Capítulo 5

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SEHER

Meu coração está acelerado, minhas mãos estão suadas e não consigo parar de bater o pé no chão. Tudo isso pelo motivo mais idiota do mundo. Yaman volta hoje e toda a minha grade da manhã é com ele.

Yusuf também faltou a aula nesses dias, Kevser disse que perguntou por ele e a professora informou que ele estava doente e não viria por alguns dias.

Como será que ele está?

O que pode ter acontecido?

— Pronta para ser torturada hoje? -Selim senta na cadeira ao meu lado. Somos os mais próximos da mesa do professor. — Cruzei com ele no corredor, está com uma cara horrível.

— Problemas de saúde sempre deixam as pessoas preocupadas. Ele deve estar preocupado com o filho. Qualquer pai ficaria preocupado assim.

— Como você sabe que é o filho dele que está doente? -Selim me encara com a sobrancelha arqueada.

— Minha irmã estuda na mesma escola que o filho dele. Ele não está indo na aula por motivos de saúde. Os dois são amigos, por esse motivo eu sei.

— Entendi. Mas não precisa ficar preocupada, ele deve ter enfiado o menino no melhor hospital.

A porta é aberta em um rompante e o burburinho da sala diminui assim que Yaman passa como um furacão até sua mesa. Por incrível que pareça, ele está ainda mais bonito com esse terno cinza e camisa preta. Ele não fala uma única palavra, apenas joga a pasta sobre a mesa, puxa algumas folhas e começa escrever na lousa sem parar. São diversas anotações, perguntas e citações.

— Quero um artigo sobre a divisão do corpo humano. Aqui estão as anotações e eu as quero detalhadas. Façam duplas.

Yaman senta, fecha os olhos e com os dedos faz massagem nas têmporas. Depois de algum tempo, toda a turma já está trabalhando duro em suas tarefas e por pura curiosidade, decido olhar para onde o professor está sentado. Observo sua respiração profunda, então me dou conta que na verdade parece ter dormido. As olheiras escuras e fundas sob seus olhos dizem que ele está extremamente cansado.

— Acho que ele dormiu. -Sussurro para Selim que levanta a cabeça.

— É muita audácia dormir dentro da sala. -Selim sorri e empurra a cadeira para trás fazendo um barulho alto.

Alguns alunos levantam a cabeça, outros sussurram pelo susto, mas o professor não move um único dedo, mais aparece uma estátua sentado na cadeira.

— Vou beber café. Você quer? -Selim sorri e sei que ele fez isso com a cadeira de propósito.

— Não. Obrigada.

As próximas duas horas passam em um piscar de olhos, mal tivemos tempo para respirar. Yaman continuou sentado, de olhos fechado e as vezes percebo um franzir de sobrancelhas.

— Vocês têm 30 minutos. Depois disso quero uma apresentação. -Yaman fala em um tom de voz calmo e baixo, o que é muito diferente da forma que ele costuma falar.

— Acho que terminamos. Quer repassar? -Selim estala os dedos e alonga a coluna. — Você é muito inteligente, ajudou demais. Se continuarmos fazendo dupla, as coisas vão ser muito mais fáceis.

Sinto minhas bochechas quentes pelo elogio. Desvio o rosto e meus olhos são atraídos para a mesa do professor. Ele está sentado ereto. Os olhos cerrados e focados em mim. Sua cabeça inclina levemente.

— Você fica depois da aula. Tenho algumas perguntas.

Apenas concordo com a cabeça. Não sei se estou pronta ou capacitada o bastante para passar pelas perguntas dele. Droga.

***

Conforme as apresentações foram acontecendo, os alunos foram saindo até sobrar apenas o professor e eu dentro da sala.

Todo o nervosismo volta com força total, ficar parada na frente dele enquanto ele me encara é uma tortura.

— Espero que Yusuf esteja bem. -Solto sem pensar.

Ele inclina a cabeça de lado e me observa sem falar uma única palavra.

— Kevser disse que ele não está indo na aula. Os dois são amigos.

O celular dele vibra sobre a mesa, tirando sua atenção de mim.

— Alô. -Alguém fala do outro lado. — São 7,5 ML do xarope e 28 gotas do remédio para febre... -Yaman confere o relógio. — Posso voltar se ele não estiver bem. Aliás, chego em casa em uma hora.

Ele desliga o celular, junta as folhas, enfiando tudo dentro da pasta.

— Conversamos amanhã. Preciso ir.

— Professor? -Chamo antes que ele saia.

Ele para na porta da sala e me olha por cima do ombro. Vou até ele e ofereço um frasco de analgésico. Ele apenas me olha.

— Eu percebi que você está com dor de cabeça desde que chegou. Isso vai ajudar.

Espero...

Espero...

Espero...

Por fim, Yaman concorda com a cabeça, pega o frasco das minhas mãos e olha o rótulo.

— Amanhã antes da aula eu converso com você. Esteja aqui uma hora antes.

Então ele sai a passos largos.

SEGUNDA CHANCEWhere stories live. Discover now