SEGUNDA CHANCE

Capítulo 2

Sentados a mesa de jantar, observo meu pai e minha irmã conversando, os dois estão muito animados com o dia de amanhã, vai ser o primeiro dia de aula de Kevser na escola nova.

— E como foi na faculdade? —Papai sorri enquanto lavamos a louça.

— Não vou mentir e dizer que foi bom, tudo é muito diferente. Os professores não são muito amigáveis e cobram demais. Um deles até disse que vai me testar na próxima semana.

— Coisas novas sempre assustam, mas não podemos nos deixar abater. Você é inteligente, era a melhor da sua turma, tenho certeza que esse professor vai se surpreender.

— Espero que sim, ele não parecer aceitar erros.

Termino as tarefas da cozinha e arrumo as coisas de Kevser para o dia seguinte.

***

— Essa escola parece ser muito boa. —Observo o prédio de vários andares e o gramado que se estende por todos os lados.

— E se meus colegas não gostarem de mim? —Os dedinhos de Kevser apertam os meus com força.

— Não precisa ter medo, tenho certeza que todos vão gostar muito de você. —Me abaixo do lado dela e beijo sua bochecha. — Seja educada e trate todos da mesma forma. Eu vou te esperar na saída e para comemorar podemos ir tomar um sorvete. O que me diz?

— Sim... Sim... Sim...

— Tá bom. Então estamos combinadas assim. Até depois.

Acompanho Kevser com os olhos até que ela desapareça pela porta de entrada segurando a mão da professora.

***

As aulas correram melhor no dia de hoje. Os professores foram atenciosos e cordiais, principalmente a professora Ikbal, uma mulher minúscula de tamanho, mas com uma presença gigantesca, seu conhecimento é fora de série. Em pouco tempo consegui absorver muitas coisas com ela.

— Para a próxima aula vou cobrar um resumo do que vimos hoje. E também vamos ter uma pequena aula prática, vai ser bom para vocês se acostumarem com o que está por vir. —Ikbal sorri e coloca o cabelo atrás da orelha. – Vocês vão aprender a suturar, quero que saibam fazer pontos com maestria.

— Professora, mas essa parte não seria ensinada pelo professor Yaman? – Uma colega fala.

— Sim, ele é quem vai ensinar. Mas vocês preferem aprender os primeiros passos comigo e ir sabendo alguma coisa ou preferem que ele ensine do início? Nós sabemos qual a melhor opção.

A aula está prestes a terminar quando meu celular vibra dentro da bolsa. É o despertador para buscar Kevser.

Arrumo minhas coisas e saio o mais rápido possível em direção a escola.

***

— Como foi a aula? Seus amigos são legais? E a professora? – Coloco a mochila dela junto com a minha sobre o ombro.

— Foi muito bom. Meus novos amigos são engraçados e a professora é querida e bonita, mas você é muito mais bonita que ela. —Kevser pula do meu lado com a empolgação. — E eu tenho uma lição muito importante. Preciso fazer a árvore gene.. genelo.

— Árvore genealógica. —Ajudo.

— Sim. Árvore da família. Todos os alunos vão fazer. E eu fiz um amigo mais velho e ele também tem essa lição, toooodos vão trazer a árvore amanhã. O cabelo dele parece de um anjo. Ele me ajudou no lanche, mas não lembro o nome do meu amigo.

— Um amigo? Isso é muito bom, eu fico muito feliz e saber que já está fazendo amigos. A gente vai fazer uma árvore muito bonita. Vamos escolher nossas fotos da nossa família e colorir com flores e folha. O que acha?

— Sim... Sim... Sim...

— Agora vamos tomar aquele sorvete que eu prometi.

— Seher? – A voz infantil chama atrás de mim.

Viro e vejo Yusuf correndo na minha direção, seus cabelos balançando com o vento, ele tem um sorriso enorme nos lábios.

— Yusuf. Oi. – Abraço o menino que gruda na minha perna.

— Olha. – Ele puxa o barquinho de papel de dentro da pasta. – Eu trouxe e mostrei aos meus amigos. Todos gostaram muito, mas eu ainda não consigo fazer sozinho.

— Yusuuuuf. – Um homem de aparência gentil vem correndo atrás do menino.

— Tio Ziya. Essa é a minha amiga Seher e essa é a minha amiga Kevser. Foi ela quem fez o meu barco.

Ziya sorri para ao lado do menino e mexe em seus cabelos.

— Ele não parou de falar sobre você durante o jantar. Disse que você é a melhor dobradora de papel do mundo. – Os dois se olham e sorriem.

— Esse é o meu amigo com cabelo de anjo. —Kevser puxa minha roupa, chamando atenção.

— Yusuf, nós precisamos ir. Você tem uma atividade grande para fazer. Lembra? – Ziya estende a mão para Yusuf.

— Tio, todos da escola precisam fazer a árvore da família. Kevser também. O que acha de a gente fazer junto? Por favor. Por favor. Por favor.

Yusuf junta as mãos, implorando.

Ziya levanta os olhos pra mim.

— Por favor, Seher. —Yusuf pula para meu lado e segura minha mão. — Por favor.

— Não vejo problema, se elas quiserem ir com a gente, tudo bem.

— Ebaaaaaa. Vamos... Vamos... Vamos... —Yusuf deixa o tio para trás, segura minha mão e de Kevser e sai nos arrastando em direção ao carro preto parado na rua. — Vamos para casa todos juntos.