perto. Escondeu-se melhor, então começou a observar uma pessoa que parecia ter a sua idade, de casaco de camurça marrom e longo, se aproximar do animal. Este recuou receoso, mas foi atraído por provavelmente alguma comida na mão do garoto, que possuía uma marca de um pentagrama próximas ao dedão. O filhote comeu, então se aproximou mais e lambeu sua mão. Um suspiro foi ouvido e logo a mesma mão que alimentava o pequeno cervo quebrou seu pescoço com uma técnica de luta conhecida de Jackson, em fração de segundos. Um vampiro.

O vampiro grelou os caninos afiados e perfurou o pescoço fraturado do animal. Era estranho. Jackson jamais havia sequer imaginado que existissem aqueles que tomassem sangue de animais.

Um cervo menor apareceu. O protetor quis se contorcer de receio, pena e angústia, mas algo inesperado aconteceu quando o homem soltou o cervo maior, limpando sua boca com a gola do casaco.

—Era sua mãe, não era?—a voz saída da boca ensanguentada era pesarosa. O pequeno filhote parecia temê-lo, então permanecia parado, berrando baixo, procurando chamar o outro caído no chão.—Você deve achar que sou um monstro.—riu em desdém, levantando um lado do lábio.—Não é uma mentira, pequeno, mas eu odeio isso. Se eu não fosse fraco talvez acabasse logo com esse sofrimento e me livrasse desta existência patética. Mas eu sou um inútil que não pode nem ao menos fazer o que acha certo e não pode ter opinião própria por puro medo.

Um berro desconexo do filhote o fez se levantar.

—Desculpe.—sussurrou baixo.

Então ele saiu. Simplesmente desapareceu. Ele não parecia ser um Tuan, já que os que eram da fronteira usavam roupas brancas, como forma de se caracterizar, como aprendera com seu pai há muito tempo. Isso queria dizer que Jackson estava fora dela. Havia provavelmente andado tanto que se encontrava em território inimigo.

Estranhamente, o garoto e sua voz lhe lembrava algo. Ou melhor, ele lembrava de tê-la escutado em algum lugar. No entanto, sua cabeça estava tão em branco ao mesmo tempo que tão confusa que não conseguia pensar com clareza.

RegiumWhere stories live. Discover now