Capítulo 8

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SEHER

Assim que chegamos à casa, Yaman abre a porta e nos dá passagem, mas antes olha para todos os lados, procurando por alguém ou alguma coisa.

— Tudo bem? -Mesmo não sabendo o que procurar, também olho para os lados.

— Yusuf gosta de me esperar escondido pelos cantos. A maior alegria dele é quando consegue me assustar de verdade. Então nós mantemos uma competição. Estava procurando por ele. -Ele tem um sorriso contido nos lábios, quase imperceptível. — Sugiro que tenham cuidado até chegar ao quarto dele.

Como pode estar tão diferente de poucas horas atrás? Parece que ele se divide em duas pessoas diferentes. E eu duvido que alguém na faculdade já tenha visto o professor sorrir.

— Meu amigo está no quarto? -Kevser solta da minha mão e dispara pelas escadas.

— Kevser, espera.

— Se você quiser subir. -Yaman indica as escadas. — Acho que já conhece o caminho. Vou em seguida.

Sinto um calor subir por meu pescoço e parar nas bochechas. Ele está falando sobre eu já ter entrado aqui sem a permissão. Não tenho coragem de olhar para ele, viro de costas e saio atrás da minha irmã.

Kevser está sentada na cama junto que Yusuf, os dois conversam e riem.

— Oi. -Caminho para perto dos dois. Yusuf sorri para mim. — Como você está?

— Melhor, mas ainda tenho dor. -Sua voz sai com um pouco de dificuldade. — Mas agora que vocês chegaram, eu nem estou sentindo mais nada. -Yusuf puxa o cobertor e pula para fora da cama. — Não temos muito tempo, vamos brincar.

Estamos os três montando uma pista de carrinhos quando Yaman entra carregando uma bandeja.

— Trouxe sorvete. -Ele sentada em um banquinho perto de nós. Kevser e Yusuf levantam e vão até ele. — Yusuf. Primeiro as damas.

Kevser pega sua taça de sorvete cheia de confetes e pedacinhos de chocolate, então Yaman estende a bandeja para que eu pegue. Sobra apenas uma taça.

— E a sua?

— Não gosto muito de doce. Capitão, essa é sua. -Ele afaga a bochecha de Yusuf e beija sua testa dele. — Como você está se sentindo? Dói alguma coisa? -Ele tem a voz calma e suave enquanto conversa com o filho. — Senti sua falta o dia todo.

— Fiquei bem quando vi minhas amigas. Não tenho naaaaaadinha de dor. -Ele toca a bochecha do pai com carinho.

— Já que você está tão bem e tão animado, vamos aproveitar e fazer as atividades que a professora mandou.

— Acho que não estou tão bem assim. -Yusuf faz beicinho e eu preciso me segurar para não rir.

— Então suas amigas vão precisar ir para casa já que você não está se sentindo bem. É uma pena, tenho certeza que elas iriam adorar ajudar a gente com as tarefas.

Certo, ninguém pode negar que ele tem lábia para convencer. Até eu teria caído nessa.

— Seher? -Yusuf me encara com os olhos brilhando. — Vocês ajudam a gente?

— Claro que sim, meu pequeno. Kevser também precisa fazer as atividades dela.

—VIVAAAAAAA. -Yusuf pula de felicidade e antes que alguém consiga pegar a taça das suas mãos, uma chuva de confetes e sorvete voa na minha direção. — Desculpa, Seher. -Ele passa a mãozinha na frente da minha blusa e só deixa as coisas ainda piores.

— Não tem problema. Vou limpar e já volto. -Observo o desastre doce que minha roupa viro.

— Isso não vai sair. -Yaman caminha atrás de mim. — Vai precisar trocar.

— Não tenho outra roupa junto e isso realmente não é importante, só preciso passar um paninho úmido. Onde fica a lavanderia?

— Não vai resolver. -Ele olha para a frente da minha blusa. — Vem comigo. -Yaman segura meu braço e me arrasta junto dele.

O contato da sua mão com minha pele causa um formigamento estranho, como se uma pequena corrente elétrica passasse dele para mim.

— O que? Onde?

Ele não responde, apenas me arrasta até um cômodo no final do corredor. O quarto é grande, as cores são escuras e a luz é fraca. O lugar todo cheira a Yaman, só que com muito mais intensidade.

Ele me larga ao lado da cama enorme e eu me sinto completamente desesperada para sair correndo daqui.

— Aqui. -Ele volta e me entrega uma camiseta preta. Seus olhos e seu rosto ficam carregados. A atmosfera do lugar é muito pesada e só piora enquanto me encara. — Pode trocar sua camiseta por essa. -Ele se aproxima até estar a poucos centímetros de mim.

— Eu...

Eu o que?

Eu nem consigo formar uma frase.

— Espero você no quarto do Yusuf.

_______________

YAMAN

— Onde a Seher está? -Yusuf e Kevser perguntam ao mesmo tempo.

No meu quarto.

Com a minha camisa.

— Ela já vem. Vamos organizar a mesa e começar as atividades?

Dez minutos depois, Seher aparece na porta no quarto, suas bochechas estão vermelhas e os olhos focam para tudo, menos em mim. Ver ela vestindo algo meu, traz uma sensação diferente. É gostoso.

— Nós já arrumamos tudo para começar. -Yusuf puxa Seher até a mesa. — Você tem cheiro de morango e cheiro do meu pai misturado.

Seher arregala os olhos e parece engolir a própria língua já que não fala absolutamente nada.

— Vocês sentam desse lado. Kevser e eu sentamos desse. -Yusuf indica os lugares.

Ótimo, ela vai sentar ao meu lado.

Os minutos passam enquanto as crianças falam sobre as atividades, dividem os lápis de cor e abrem as apostilas. Seher continua evitando qualquer contato visual comigo, apenas as crianças recebem sua atenção.

— Sabe. Eu estava pensando que você não cumpriu sua parte no acordo. -Falo perto do seu ouvido.

— O que? -Seus braços ficam arrepiados e eu acho essa reação muito interessante. Será que ela está com frio? Ou sou eu quem está causando isso?

— Eu ainda não aprendi como fazer bichos de papel. -Dou de ombros. — Mas você também não aprendeu direito como fazer uma sutura perfeita. Talvez seja por isso que não queira me ensinar. -Jogo verde. Ela nunca disse que não iria ensinar.

— O que? Não! Não mesmo. Eu disse que iria ensinar. -Ela puxa duas folhas em branco e me entrega uma. — E quando você me ensinou mais cedo foi muito bom. Quer dizer, aprender coisas novas é bom. Eu não sabia e eu aprendi e isso foi bom, aprender é bom...

— Certo. Entendi. -Interrompo antes que ela fique mais agitada. — Mas vamos até a mesa da cozinha, ficar aqui só vai atrapalhar as crianças. -Passo a mão nos cabelos de Yusuf. — Vou com a Seher até a cozinha, se precisarem de qualquer coisa, chamem. Certo?

— Certo.

— Vamos para nossa aula? 

SEGUNDA CHANCEWhere stories live. Discover now