Capítulo 7

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— Falei para tomar cuidado. -Ele suspira fundo contra os meus cabelos, fazendo um arrepio percorrer minha coluna. — Parece que você vai precisar de mais aulas como essa.

— Meus dedos vão virar almofada de agulha. -Sussurro para mim mesma.

— O que disse? -Yaman segura minha mão entre as suas, tira o algodão e coloca um pequeno curativo. — Assim é melhor. É tudo uma questão de prática. -Ele não solta minha mão e me encara com os olhos escuros. — Você vai conseguir com o tempo.

— Uhum. Sim. Claro. Vou. -Meu afasto do seu toque. É difícil conseguir formar uma frase enquanto o cheiro do seu perfume está tão impregnado em mim. — A aula, logo alguém vai chegar.

Yaman confere o relógio e concorda com a cabeça.

— Sim, já devem estar chegando. -Ele vira de costas para mim e começa a organizar a mesa e os materiais mais uma vez. — A aula de hoje vai ser em dupla. Já sabe com quem vai praticar? Normalmente adquirimos afinidade com pessoas específicas e seguimos com esse colega até o final.

— Ainda não tive oportunidade de conversar com muitos dos meus colegas e a maioria deles já tem um vínculo formado a mais tempo, mas o Selim tem sido um grande apoio. Ele me ajudou muito nas últimas aulas e se ele não se importar, espero que seja minha dupla.

Espero por uma resposta, mas Yaman decidiu não falar mais, está parado de costas para mim e apenas solta uma respiração profunda.

— Você deveria ir para o seu lugar e estudar antes que a aula comece. Não vai ter mais regalias.

***

A aula foi difícil para todos. Yaman estava de péssimo humor e a turma sentiu isso na pele. Ele olhou com nojo para o trabalho de todos. Por sorte a professora Ikbal nos deu dicas valiosas, o que tornou tudo menos impossível, mas de qualquer forma, o trabalho de ninguém estava meramente aceitável para ele.

— O humor dele está pior do que o normal. -Selim encosta sua cadeira na minha e sussurra perto do meu ouvido para que apenas eu ouça.

Yaman empurra sua cadeira, fazendo um barulho horrível de ferro contra piso.

— QUERO VER VOCÊS TRABALHANDO. CHEGA DE CONVERSA. -Ele caminha até parar na frente da nossa mesa, seus olhos estão cerrados enquanto encara Selim. — Você deveria ser o melhor dessa turma. Você deveria fazer isso de olhos fechados. Você deveria fechar a boca e trabalhar com as mãos antes que eu perca a paciência com essa sua falta de responsabilidade. Refaça tudo, os três principais pontos. -Yaman aponta para a mesa de teste a nossa frente. — Isso aqui é uma vergonha. Meu filho dá um nó melhor que esse.

Selim fecha a mão em punho, os dois se encaram e a tensão é quase palpável, e, antes que Selim faça qualquer coisa para piorar ainda mais a situação, decido interferir.

— Professor. O ponto interno é feito da mesma forma que o externo continuo? Faço a junção dos tecidos e finalizando com o nó duplo? -Faço de tudo para que Yaman desvie o olhar de Selim.

— O ponto interno é contínuo e com fio absorvível. Você deveria saber, eu já falei duas vezes. -Seu olhar desvia de Selim para mim e eu não gosto do que vejo. Ele está com raiva, muita raiva.

Mas essa raiva toda não faz sentido, pouco tempo atrás ele estava conversando tranquilamente comigo. O que mudou em tão pouco tempo?

Será que ele é bipolar?

O que aconteceu?

— TODOS VÃO REFAZER AS TRÊS PRINCIPAIS SUTURAS. -Sua voz fica alta o bastante para que até a sala ao lado ouça. — VOCÊS TÊM EXATOS 30 MINUTOS PARA CONCLUIR A ATIVIDADE. 10 MINUTOS PARA CADA SUTURA. -Ele caminha dentro da sala. — QUEM NÃO CONSEGUIR CONCLUIR A ATIVIDADE VAI ME ENTREGAR UM ARTIGO CIENTÍFICO COMPLETO SOBRE NEUROCIÊNCIA. COMEÇANDO AGORA. 30 MINUTOS.

SEGUNDA CHANCEWhere stories live. Discover now