Capítulo 38

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YAMAN

Uma batida fraca na porta chama nossa atenção, vejo Ikbal colocando a cabeça pela abertura.

— Oi. Será que posso entrar?

— Ikbal. Claro que você pode entrar. -Sorrio para minha amiga.

Seher continua segurando minha mão, os olhos focados nos meus e eu percebo que não consegui escapar dessa conversa, ela está decidida a arrancar tudo de mim, palavra por palavra.

— Nedim ligou avisando que você havia acordado. Vim o mais rápido possível. É muito bom te ver de olhos abertos, querido. -Ela se aproxima da cama e toca no ombro de Seher. — Como você está, Yaman?

— Estou bem. Um pouco dolorido, mas bem.

— Seher me contou o que aconteceu. Você bateu a cabeça bem forte.

— Eu não lembro muito bem o que aconteceu. -Lembranças fragmentadas invadem minha cabeça. Cenas fora de contexto, deixando tudo desconexo.

— Eu não vou brigar ou dar sermão porque tenho certeza que você já ouviu ou vai ouvir um belo sermão. Mas chega de dar sustos. -Ikbal sorri para Seher e para mim. — Logo você vai voltar para casa e se precisar de qualquer coisa vai me ligar, não importa a hora. Ibrahim e eu temos um carinho enorme por você, Yaman. Você é parte da nossa família.

— Vou deixar vocês dois conversarem um pouco. Preciso comer alguma coisa. Volto logo. -Seher aproxima os lábios dos meus e de olhos fechados me beija delicadamente, apenas um roçar de lábios. — Estou com o celular na mão, qualquer mínima coisinha, me chame.

— Volta logo pra mim. -Acompanho Seher com os olhos até que a porta se fecha atrás dela.

Ikbal está me olhando atentamente, tem um sorriso divertido nos lábios.

— O que foi? -Levanto uma sobrancelha.

— Nada demais, só é bonito como você olha para ela. -Ela senta na cama ao meu lado. — Eu sei que não foi só uma queda ou um desmaio simples. O que está acontecendo de verdade com você?

Faço um esforço enorme para me sentar na cama. Leva alguns segundos para o quarto parar de girar e entrar em foco.

— Eu tenho um aneurisma. -Abro um sorriso fraco. — Descobri após alguns episódios de desmaio e dores de cabeça intensas. Parece que o quadro geral teve um agravamento nas últimas semanas ou meses.

— O que? Mas por qual motivo você ainda não operou? Por que isso ainda está na sua cabeça? Nedim não pode operar ainda hoje? Talvez amanhã? -Ikbal está com os olhos arregalados.

— Não é tão simples quanto parece, é um aneurisma grande em um lugar de difícil acesso.

— Eu sei que uma cirurgia desse calibre não é uma coisa simples, mas você está andando com uma bomba relógio dentro da cabeça. Precisa resolver o quanto antes.

— Eu não vou deixar ninguém abrir minha cabeça.

— O que?

— Esse aneurisma é extenso, perigoso e extremamente sensível. Qualquer mínimo movimento errado vai me matar ou me deixar em estado vegetativo para o resto da minha vida, então eu não vou deixar ninguém abrir minha cabeça e correr esse risco.

— Mas Yaman...

— A chance de morrer na mesa de cirurgia são superiores a 90%. A chance de ficar em estado vegetativo são maiores que 98%. Então não existe a mínima possibilidade de aceitar uma cirurgia. Minha família precisa de mim.

— Sua família realmente precisa de você, Yaman. Mas precisam de você vivo. -Ikbal levanta da cama e me olha de cima para baixo. — Você realmente acha que vai conseguir se manter em pé por mais quanto tempo? Você realmente acha que vai conseguir ver seu filho se formar na escola? Ou então você acha que vai conseguir abraçar seu irmão nos momentos em que ele se sentir perdido? Será que você vai querer que aquela menina chore em cima do seu caixão? Quer que ela fique completamente despedaçada vendo que o homem que ela está apaixonada morreu por não aceitar um tratamento? -Ikbal aponta na direção que Seher saiu.

SEGUNDA CHANCEWhere stories live. Discover now