Capítulo 23

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YAMAN

Seher saiu para almoçar com os amigos e eu continuei sentado. Pensando. Imaginando.

Por quantas vezes senti raiva de Selim? Por quantas vezes senti vontade de causar nele toda a dor que ele me causou por tantos anos? Por quantos anos suporto sua presença sem me deixar levar pela mágoa e raiva?

Afundo as mãos nos cabelos e os puxo, buscando na dor física um conforto para a dor do meu coração.

Eu prometi a mim mesmo, 5 anos atrás que iria me responsabilizar por tornar esse rapaz uma pessoa boa, prometi que ele teria uma segunda chance nessa vida. Mesmo me causando a pior dor do mundo eu me tornei o suporte que ele precisava para ser alguém respeitável.

Fikret, pai dele é a única pessoa que compartilha esse segredo comigo e após uma longa conversa, juramos que essa história ficaria enterrada para sempre.

Mas agora as coisas são diferentes. Tudo o que julguei de errado nele em relação a Seher, recaiu sobre meus ombros. Afinal de contas os dois tem praticamente a mesma idade. São apropriados um para o outro. Sou eu o errado nessa história toda.

Que tipo de homem eu sou? Que tipo de pessoa eu me tornei? Eu que sempre prezei por fazer tudo certo. Que construí uma vida e uma carreira impecáveis me deixei levar por um sentimento alarmante. Um desejo esmagador. E aos 40 anos de idade me deixei levar como nunca antes na vida. Praticamente seduzi uma aluna, uma menina inocente que aceitou tudo o que eu quis fazer de abraços abertos.

— Eu sou realmente um papa-anjo. -Um gemido de frustração atravessa meu peito.

Julguei Selim quando percebi que sentia atração por Seher, condenei suas investidas, mas em momento algum me cobrei por ter feito o que fiz. Jamais me cobrei por tirar a inocência dela, jamais tentei me parar.

Duas batidas na porta me arrancam do torpor e dos pensamentos depreciativos.

— Entre.

Ikbal entra, sorri para mim e fecha a porta atrás de si. Ela é tão pequena que poderia facilmente ser confundida com uma criança de 15 anos.

— Yaman querido. Pensei que seria bom revisarmos o conteúdo da palestra. -Ela puxa uma cadeira e senta à minha frente. Então me olha e franze a sobrancelha. — Mas você não parece estar bem. Aconteceu alguma coisa?

— Estão falando outra vez sobre aqueles boatos envolvendo você e eu e termos um relacionamento. Vou conversar com o reitor e ele pode tomar as medidas cabíveis para encerrar o assunto. Mas não é só sobre isso, eu tive uma revelação sobre mim mesmo a poucos minutos.

— Quer conversar sobre isso?

— Posso fazer uma pergunta? -Me recosto na cadeira e esfrego o rosto, sentindo a barba arranhar a palma das minhas mãos.

— Claro, se eu puder responder. -Ikbal aproxima a cadeira da mesa e cruza as pernas. — O que quer perguntar?

— Que tipo de pessoa eu sou?

— Yaman, querido, não entendi. Como assim que tipo de pessoa você é?

— Como você me vê? Como as pessoas me veem?

— Você é um profissional excepcional. Um colega de trabalho admirável. Um pai dedicado. Você é uma pessoa muito especial, Yaman. Você se preocupa com o próximo.

— Eu julguei uma pessoa por seus sentimentos, julguei muito mal, fiz suposições e no final quem estava totalmente errado era eu.

— Eu não posso ajudar sem saber o que realmente aconteceu, mas imagino que não queira compartilhar essa história comigo, então o que posso dizer é que o homem que apoiou meu marido e a mim no momento mais difícil das nossas vidas jamais seria capaz de fazer mal a alguma pessoa. Yaman, você nos entendeu a mão e providenciou tudo para que o processo fosse o menos doloroso possível, esse é o homem que eu vejo. Um homem bom. E se você cometeu um erro, pode se desculpar e acertar as coisas, mas não fique com coisas erradas na cabeça. Não se torture com o que pode ser mudado. -Ikbal levanta e sorri. — Vamos almoçar e tomar um café, um pouco de ar fresco vai fazer bem a nós dois.

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