Capítulo 49

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SEHER

— Você precisa se acalmar. Eu vou te levar a UTI para ver ele. –Nedim segura minha mão de uma forma delicada. — Eu prometo que vou te ajudar, mas você precisa me ajudar também. Preciso que fique de olhos abertos e falando, será que pode fazer isso? Pode me ajudar ficando calma?

— Posso. Eu posso. Eu consigo.

— Ótimo, isso mesmo, muito bom.

As imagens de Nedim tentando reanimar Yaman martelam em minha cabeça junto com a dor constante. Quando foi que minha vida se transformou nesse pesadelo? Quando foi que tudo degringolou definitivamente e eu me transformei nesse amontoado de dor e sofrimento? Quando é que vou finalmente ter um minuto de paz?

— Vamos?

— Sim.

***

YAMAN

Assim que viro na direção em que Simal corre, sou acometido por uma miríade de sensações. Medo, alegria, nervosismo, espanto, confusão.

Minhas pernas se movem por vontade própria, primeiro caminhando debilmente e depois correndo, correndo em direção a pessoa, que, por anos senti tanta falta. Corro em direção aos braços abertos do meu irmão.

— Yalçin.

O calor de seu abraço toma conta do meu corpo, toma conta da minha alma, toma conta de mim por completo. Por quantas vezes sonhei com esse abraço? Por quantas vezes chorei lembrando como seria estar perto do meu irmão mais uma vez.

— Irmão, eu senti tanto a sua falta. –Seguro seu rosto entre minhas mãos tremulas. — Como você está aqui?

Ele é exatamente como me lembrava, os olhos escuros e expressivos, o sorriso tranquilo.

Meu Deus, como eu senti saudade.

— Você está um pouco diferente, Yaman. –Suas mãos apertam meus braços.

— Eu senti tanto a sua falta.

— Eu sei, eu sei, também senti muito sua falta, mas nós não temos muito tempo para conversar. Você precisa voltar, tem gente esperando por você. -O sorriso do meu irmão faz com que meu coração aperte dolorosamente dentro do peito.

— Você viu a Seher? E a Simal? E o Yusuf? Você viu o quanto ele cresceu? Você viu eles, irmão? -Viro e vejo as crianças ao longe, brincando, correndo um atrás do outro, as gargalhadas alegres invadindo meus ouvidos.

— Eu vi, eles são lindos. –Seu sorriso é gentil. — Mas preciso que preste atenção em mim.

— Claro, irmão. Aconteceu alguma coisa? Vamos para mais perto deles. –Seguro seu braço, mas sou impedido de continuar. — O que foi?

— Yaman, você não pode imaginar a alegria que eu estou sentindo em te ter perto de mim outra vez, você está tão feliz, tão cheio de vida, descobrindo coisas novas, está se permitindo viver, e é exatamente por esse motivo que você precisa voltar, aqui ainda não é o seu lugar.

— Como assim aqui não é o meu lugar? Yalçin, eu não estou entendendo. Eu tenho você, Seher e os meus filhos, eu não quero estar em nenhum outro lugar. -A dor na minha cabeça que até então estava esquecida, começa ficar mais intensa, forte ao ponto de encurtar minha respiração.

— Nós não temos muito tempo, Yaman, você precisa voltar para sua vida, precisa voltar para o seu lugar, ao lado da mulher que ama. Ela está esperando por você.

— Eu não entendo, ela está bem ali. -Aponto para o balanço que agora está vazio. — Seher, ela estava bem ali, estava com as crianças. SEHER. –A dor na cabeça começa a ficar insuportável, assim como a pressão esmagadora no meu peito.

— Irmão, você só precisa fechar os olhos e se concentrar, pense na sua Seher, pense em tudo o que vocês ainda têm pela frente. Algum dia você pode voltar para ficarmos todos juntos, todos nós, mas ainda é cedo demais, esse ainda não é o seu lugar. Vou estar esperando quando chegar a hora certa.

Mesmo não querendo, faço o que meu irmão manda. Fecho os olhos e imagino os olhos de Seher, seu sorriso, o som de sua risada, o toque suave de sua pele contra a minha, suas mãos percorrendo meus cabelos, o sabor de seus lábios.

A dor que esmaga minha cabeça e meu peito para por alguns segundos, então tudo fica escuro e frio como antes.

***

SEHER

— Yaman, você precisa acordar, estou sentindo tanto sua falta. –Sussurro segurando a mão inerte de Yaman. — Tenho uma coisa muito importante para te falar.

Levanto da cadeira que está ao lado da cama, beijo seu rosto.

— Demorei tempo demais para te encontrar e agora que encontrei, não posso te perder. Então você precisa se recuperar logo, eu estou aqui te esperando.

Já se passaram 25 dias desde que a cirurgia aconteceu, Yaman passou por alguns outros procedimentos, mas até agora não abriu os olhos. Nedim explicou que existe a possibilidade dele nunca mais acordar ou ser como era antes, mas eu sei que ele vai voltar.

Ele precisa voltar.

— Yaman, seu irmão esteve aqui algumas vezes. Eu precisei contar sobre o que aconteceu, então ele passou dias estudando seus exames, fazendo perguntas e avaliando todas os cenários, mas não precisa se preocupar, ele está bem, está cuidando muito bem do Yusuf também. Ikbal vem três vezes por dia, ela senta e fica lendo trabalhos e provas para você. Sabia que até o marido dela veio? Não cheguei a ver ele, mas imagino que seja uma pessoa maravilhosa. Meu pai também vem todos os dias. -Beijo sua bochecha. — O quarto estava cheio de balões e flores, mas o pessoal da limpeza disse que era proibido ter tantas coisas aqui dentro, então levaram quase tudo, pedi que deixassem os desenhos que as crianças fizeram, sei que vai gostar de ver eles quando acordar.

Observo o ritmo constante de seu peito, a respiração suave e contínua. Fico mexendo suas mãos e dedos, como a fisioterapeuta me orientou. Viro seu pulso de um lado para o outro, alongando a articulação.

— Olá, Seher, sou a enfermeira Berna, nos conhecemos ontem. É hora do banho de leito do seu marido, se você quiser ir comer alguma coisa ou ir descansar, pode ir tranquila, vou tomar conta dele até você voltar. -O sorriso cheio de marcas mostra que a enfermeira Berna já tem muitos anos de vida.

— Obrigada, eu vou comprar alguma coisa para comer e volto logo.

— Você precisa tomar muito cuidado com a alimentação nessa etapa da vida, faz toda a diferença no futuro.

— Vou só me despedir dele. -Passo a mão pela lateral do rosto de Yaman, sentindo sua barba contra minha pele. — Eu vou aparar a barba depois de voltar. Você pode deixar uma tolha e uma cuba para a água? -Beijo seu rosto. — A enfermeira Berna vai cuidar de você por alguns minutos. Não vou demorar. Eu te amo. -Beijo sua bochecha mais uma vez. — Você precisa voltar pra mim, Yaman, estou sentindo muito a sua falta.

Suspirando, viro em direção a saída do quarto.

— Seher ... –O sussurro baixo e quase inaudível faz meu coração saltar dentro do peito.

— Yaman...

SEGUNDA CHANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora