+promissum+

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Ricky sabia bem que ao completar seus vinte e dois anos teria de assumir o lugar do pai na sucessão de líder. Em sua posição e em seu sangue que corria pelas veias, constantemente via imagens de tempos antigos aparecendo em seus sonhos, conectando-o aos antepassados.

Seu pai, sabendo disso, fez o filho ler diversos livros, inclusive em latim, para que este pudesse entender um pouco o que as imagens queriam lhe dizer.

O último livro que leu antes de o pai morrer tinha um título chamativo, escrito a mão em vermelho sangue na superfície que simulava madeira.

                               "Promissum"

O livro contava a história do sangue real, que há milênios atrás marcara a paz em um reino no qual vampiros e protetores na verdade viviam em harmonia e em um tratado de paz, governados por um rei protetor e uma rainha vampira que tinham feito uma linda promessa: a de que em um futuro longínquo, ainda se amassem as diferenças vindas de todas as  espécies e que ainda se prezasse sempre pela paz e a harmonia entre elas.

Os dois foram contra tudo, foram contra todos que abominavam seu amor e seus ideais. Tiveram um filho. Um filho que cresceu forte e com o dom da palavra. Um filho que possuía um poder e sangue únicos. Este filho seria aquele que em outras reencarnações, renasceria com os pais em seu coração e se certificaria de manter a promessa que os dois fizeram outrora.

Ricky amava esta história. Lia cada vez mais sobre ela e entendia muito sobre as imagens que seus sonhos lhe traziam. Via frequentemente uma marca de nascença e uma mulher morta após o parto do filho. Via duas mãos apertando uma a outra fortemente. Viu lágrimas. Mas esta não era a pior parte da história, já que haveriam consequências dadas o âmbito que a promessa foi feita.

Lia cada vez mais e mais. Procurava os registros mais antigos que pudessem lhe deixar a par de tudo, a par do que ele sentia que lhe viria futuramente.

Quando casou-se com sua amada esposa, depois de se tornar líder, até mesmo propôs a ela que não tivessem filhos logo. Tinha medo de seus sonhos se tornarem realidade. Na verdade, estava simplesmente fugindo.

Não muito tempo, porém, o que queria adiar aconteceu. O barulho de choro ecoou na sala escura. A mãe do bebê já estava morta, mas a criança nasceu saudável e forte. O próprio pai havia feito o parto. Com o filho em mãos, ainda ensanguentado, percebeu a marca em cruz na coxa esquerda. Uma marca de nascença que mais parecia uma tatuagem perfeita, feita da própria pele.

O líder Wang já sabia do que se tratava. Sabia o que o filho era. Seu filho havia nascido com o sangue do ancestral híbrido que manteria a promessa uma vez feita. O regium. E teria de viver achando que era comum, a fim de não levantar ganância das espécies, o máximo de tempo que Ricky conseguisse esconder.

E Ricky se encontrava ali, observando seu amado filho, que encontrava-se em desespero, sem saber o que acontecia consigo. Sentia-se mal, mal porque o que tanto adiara tinha ocasionado algo que estava sendo muito mais difícil do que se antes já tivesse revelado tudo.

—Eu nunca lhe contei sobre isso, mas é chegada a hora. —respirou fundo, por fim. —Quando você era pequeno, você era curioso em pegar meus livros e tentar lê-los.

—Não entendo onde quer chegar.

—Seja paciente. —suspirou. —Eu nunca te deixei ler todos eles, porque haviam alguns que eu não queria que você visse. —começou a andar por aí novamente, procurando as palavras, depois voltando-se para o filho. —Uma vez você me perguntou o que era o Regium, porque tinha encontrado esse nome em um livro.

RegiumWhere stories live. Discover now